O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), falou sobre as medidas anunciadas pelo governo do homólogo americano, Donald Trump, em rara entrevista ao jornal The New York Times (NYT), dois dias antes da tarifa de 50% sobre importações brasileiras entrar em vigor.
Questionado sobre o que poderia ser usado para negociar com a gestão republicana, já que o petista disse que interferências no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro eram “inegociáveis”, Lula focou em falar de diplomacia e acusou Trump de usar a relação comercial entre os países numa briga política.
Segundo o presidente Lula, “é nisso que espero que ele [Trump] reflita. Sinceramente, não sei o que ele ouviu sobre mim. Mas se ele me conhecesse, saberia que sou 20 vezes melhor que (Bolsonaro)”, declarou o petista ao jornal.
O governante do Brasil disse que tentou marcar conversas com o líder da Casa Branca, mas foi ignorado. “O que impede isso é que ninguém quer conversar. Pedi para entrar em contato. Designei meu vice-presidente, meu ministro da Agricultura, meu ministro da Economia, para que cada um possa conversar com seu homólogo e entender qual seria a possibilidade de diálogo. Até agora, não foi possível”, afirmou.
Lula ressaltou que, após as tentativas de diálogo, só soube da imposição de uma tarifa por meio da publicação de Trump do dia 9. Diante disso, o presidente brasileiro disse que aguarda “civilidade” na relação Brasil-EUA. “O tom da carta de Trump é definitivamente o de alguém que não quer conversar”.
O petista afirmou não ter medo de Trump, apesar de ter demonstrando “receio” com os impactos da medida para os brasileiros e a economia nacional. O governante foi enfático na entrevista dizendo que não colocaria o Brasil em uma posição inferior na negociação.
“Isso não se consegue estufando o peito e gritando sobre coisas que não se pode realizar, nem abaixando a cabeça e simplesmente dizendo ‘amém’ a tudo o que os Estados Unidos desejam”, disse. A dois dias do tarifaço entrar em vigor, os dois líderes ainda não se falaram.
Lula diz que Bolsonaro está sendo julgado com “pleno direito de defesa”
Em um trecho da entrevista, Lula afirmou que Trump tornou o povo brasileiro e o povo americano vítimas de sua política tarifária com fins políticos.
Segundo o petista, os cidadãos não merecem pagar mais por alguns produtos por causa do processo contra o ex-presidente Bolsonaro. Lula declarou que o Brasil possui uma Constituição e “o ex-presidente está sendo julgado com pleno direito de defesa”.
Em um tom combativo, o presidente do Brasil afirmou ainda que, se Trump buscar uma briga política, “então vamos tratá-la como uma briga política. Se ele quer falar de comércio, vamos sentar e discutir comércio. Mas não se pode misturar tudo”.
Relação “extraordinária” com a China
Em outro momento da entrevista, o petista disse que, caso os Estados Unidos não queiram continuar fazendo negócios com o Brasil, o país irá procurar novos parceiros comerciais.
Ao jornal americano, Lula disse que mantém uma “relação extraordinária” com a China, país com o qual Washington negocia outro acordo após meses de guerra comercial. “Se os Estados Unidos e a China quiserem uma Guerra Fria, não aceitaremos. Não tenho preferência. Tenho interesse em vender para quem quiser comprar de mim – para quem pagar mais”.
Fonte: Gazeta