O tarifaço decretado na quarta-feira (30) pelo presidente norte-americano, Donald Trump, afeta até 60% das exportações do Brasil aos Estados Unidos, segundo três estimativas independentes.
Conforme a ordem executiva assinada por Trump, produtos que até então eram tarifados em 10% vão receber uma sobretaxa de 40%, levando a alíquota total a 50%. A medida entra em vigor na próxima quarta-feira, 6 de agosto.
O decreto, porém, traz uma lista de exceções que ficarão de fora do tarifaço. São 694 produtos que continuarão com a taxação atual, sem aumento. Estima-se que eles representem de 40% a 45% das receitas de exportação do Brasil no comércio com os EUA.
Portanto, pouco mais da metade das exportações – algo entre 55% e 60% do que as empresas brasileiras vendem ao mercado norte-americano – serão afetadas pelo tarifaço.
Produtos como petróleo, aviões e suco de laranja não serão sobretaxados. Mas outros itens relevantes na pauta, como café e carnes, ficarão submetidos à taxa de 50% ao entrar nos EUA (clique aqui para conferir a lista de exceções).
Pelos cálculos do Bradesco, a aplicação linear de 50% a todos os produtos, exceto petróleo, provocaria impacto máximo de US$ 15 bilhões na balança comercial brasileira em 12 meses. Com a lista de exceções, o banco reduziu a estimativa para US$ 9,4 bilhões.
“Dizemos tratar-se de impactos máximos, pois as simulações não supõem redirecionamento das exportações para novos mercados, tampouco que parte dos custos de produção possa ser absorvida pelos exportadores, além de conter alguma incerteza nos cálculos das elasticidades-preço da demanda”, afirma o Bradesco, em nota.
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Produtos livres do tarifaço representam US$ 18,4 bilhões em receitas
Segundo a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), os produtos brasileiros que escaparam do tarifaço representaram US$ 18,4 bilhões em receitas de exportação aos Estados Unidos em 2024, o equivalente a 43,4% do total vendido àquele país.
A Leme Consultores, por sua vez, calcula que as mercadorias livres da alíquota de 50% representam 44,6% do que o Brasil vendeu aos EUA no ano passado. E a BMJ Consultoria estima que a lista de exceções engloba aproximadamente 40% das exportações brasileiras ao país de Trump.
“Embora essas exceções atenuem parcialmente os efeitos da tarifa de 50% anunciada, a Amcham reforça que ainda há um impacto expressivo sobre setores estratégicos da economia brasileira”, diz a Câmara Americana, em nota. “Produtos que ficaram de fora da lista continuam sujeitos ao aumento tarifário, o que compromete a competitividade de empresas brasileiras e, potencialmente, cadeias globais de valor.”
Ainda segundo a Amcham Brasil, cerca de um terço do comércio entre os dois países é feito por empresas do mesmo grupo econômico. Ou seja, são transferências de mercadorias – insumos ou produtos acabados – feitas de matriz para filial ou vice-versa.
“O dado evidencia o importante grau de integração produtiva entre os dois países, especialmente em setores estratégicos como tecnologia, energia, saúde e indústria de transformação”, afirma a entidade.
Os principais produtos que escaparam do tarifaço de Trump
Segundo a Amcham, os principais produtos exportados pelo Brasil que entraram para a lista de exceções – e, portanto, escaparam do tarifaço – são os seguintes:
- Petróleo bruto com 25º API ou mais – US$ 4,97 bilhões importados pelos EUA do Brasil em 2024
- Ferro-gusa não ligado – US$ 1,54 bilhão
- Petróleo bruto com até 25° API – US$ 1,51 bilhão
- Celulose não conífera – US$ 1,34 bilhão
- Aeronaves até 15.000 kg – US$ 1,07 bilhão
- Gasolina leve – US$ 787 milhões
- Óleos combustíveis – US$ 786 milhões
- Aeronaves acima 15.000 kg – US$ 752 milhões
- Suco de laranja não concentrado – US$ 663 milhões
- Minério de ferro aglomerado – US$ 421 milhões
Fonte: Gazeta