O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforçou nesta segunda (8) as críticas às políticas internacionais do seu homólogo norte-americano Donald Trump, durante uma reunião do Brics convocada por ele por videoconferência, em Brasília. O encontro virtual teve como objetivo defender a consolidação do bloco como alternativa ao unilateralismo e à “chantagem tarifária” que, segundo ele, ameaça a soberania de países emergentes.
Na abertura do encontro, que durou cerca de uma hora e meia e contou com líderes de China, Rússia, Índia, África do Sul, Irã, Egito, Indonésia, Emirados Árabes Unidos e Etiópia, Lula afirmou que os pilares da ordem internacional estão sendo corroídos sob Trump, mas sem citá-lo nominalmente.
“Os pilares da ordem internacional criada em 1945 estão sendo solapados de forma acelerada e irresponsável. […] A chantagem tarifária está sendo normalizada como instrumento para conquista de mercados e para interferir em questões domésticas”, disse.
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Lula exerce atualmente a presidência rotativa do Brics e vem criticando repetidamente as investidas tarifárias de Trump contra dezenas de países do mundo, em especial os do Brics, que entraram na mira do líder dos Estados Unidos após a reunião de cúpula realizada em julho, no Rio de Janeiro. O encontro desta segunda (8) também serviu como preparação para a 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que será realizada a partir do dia 23 em Nova York.
O petista ainda criticou a possibilidade de Trump aplicar tarifas secundárias a países que têm relações comerciais com a Rússia – membro fundador do Brics –, o que pode atingir diretamente o Brasil. Para ele, essas medidas “restringem nossa liberdade de fortalecer o comércio com países amigos”.
“Em poucas semanas, medidas unilaterais transformaram em letra morta princípios basilares do livre-comércio como as cláusulas de Nação Mais Favorecida e de Tratamento Nacional. Agora assistimos ao enterro formal desses princípios. Nossos países se tornaram vítimas de práticas comerciais injustificadas e ilegais”, ressaltou.
O presidente brasileiro também citou números para justificar o que considera como uma força do bloco na geopolítica internacional, como a participação de 40% do PIB global, 26% do comércio internacional e quase 50% da população mundial. Lula defendeu que o Brics tem legitimidade para “liderar a refundação do sistema multilateral de comércio em bases modernas, flexíveis e voltadas às nossas necessidades de desenvolvimento”.
“O unilateralismo jamais conduzirá à realização dos propósitos de paz, justiça e prosperidade que nossos antecessores delinearam em 1945. O Brics já é o novo nome da defesa do multilateralismo”, pontuou.
O discurso de Lula foi marcado, ainda, por menções a conflitos internacionais e a questões humanitárias. Ele criticou a guerra na Ucrânia e defendeu uma solução negociada que leve em conta “as legítimas preocupações de segurança de todas as partes”.
Também como afirma repetidamente em seus discursos, o petista condenou a decisão de Israel de assumir o controle da Faixa de Gaza e a ameaça de anexar a Cisjordânia. Para ele, é “urgente colocar fim ao genocídio em curso e suspender as ações militares nos Territórios Palestinos”, afirmou emendando que o Brasil decidiu entrar como parte da ação da África do Sul na Corte Internacional de Justiça contra o país judeu.
“Reiterar o compromisso com a Solução de Dois Estados estará no centro da atuação brasileira na Conferência de Alto Nível para a Solução Pacífica da Questão Palestina. No vazio de tantas crises não solucionadas, o terrorismo continua a assombrar a humanidade. O Brasil repudiou o sequestro e assassinato de inocentes pelo Hamas, bem como os atentados na Caxemira”, seguiu na crítica.
Além da preparação para a Assembleia Geral da ONU, Lula ressaltou as tratativas para a Cúpula de Líderes do G20 e a COP 30, marcadas para novembro.
Fonte: Gazeta