O relatório final da Polícia Federal revelou trocas de mensagens no aplicativo WhatsApp entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). As conversas expõem tensões e até ofensas diretas por parte de Eduardo contra o pai. A PF indiciou os dois nesta quarta-feira (20) por obstrução do processo sobre a suposta tentativa de golpe de Estado.
As mensagens, recuperadas do celular de Bolsonaro apreendido em 18 de julho, detalham um cenário de atrito político e pessoal, especialmente em torno da figura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Nas últimas semanas, Eduardo criticou as tentativas de Tarcísio para negociar o tarifaço imposto pelos Estados Unidos.
Bolsonaro concedeu uma entrevista ao portal Poder360 em 15 de julho. Na ocasião, o ex-presidente minimizou o embate do filho com o governador paulista e disse que o filho, de 41 anos, não era tão “maduro”. “Eu ia deixar de lado a história do Tarcísio, mas graças aos elogios que você fez a mim no Poder360 estou pensando seriamente em dar mais uma porrada nele, para ver se você aprende”, disse o deputado ao ex-presidente.
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“VTNC SEU INGRATO DO CARALHO! Me fudendo aqui! Vc ainda te ajuda a se fuder aí! (sic)”, acrescentou Eduardo. O parlamentar expressou receio de que as falas do pai pudessem “impactar negativamente sua posição e suposta influência no exterior”.
“Se o IMATURO do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui, PORQUE VC ME JOGA PRA BAIXO, quem vai se fuder é vc E VAI DECRETAR O RESTO DA MINHA VIDA NESTA PORRA AQUI!”, disse Eduardo.
“Em seguida, EDUARDO encaminha um áudio que também não pôde ser recuperado. O deputado realiza então outros dois comentários: ‘quero que vc olhe para mim e enxergue o Temer’, ‘vc falaria isso do Temer?’. A pergunta aparentemente tem como referência a fala do ex-Presidente em entrevista ao jornal Poder360 quanto à maturidade política do filho”, disse a PF no relatório.
Irritação de Eduardo com Bolsonaro por relação com Tarcísio
Os diálogos, que compreendem o período de 13 de junho de 2025 a 17 de julho de 2025, indicam a preocupação de Eduardo Bolsonaro com o avanço da “narrativa de Tarcísio te sucedendo”. Em uma conversa de 24 de junho de 2025, Eduardo sugere, em tom aparentemente irônico, que seria “melhor ficar de fora” da corrida presidencial e que Tarcísio “dialoga muito bem”, podendo “anistiar geral”, e que o Supremo Tribunal Federal (STF), “que sempre foi nosso aliado”, não seria um “óbice” a essa anistia.
Ele também questiona o pai se ele teria conhecimento de que “tudo iria cair na sua conta” e que o “futuro dos seus netos” seria “falar inglês mesmo”. A irritação de Eduardo se tornou mais explícita em mensagens que criticavam a percepção de alinhamento de Bolsonaro com o governador.
Em 11 de julho de 2025, o deputado disse ao pai: “Só para te deixar ciente: Tarcísio nunca te ajudou em nada no STF. Sempre esteve de braço cruzado vendo vc se fuder e se aquecendo para 2026”.
“Aqui nos EUA tivemos que driblar a ideia plantada aqui pelos aliados dele, de que ‘Tarcísio = Bolsonaro’, uma clara mensagem de que os EUA não precisariam entrar nesta briga, pois com TF (Tarcísio) ou vc Trump teria um aliado na presidência do Brasil em 2027”, disse Eduardo.
“Agora ele quer posar de salvador da pátria. Se o sistema enxergar no Tarcísio uma possibilidade de solução, eles não vão fazer o que estão pressionados a fazer. E pode ter certeza, uma ‘solução Tarcísio’ passa longe de resolver o problema, vai apenas resolver a vida do pessoal da Faria Lima”, acrescentou.
A Polícia Federal destaca que esses diálogos revelam não apenas as divergências familiares e políticas, mas também o planejamento e a coordenação de ações com o objetivo de “coagir” autoridades públicas e interferir no curso da ação penal sobre a suposta tentativa de golpe de Estado, na qual o ex-presidente é réu.
Após as queixas, Bolsonaro realizou um novo pronunciamento mais favorável ao filho, e Eduardo, por sua vez, pediu desculpas ao pai, alegando que “estava puto na hora”.
Malafaia chama Eduardo de “babaca”
As mensagens da Polícia Federal revelam que o pastor Silas Malafaia expressou descontentamento com a forma utilizada por Eduardo na divulgação das tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos ao Brasil. Em um áudio enviado a Bolsonaro, Malafaia criticou o deputado, chamando-o de “babaca” por “falar merda” e por um “discurso nacionalista” que, na visão do pastor, não era apoiado pelo ex-presidente.
O líder religioso chegou a relatar ter dado um “esporro” em Eduardo por áudio, ameaçando-o de “arrebentar” com um vídeo público caso ele repetisse certas atitudes. Malafaia também mencionou ter recebido uma ligação de um jornalista sobre uma “suposta ‘discussão violenta’” entre o ex-presidente e o filho.
“Um estúpido de marca maior. ESTOU INDIGNADO! Só não faço um vídeo e arrebento com ele porque por consideração a você. Não sei se vou ter paciência [de] ficar calado se esse idiota falar mas [mais] alguma asneira”, disse o pastor ao ex-presidente.
Apesar das críticas, Malafaia reconheceu o papel ativo de Eduardo Bolsonaro junto a autoridades norte-americanas e aos “principais assessores de Donald Trump”, creditando a ele a capacidade de “conseguir produzir isso tudo aí que o TRUMP tá fazendo”.
Ele também aconselhou Bolsonaro sobre a linha de discurso a ser adotada por seus filhos, elogiando o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) por um discurso sobre a aprovação da “anistia” em troca do fim do tarifaço, em contraste com o que considerava um “discurso nacionalista” de Eduardo.
“Dá parabéns ao Flávio, pô! Falou certo, cacete, na GloboNews. Eu não sou a favor da taxação, não, mas tem que sentar pra conversar sobre anistia. Pô, tudo na carta do Trump é pra você. Toda a arrombada que o Trump deu no mundo é sobre economia. Com o Brasil é sobre você. A faca e o queijo está na tua mão, cacete! E nós não podemos perder isso, pô!”, afirmou Malafaia.
Fonte: Gazeta