O embaixador Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), defende que o Brasil eventualmente corte as relações comerciais com Israel por causa da ofensiva militar na Faixa de Gaza que, diz, é um “genocídio” por parte do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Amorim defendeu uma postura pública mais dura contra o governo israelense, com a possibilidade ainda de negar a indicação de um novo embaixador no Brasil.
“O novo [embaixador] não recebeu o agrément [aval do Brasil], nem vai receber. Nem tem porque receber. […] A posição correta hoje, na minha opinião, é a gente entrar, sim, como parte na ação da África do Sul por genocídio; manter as relações [com Israel] em níveis mínimos e ser muito severo no acordo de livre comércio, talvez até suspendê-lo”, disse Amorim em entrevista à Folha de S. Paulo publicada neste sábado (5).
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A ofensiva de Israel na Faixa de Gaza, iniciada após o ataque do Hamas em outubro de 2023, gerou reações internacionais negativas pela intensidade da reação. Amorim reconheceu a gravidade do atentado do grupo terrorista, mas apontou que o número de vítimas civis do conflito é inaceitável.
“É claro que a gente é contra o ataque do Hamas, não há dúvida, mas a reação é totalmente desproporcional. Você está matando um povo inteiro. É muito ruim matar 2 mil pessoas, é péssimo, é horrível e condenável. Mas matar 60 mil, 70 mil… mulheres e crianças na fila humanitária, é impensável”, disparou.
Desde então, o governo Lula retirou o embaixador de Tel Aviv, após declarações dele serem rechaçadas por autoridades israelenses – “humilhado”, segundo Amorim – e após o próprio presidente ser declarado “persona non grata” em Israel.
Amorim explicou que, embora o rompimento total, como o ocorrido no Chile, possa parecer coerente politicamente, há consequências práticas delicadas.
“Tem brasileiros em Israel que precisam de proteção. Mesmo os brasileiros na Palestina – para agir em defesa deles, é preciso da anuência de Israel, fisicamente tem de passar por Israel”, pontuou.
Apesar da gravidade da situação, o Brasil ainda não oficializou a entrada na ação judicial internacional da África do Sul, mas estuda a viabilidade jurídica e diplomática dessa iniciativa. Amorim indicou que a decisão deve vir em breve.
Para o assessor, a continuidade do conflito e a condução do governo Netanyahu exigem do Brasil um reposicionamento firme e ético no cenário internacional.
“É preciso distinguir o povo judeu, que deu imensas contribuições à humanidade; o Estado de Israel, que tem direito de existir e de se defender contra terrorismo ou o que for; e o governo Netanyahu, que está praticando um genocídio”, completou.
Fonte: Gazeta