Um gesto de apoio público ao senador Efraim Filho (União Brasil-PB), pré-candidato ao governo da Paraíba, protagonizado pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) dividiu opiniões sobre um possível fortalecimento de pontes da família Bolsonaro com o Centrão. Durante a inauguração da nova sede do PL na Paraíba, no último dia 25, Michelle chamou Efraim de “futuro governador da Paraíba”.
Michelle vem consolidando seu papel de articuladora política do campo conservador e ampliando sua influência sobre partidos do Centrão, bloco considerado decisivo para as eleições de 2026.
Após o evento do PL, o senador, que é líder do União no Senado, comunicou a decisão de entregar cargos indicados ao governo Lula. “Os cargos estão à disposição. São duas pessoas, duas indicações aqui na Paraíba, na Codevasf e nos Correios. São cargos técnicos, nem são políticos. O mesmo governo que nomeia é o mesmo que exonera”, afirmou o Efraim à rádio CBN João Pessoa. Apesar da entrega dos cargos, os nomes indicados pelo senador seguiam à frente das superintendências dos órgãos na Paraíba, até o fechamento da reportagem.
As indicações geralmente são feitas por políticos para acomodar aliados em cargos estratégicos nos seus estados. A Superintendência Regional da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) é o órgão responsável pela distribuição de equipamentos e ações regionais, o que garante influência sobre lideranças locais. Esses equipamentos, como tratores, retroescavadeiras, caminhões e cisternas, são destinados principalmente às áreas de infraestrutura rural, abastecimento de água e apoio à agricultura familiar, fortalecendo a atuação política junto a prefeituras e comunidades beneficiadas.
Entre as análises, o episódio foi interpretado como uma vitória política do núcleo de Bolsonaro e sinal de que Michelle é capaz de abrir portas importantes no Centrão. Mas também há analistas que avaliam que se trate de um caso pontual, baseado na conjuntura da Paraíba. No estado, o PL deve lançar o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga para uma das vagas ao Senado na chapa encabeçada por Efraim Filho, que deve sair candidato ao Palácio da Redenção, sede do governo estadual.
O movimento ocorre em um momento de tensão entre o União Brasil e o Palácio do Planalto. Após o anúncio de Efraim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PL) reuniu ministros da sigla para cobrar maior alinhamento político. Procurados pela Gazeta do Povo, a liderança do União na Câmara e o senador Efraim Filho não responderam às perguntas enviadas.
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Interdependência estratégica com o Centrão ou aliança pontual?
O cientista político Paulo Kramer avalia que Jair Bolsonaro, mesmo inelegível, continua sendo o polo gravitacional da direita, mas depende da sintonia com o Centrão.
“Bolsonaro sabe que o Centrão depende da popularidade dele, mas sabe também que não pode perder o apoio do Centrão, sob o risco de se tornar, digamos, ‘menos relevante’ à medida que as eleições de 2026 se aproximam. Parecem-me atados no dilema do me-solta-que-eu-te-largo…”, afirma Kramer.
Para ele, gestos de cortesia e apoio mútuo devem se repetir em outros estados. “Essa interdependência passa por ocasionais gestos de boa vontade e cortesia de parte a parte, bem como por demonstrações de que quem manda na direita ainda é o capitão”, completa o cientista político.
O estrategista político Gilmar Arruda, no entanto, avalia que se trata de um “jogo local” e que a sinalização de Michelle não indica que Bolsonaro deve ceder para o Centrão.
“Tudo indica que ambos [Bolsonaro e Centrão] caminharão para sentidos opostos. Em cada estado você tem uma força política e as alianças não são um indicativo de que Bolsonaro vai compor no plano federal, seja qual for o partido que representa essas forças nos estados”, disse Arruda.
O analista político e diretor de operações do Ranking dos Políticos, Luan Sperandio, reforça a interpretação de que a movimentação na Paraíba é mais estrutural do que conjuntural. “A estratégia é liberar a vaga para ter apoio”, avalia Sperandio, ao se referir à composição da chapa que deve concorrer nas eleições de 2026 no estado.
Michelle pode ter papel determinante em 2026
Embora Michelle negue oficialmente a intenção de disputar a Presidência, as menções de seu nome ao Senado no Distrito Federal são vistas como um projeto possível. A possibilidade foi reforçada pelo anúncio de mudança de domicílio eleitoral feito nesta semana. Michelle deixou de ser eleitora no Rio de Janeiro e retornou seu título eleitoral para Brasília (DF).
No cenário em que Jair Bolsonaro está fora da disputa presidencial em 2026, pela inelegibilidade imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Michelle desponta como um nome capaz de unificar a base conservadora e construir pontes com outras legendas. Essa capacidade de articulação pode ser o fator determinante para a direita chegar fortalecida às urnas no próximo ano.
Para o estrategista político Gilmar Arruda, no entanto, a aproximação maior pode ser verificada entre o PL e o PP. “O Progressistas é mais inclinado ao Bolsonaro que o União”, ponderou Arruda. Em abril, o União Brasil e o Progressistas anunciaram uma federação.
Lideranças da federação tem encampado discursos críticos ao governo Lula e cada vez mais alinhados à oposição, embora não tenham entregado os cargos que ocupam em pelo menos quatro ministérios. Assim, Arruda pondera que há chance de o PL estar com a federação em 2026, mas que o ex-presidente não deve apoiar uma eventual candidatura desses partidos.
Fonte: Gazeta
