Manifestações previstas para agosto e setembro devem marcar um novo estágio da mobilização da direita brasileira, com a consolidação de um foco único: o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O tema, que ganhou protagonismo inédito nos protestos do último domingo (20), passa agora a ser tratado como bandeira central das próximas manifestações, segundo lideranças. Já há atos confirmados para os dias 3 de agosto e 7 de setembro, e é provável que uma nova data seja incluída em agosto.
“Fora, Moraes” foi um dos gritos predominantes nas manifestações do último domingo, realizadas em diversas cidades. Em Brasília, um cartaz acusava Moraes de violação aos direitos humanos e pedia libertação dos presos políticos.
Já é quase um consenso entre as lideranças que a pulverização em diversas bandeiras – como liberdade, anistia, apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, críticas ao governo Lula, oposição ao comunismo ou ao Foro de São Paulo, e até o apoio a Israel – enfraquece a mensagem das ruas. Na coletiva feita pela oposição na segunda-feira (21) no Congresso, a ideia de pauta única ficou evidente nas declarações de parlamentares.
“Decidimos que a pauta do Senado será o impeachment do senhor ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes”, afirmou a senadora Damares Alves (PL-DF).
Essa ideia de pauta única do Congresso será espelhada nas ruas, de acordo com o advogado Marco Antônio Costa, fundador do canal do YouTube Fio Diário, que está atuando para padronizar a identidade visual de materiais como faixas, camisetas e cartazes para as manifestações em todo o Brasil.
Para ele, a onda pelo impeachment do ministro precisa ser aproveitada. Embora Moraes não seja o único problema, ele é o símbolo maior dos abusos, e sua derrubada seria um ponto de partida claro para a mudança do país.
“Ele é um símbolo. Se continuar com o poder da caneta na mão, ele vai inspirar os protoditadores que estão espalhados e aparecendo já pelo país: promotor de Justiça com índole abusiva, toda sorte de abusador da magistratura, de todas as áreas. É a postura que tem o efeito mais pernóstico que a gente pode imaginar, e é o símbolo maior do abuso. Se a gente está fazendo uma cruzada contra o abuso, a gente precisa unir exemplarmente todos os abusadores. E isso não se limita só a Moraes, mas ele é o ponta de lança”, comenta.
Os materiais padronizados com a hashtag “#Fora Moraes” já apareceram principalmente nas manifestações de Belo Horizonte, e devem se espalhar pelo país nos atos previstos para 3 de agosto e 7 de setembro. Segundo Marco Antônio Costa, outra data será escolhida para ampliar a mobilização ainda em agosto.
Pela primeira vez em anos, impulso pelas manifestações é orgânico
Costa está à frente do Instituto IFPE (Institute for the Freedom of Press and Expression Brasil), criado com o objetivo de profissionalizar a articulação da direita. O instituto já está presente em três estados e reúne nomes como Augusto Nunes, Sebastião Coelho e André Marsiglia. A meta é abrir mais de trinta núcleos locais até o fim do ano e dar método ao movimento.
Um dos problemas da direita no Brasil, segundo ele, é ter mais entusiasmo do que direção clara. “Todo mundo quer fazer alguma coisa, mas ninguém sabe como. A galera tem energia, mas não tem foco. Tem vontade, mas não tem método”, diz.
Esse entusiasmo espontâneo se viu manifestações de 20 de julho, que, apesar de convocadas com pouco tempo de antecedência, ocorreram em várias cidades por iniciativas distintas. De acordo com as lideranças, pela primeira vez em anos o impulso pelas manifestações tem sido orgânico: os próprios seguidores nas redes passaram a pedir novos atos.
O pastor Silas Malafaia, que também tem ajudado na convocação, afirmou recentemente, segundo o site Metrópoles, que os protestos marcados para 3 de agosto são fruto direto da pressão popular. Nos últimos dias, ele tem intensificado as críticas a Alexandre de Moraes em postagens.
O deputado estadual de São Paulo Tomé Abduch (Republicanos), fundador do movimento Nas Ruas, sentiu o mesmo chamado da população. O Nas Ruas não está liderando a organização das manifestações, mas ajudará na mobilização. Quanto à pauta, ele diz que, por princípio, o grupo prefere não personalizar o tema das manifestações, e que a democracia será o foco.
Abduch vê como principais alvos dos próximos protestos o governo Lula e os abusos do Supremo. “Estão calando, de maneira totalmente arbitrária, a maior voz da direita do país”, diz. “A ideia de ir para as ruas é para defender o Estado Democrático de Direito, defender as nossas instituições e defender a nossa democracia”, acrescenta.
Fonte: Gazeta