O ex-presidente Donald Trump surpreendeu o mercado internacional ao impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, a mais alta entre os 22 países atingidos por sua nova política comercial. Embora o tarifaço seja apresentado como parte de uma estratégia de reindustrialização dos Estados Unidos, especialistas apontam que motivações políticas e regulatórias específicas relacionadas ao Brasil estão diretamente ligadas à medida.
O comentarista Frederico Junker, no podcast 15 Minutos, da Gazeta do Povo, destacou que a tarifa contra o Brasil supera inclusive a imposta ao Canadá (35%), segundo maior parceiro comercial dos EUA, e representa um recado claro do governo Trump sobre temas sensíveis como liberdade de expressão, Big Techs e o julgamento de Jair Bolsonaro.
Uma estratégia que vai além da economia
Desde seu retorno à presidência, Trump tem defendido uma política de America First, que busca resgatar empregos industriais nos EUA, especialmente em regiões como o chamado cinturão da ferrugem. Ao mirar países que adotam políticas consideradas “hostis” às empresas americanas de tecnologia, ele reforça seu projeto de reequilibrar a balança comercial e fortalecer a presença interna das Big Techs, como Apple, Meta e Google.
Nesse contexto, o Brasil entrou no foco por três fatores principais:
- Regulação do STF sobre redes sociais, especialmente o julgamento do artigo 19 do Marco Civil da Internet, que tornou as plataformas responsáveis pelo conteúdo de terceiros;
- Ameaças à liberdade de expressão, envolvendo decisões do ministro Alexandre de Moraes, como a censura ao ex-presidente Bolsonaro e a plataformas como o Rumble;
- Violação de propriedade intelectual, com destaque para a pirataria e o uso de dispositivos como o “gatonet”, amplamente difundidos no país.
STF e caso Bolsonaro pesam na decisão
A tensão institucional no Brasil também tem sido observada por Washington. Trump tem demonstrado apoio a Bolsonaro, especialmente frente ao que ele classifica como um “processo de caça às bruxas” promovido pelo Supremo Tribunal Federal.
Segundo Junker, Trump usou o contexto político brasileiro como justificativa para a adoção da tarifa de 50%, somando críticas à atuação de Moraes à proteção dos interesses das Big Techs norte-americanas — setor que tem impulsionado o crescimento do PIB americano nos últimos anos.
Big Techs e geopolítica: o novo eixo de poder
O ex-presidente americano também tem se aproximado de grandes nomes do Vale do Silício, que migraram do apoio ao Partido Democrata para a plataforma republicana. Investidores como Ben Horowitz e Marc Andreessen, figuras centrais da revolução digital, manifestaram apoio a Trump após anos de alinhamento com os democratas — movidos pelo excesso de regulamentações no governo Biden, principalmente nos setores de IA e criptomoedas.
Essa nova aliança entre conservadorismo político e elite tecnológica reforça a prioridade de Trump em proteger o setor digital de imposições regulatórias externas, como a criação de impostos sobre serviços digitais, recentemente revogada no Canadá após pressão americana.
Brasil vira símbolo na disputa global
Com a tarifa de 50%, o Brasil se torna símbolo de um novo tipo de embate geopolítico, que mistura comércio internacional, liberdade de expressão, regulação digital e alinhamento ideológico.
Trump sinaliza que países que dificultarem a atuação de gigantes da tecnologia americana ou reprimirem aliados políticos enfrentarão retaliações econômicas duras.
O caso brasileiro, portanto, não se resume a uma questão de déficit comercial, mas reflete uma nova postura agressiva dos EUA na defesa de seus interesses estratégicos — econômicos, tecnológicos e políticos.
Fonte: Gazeta