Após retornar de férias, o governador Ratinho Junior (PSD) turbinou o modo campanha com eventos pelo Paraná e com a divulgação dos resultados deste que é o segundo mandato dele. No último final de semana teve até dancinha produzida por inteligência artificial no perfil do governador no Instagram, mas o que chama atenção é a postura de isenção de Ratinho Junior em relação ao principal aliado político no cenário nacional. O governador paranaense não se manifestou sobre as medidas impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entre elas, o monitoramento pelo uso de tornozeleira eletrônica.
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Nos bastidores, aliados de Ratinho Junior ouvidos pela Gazeta do Povo afirmam que o posicionamento é estratégico e faz parte do perfil do governador, que evita o conflito e “bolas divididas”, principalmente no período que antecede o ano eleitoral. No entanto, a indiferença destoa do rápido posicionamento em defesa do ex-presidente feito por governadores na última sexta-feira (18) após a operação contra Bolsonaro.
Os presidenciáveis Romeu Zema (Novo) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) usaram as redes sociais para declarar o apoio público ao líder da direita. O governador mineiro foi o primeiro a sair em defesa de Bolsonaro e chamou as medidas do STF de “absurdas”, enquanto o mandatário paulista pediu “eleições livres” e afirmou que o país vivia uma “sucessão de erros”.
Por outro lado, Ratinho Junior chegou a se posicionar contra as condenações dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, criticou o rito do processo do ex-presidente no Supremo e participou de um dos atos públicos ao lado de Bolsonaro e de governadores na avenida Paulista. Mas ainda não se manifestou publicamente se é a favor de um indulto presidencial para livrar Bolsonaro da inelegibilidade na Justiça Eleitoral e de eventuais condenações no STF, se concorrer e for eleito presidente da República como representante da direita.
A postura é diferente dos outros chamados governadores presidenciáveis: Tarcísio, Zema e Ronaldo Caiado (União Brasil) já indicaram que concederiam o perdão ao ex-presidente em caso de vitórias nas urnas na corrida ao Palácio do Planalto, em 2026.
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Um deputado estadual da base governista disse à reportagem da Gazeta do Povo que a percepção mudou depois das medidas determinadas pelo ministro do STF Alexandre de Moraes contra Bolsonaro e que o governador Ratinho Junior procura pelo que seria uma “candidatura independente” para concorrer a presidente em 2026.
O parlamentar – que pediu para não ser identificado – considera que o tarifaço do presidente norte-americano, Donald Trump, agravou a polarização política no país e o governador paranaense deve buscar uma postura cautelosa, mais ao centro. Durante as férias na Ásia, Ratinho Junior não se posicionou sequer sobre os impactos econômicos da tarifa de 50% para as exportações paranaenses, apesar de ter comentado sobre outros assuntos do Paraná nas redes sociais.
Quando rompeu o silêncio sobre o assunto, ao ser questionado diretamente durante um evento na semana passada, Ratinho Junior adotou um tom mais discreto do que os outros governadores presidenciáveis e afirmou que o Itamaraty tem histórico diplomático para conduzir as negociações com sucesso. “O Paraná não será muito prejudicado porque [as medidas impactam] mais o ferro, a laranja e o café, setores com exportações maiores aos Estados Unidos. O Paraná tem a questão do derivado de madeira para reflorestamento, mas como a gente sabe que os Estados Unidos também depende muito disso, acredito que os governos norte-americano e brasileiro terão bom senso em busca de uma solução para todos”, declarou o governador paranaense.
Procurada pela Gazeta do Povo, a assessoria de comunicação do governador do Paraná respondeu que não existe manifestação oficial do governador sobre o indulto ou sobre as medidas impostas pelo STF ao ex-presidente Bolsonaro.
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Para o cientista político e professor universitário Doacir Quadros, as diferentes correntes que compõem o âmbito da direita e da centro-direita brasileira, com apresentação de possíveis cotados para representar o campo político mais conservador na corrida presidencial, possibilitam um “deslocamento estratégico” de Ratinho Junior.
Além disso, o ex-presidente Bolsonaro pode apoiar a candidatura de outro governador, o mandatário paulista, Tarcísio de Freitas, ou optar pelo lançamento de um integrante do clã familiar, como Michelle ou Eduardo Bolsonaro. E a tendência parece ser a apresentação de múltiplas candidaturas como cabeça de chapa para um confronto com a esquerda em 2026, ao menos durante essas fases preliminares de articulações.
“Uma das estratégias que podem ser adotadas pelos presidenciáveis é descolar a imagem em relação ao Bolsonaro, o que parece a opção de Ratinho Junior neste momento, que não questiona, por exemplo, as medidas do STF. O intuito é administrar a própria imagem”, analisa Quadros.
Quadros avalia como compreensível a posição de Ratinho Junior, que não surgiu como figura política durante a onda da direita conservadora que levou Bolsonaro ao comando do Palácio do Planalto. “O governador possui um capital político estabelecido no estado há 20 anos, com atuação no Legislativo e disputas por cargos executivos nas urnas, além de ter ocupado secretarias estaduais”, recorda.
“Ele conquistou um eleitor antipetista e adepto à Lava Jato no Paraná, características que deve manter pensando nas eleições de 2026”, completa. O cientista político avalia que o movimento de Ratinho Junior é calculado, sem entrar em choque com o ex-presidente, aliado desde a vitória de ambos em 2018.
O voto do eleitorado de Bolsonaro será fundamental para que um candidato da oposição possa derrotar o plano de reeleição de Lula. Nos bastidores, o governador paranaense ainda conta com a articulação do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, para uma possível candidatura presidencial, caso o cacique – secretário de Governo no estado de São Paulo – não leve a sigla para a coligação de Tarcísio de Freitas.
Fonte: Gazeta