Ainda não é tempo de campanha, mas a passagem do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), por Curitiba (PR) nesta sexta-feira (8) reuniu elementos típicos da agenda eleitoral de um candidato a presidente da República: entrevistas em estúdio, encontro com lideranças políticas, palestra na associação comercial local, almoço com o governador e evento do partido — este último ocorrerá durante a noite. Só faltou o comício.
Onde pisou, o governador mineiro esteve cercado de apoiadores e lideranças no campo da direita, incluindo Deltan Dallagnol (Novo) e o vice-prefeito de Curitiba, Paulo Martins, que deixa o PL e se filia ao Novo nesta sexta-feira na presença de Zema — Martins, aliás, foi o cicerone de Zema na capital paranaense. Até mesmo o deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS) apareceu para prestigiar o colega de partido.
Zema lançará oficialmente a pré-candidatura à Presidência da República no próximo dia 16 de agosto. Não foi mais rápido que o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que se lançou em abril. Ao contrário deste, o mineiro tem buscado os holofotes para se posicionar não só como um representante legítimo da direita, como também um crítico feroz do PT e do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — ele não tem se furtado a dar entrevistas a inúmeros veículos de comunicação.
Nessas entrevistas e nas redes sociais, sem filtro, ele culpou Lula pelo tarifaço de Donald Trump, defendeu a saída do Brasil do Brics, pediu anistia aos presos do 8 de janeiro e condenou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pela tornozeleira eletrônica e prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
São passos seguidos também por outros governadores presidenciáveis, como o próprio Caiado, além de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ratinho Junior (PSD-PR), mas sem tanta contundência. O governador paranaense, com quem tenta desenhar uma aliança no cenário local via Paulo Martins, tem se esquivado de acenos diretos aos apoiadores de Bolsonaro. Tarcísio, por sua vez, até o faz, mas não confirma uma pré-candidatura à Presidência, apesar de ser o nome mais forte nas sondagens eleitorais para enfrentar Lula em 2026.
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Romeu Zema tenta melhorar aproximação com eleitores de Bolsonaro
Zema nunca foi muito próximo de Bolsonaro, mas sabe que precisa dialogar com o eleitorado dele para alavancar sua candidatura ao Palácio do Planalto. Por isso, se coloca como opção, mas sem descartar o ex-presidente, que ainda não desistiu — ao menos publicamente — de tentar de novo a Presidência da República no ano que vem. E também sem querer demonstrar ser o detentor natural do espólio de Bolsonaro.
“O partido [Novo], eu e o próprio presidente Bolsonaro enxergamos que termos alguns candidatos pela direita é o melhor para a direita, já que mais candidatos trarão, sim, mais votos. Candidatos que são conhecidos no Sul, no Centro-Oeste e no Sudeste, tudo isso vai contribuir para a direita ter boa uma votação no primeiro turno e também conseguir transferir uma parte considerável desses votos para o segundo turno”, disse Zema na saída do evento que participou na Associação Comercial do Paraná (ACP).
O ponto da direita ter mais de um candidato não é divisão da direita, é sim uma demonstração da força da direita.
Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais
O governador de Minas Gerais esteve ao lado de Bolsonaro nas manifestações na Avenida Paulista, em São Paulo, neste ano. Entretanto, nos atos que ocorreram no último domingo (4) em todo o Brasil em apoio ao ex-presidente e em desagravo a Alexandre de Moraes, Zema não foi — os outros governadores presidenciáveis também não. Isso gerou críticas dos apoiadores mais próximos de Bolsonaro. “Cadê aqueles que dizem ser a opção no lugar de Bolsonaro?”, questionou o pastor Silas Malafaia.
Ao seu modo, Romeu Zema não pretende bater de frente com quem tem se aproximado nos últimos anos, notadamente os governadores de São Paulo e Paraná, com quem divide pautas de oposição ao governo federal no âmbito do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud). O almoço com Ratinho Junior é um sinal do cuidado para não arranhar relações que podem ser importantes em 2026. Para ele, é a direita que sai ganhando. “O ponto da direita ter mais de um candidato não é divisão da direita, é sim uma demonstração da força que a direita tem”, falou.
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Zema é pouco lembrado nas pesquisas eleitorais
A antecipação do lançamento da pré-candidatura foi, segundo Zema, uma opção de seu partido. “Eu, que sou soldado do partido Novo, estou sempre pronto para assumir qualquer desafio”, afirmou. O tempo mais alongado até o pleito de 2026 dá ao governador mineiro uma oportunidade para se mostrar ao eleitorado brasileiro e romper a barreira estadual.
Nas pesquisas mais recentes, Zema não tem aparecido com destaque. No levantamento do Datafolha de 2 de agosto, ele não passa de 7% nos sete cenários estimulados — quando os nomes dos candidatos são apresentados ao eleitor — e fica bem abaixo de Lula, Bolsonaro, Michelle Bolsonaro (PL), Eduardo Bolsonaro (PL), Flávio Bolsonaro (PL), Geraldo Alckmin (PSB) e Fernando Haddad (PT). Dependendo dos nomes, também vê Ratinho Junior mais longe.
Em um eventual segundo turno contra Lula, ele iria a 36%, contra 46% do petista, sendo mais competitivo do que Caiado e os irmãos Flávio e Eduardo Bolsonaro. Nada que possa assustar quem se elegeu governador de Minas Gerais em 2018 na primeira incursão ao mundo político. “Foi uma disputa de tubarões contra um lambari”, classificou nesta sexta-feira. Na ocasião, ele deixou para trás o então governador Fernando Pimentel (PT) e venceu no segundo turno Antônio Anastasia, na época no PSDB.
A motivação daquele momento, aliás, é semelhante a de agora. Em 2016, quando Romeu Zema decidiu deixar a linha de frente dos negócios da família, o fez porque ficou “inconformado e indignado” com a administração petista no estado. Quase 10 anos depois, mantém o mesmo objetivo, mas em Brasília: “tirar o PT que está fazendo o Brasil virar uma Venezuela.”
- Metodologia da pesquisa citada: Datafolha ouviu 2.004 eleitores em 130 municípios nos dias 29 e 30 de julho, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Fonte: Gazeta