O ex-presidente Michel Temer afirmou repudiar as sanções dos EUA contra o Brasil. Para ele, o tarifaço americano é “despropositado” e o cancelamento dos vistos de oito dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) é “lamentável, injustificável e inadmissível”. O pronunciamento foi feito em vídeo publicado na sua conta na rede social X nesta quarta-feira (23).
Temer foi o responsável por indicar Alexandre de Moraes ao posto de ministro do STF em 2017. Atualmente, Moraes está no centro da crise diplomática entre o Brasil e os Estados Unidos. Isso se deve ao fato de que o presidente americano, Donald Trump, considera que o ministro promove uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em sua fala, apesar de considerar inadmissíveis as sanções dos EUA, Temer afirmou que tal situação não se resolve com “bravatas” e “agressões”. Para ele, a solução deve se dar por meio do diálogo, “especialmente entre nações parceiras”. E apontou que isso deve ocorrer por meio “da diplomacia tradicional, pelo contato dos legislativos e pela interlocução entre os chefes dos respectivos governos”.
Sem citar o presidente Lula, Temer alertou que o momento exige “experiência” e “ações responsáveis”. E disse considerar este um “tempo sombrio”, no qual é preciso executar um “cálculo estratégico” para evitar que a situação se transforme “em uma espécie de briga de rua” entre compatriotas e também entre nações.
Passo a passo da crise
No último dia 6, Trump ameaçou taxar “qualquer país que se alinhasse às políticas antiamericanas do Brics”. A fala foi feita após uma reunião do bloco que reúne países como Brasil, China, Rússia e Índia. No dia seguinte, Lula criticou o presidente americano, afirmando que não aceitaria “intromissão de quem quer que seja nas nossas decisões soberanas”.
“Não aceitamos nenhuma reclamação contra a reunião do Brics. Não concordamos quando o presidente dos Estados Unidos insinuou que vai taxar os países do Brics”, disse Lula.
Nesse mesmo dia, no entanto, Trump havia saído em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmando que ele estava sendo perseguido pelo sistema no Brasil. Sobre isso, Lula não comentou diretamente.
No dia 9, Trump enviou uma carta a Lula na qual afirmava que Bolsonaro estava sofrendo “uma caça às bruxas” que deveria “acabar imediatamente”. E disse ainda que o STF havia emitido “centenas de ordens de censura secretas e ilegais às plataformas de mídia social dos EUA”, por meio das quais atacava “os direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos”. Por essas razões, anunciou que taxaria os produtos brasileiros exportados para a América em 50% a partir de 1º de agosto. Essa foi a primeira das sanções dos EUA ao Brasil.
Na escalada das tensões, Trump publicou uma carta em sua rede social própria, a Truth Social, endereçada a Bolsonaro no dia 17. Nela, o presidente americano afirma estar acompanhando “o terrível tratamento que o senhor (Bolsonaro) está recebendo nas mãos de um sistema injusto voltado contra o senhor. Este julgamento deve terminar imediatamente!”
No dia 18, Moraes impôs uma série de medidas cautelares contra Bolsonaro, que vão desde o uso de tornozeleira eletrônica até a proibição de falar com o filho, Eduardo Bolsonaro, e de se aproximar de embaixadas. Horas depois, o governo americano cancelou os vistos de Moraes e de outros sete ministros do STF, além do procurador-geral da República, Paulo Gonet, e dos familiares próximos deles.
Fonte: Gazeta