Numa tentativa de reaproximação e unificação da direita, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu nesta quinta-feira (19) com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União-GO), em Goiânia, num encontro reservado realizado no Palácio das Esmeraldas. A conversa foi solicitada por Bolsonaro e aconteceu a portas fechadas, sem a presença dos demais aliados que o acompanharam — o senador Wilder Morais (PL-GO) e o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO).
O encontro ocorre em meio às articulações para as eleições de 2026. Caiado é pré-candidato à Presidência e busca ampliar sua base à direita, tentando se aproximar de segmentos do bolsonarismo. Embora inelegível até 2030, Bolsonaro segue como a principal liderança da direita e figura central nas decisões do PL.
O deputado Gustavo Gayer disse à Gazeta do Povo que a reunião não teve decisões concretas, mas marcou uma tentativa de reaproximação entre os dois líderes, que estiveram afastados desde as eleições de 2022.
“Foi a primeira vez que o Bolsonaro veio aqui depois das eleições, quando a temperatura ficou bem quente”, afirmou Gayer. “Mas foi só isso. Caiado tentando se aproximar do Bolsonaro, Bolsonaro também. Não foi nada decisivo. Foi uma reaproximação, tomar um café, comer um pastel.”
Apesar do tom informal do encontro, o pano de fundo é político e estratégico: a unificação da direita com vistas à sucessão presidencial de 2026. Gayer reafirmou a percepção compartilhada no grupo de que a direita voltará ao poder em 2027, o que exigirá articulação e coesão entre diferentes correntes do campo conservador. “Todo mundo vai ter que andar junto para desfazer o estrago que está sendo feito agora”, declarou.
Segundo Gayer, boa parte da conversa girou em torno de críticas ao governo Lula, especialmente no que diz respeito à economia, ao agronegócio e à segurança pública. “Pontuamos tudo que está errado: o agro, como o pessoal do agro está sendo perseguido, o MST, a criminalidade subindo. Caiado falou muito das facções que dominam o Brasil.”
Bolsonaro vê cenário de disputa partidária
A fragmentação partidária em Goiás acirra as tensões locais. O PL tem presença reduzida no estado: administra apenas 20 das 246 prefeituras, enquanto União Brasil, MDB e partidos aliados ao governo estadual controlam a maioria.
Nos bastidores, houve negociações sobre o apoio do PL à eventual candidatura do vice-governador Daniel Vilela (MDB), aliado de Caiado, ao governo estadual. Parte da legenda, especialmente lideranças como Wilder Morais, resiste à ideia e defende que o PL mantenha protagonismo na disputa, mesmo em uma eventual coligação com o União Brasil. Morais já se coloca como pré-candidato ao governo de Goiás. Gayer confirma que Wilder é o candidato do PL.
Gayer, que confirma sua pré-candidatura ao Senado, tem forte apelo nas redes sociais. Ele deve disputar a vaga com a primeira-dama do estado, Gracinha Caiado, que também é cotada para o cargo. A avaliação na base governista é que ela lideraria com folga a corrida, especialmente pelo destaque em programas sociais voltados à assistência e inclusão.
Outro ponto de pressão gira em torno do ex-deputado federal e atual vereador Major Vitor Hugo (PL), que, segundo interlocutores, teria sido incentivado por Bolsonaro a disputar uma vaga na Câmara em 2026. Apesar disso, há dúvidas sobre a viabilidade da candidatura, já que ele mantém bom trânsito com o MDB e com o próprio Caiado. Seu nome chegou a ser cogitado para o Senado, mas a articulação não prosperou diante da resistência interna no partido.
Fonte: Gazeta