O ex-ministro José Dirceu (PT), forte aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reconheceu nesta terça (17) que a esquerda brasileira falhou no diálogo com o Brasil, principalmente em questões como segurança pública, empreendedorismo e uso das mídias digitais.
Dirceu foi condenado a 23 anos de prisão por envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras descoberto pela Operação Lava Jato, mas teve as penas anuladas pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no ano passado por uma suposta suspeição do ex-juiz federal Sergio Moro – hoje senador pelo União-PR.
“A esquerda se debilitou muito, saiu dos territórios, não conseguiu se empoderar nas redes, o discurso, muitas vezes, é de um Brasil que não existe mais. Nós não conseguimos construir uma política para a questão da segurança pública, do trabalho precário, dos aplicativos, do empreendedorismo”, disse em entrevista à GloboNews.
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Desde que teve as condenações anuladas pelo STF, José Dirceu vem buscando uma reabilitação na política inclusive com o apoio de Lula. Ele, no entanto, negou que converse frequentemente com o presidente, e que há meses não fala com ele.
No entanto, o líder petista reconhece que o Brasil de hoje não é o mesmo de quando ele fez parte do governo, e muito menos no período em que o partido mais se desgastou, entre os anos de 2013 – quando surgiram as primeiras manifestações contra a corrupção – até 2018 e 2019, com a eleição de Jair Bolsonaro (PL) em que o então candidato Fernando Haddad (PT), em substituição a Lula, preso, perdeu a disputa.
“Consolidou-se no país uma maioria, nós vamos testar isso em 2026, de centro-direita, conservadora, inclusive porque entra a questão da revolução cultural que houve nestes últimos 30 anos no mundo, que traz esses temas de diversidade, racismo, igualdade de gênero”, completou.
Isso se refletiu, disse, em um Congresso mais conservador, e que fez Lula precisar compor uma base com a centro-direita. Para ele, essa é uma “realidade eleitoral” em que a direita cresceu e se fortaleceu a partir de 2013, período em que a esquerda ficou “interditada” no debate político.
“Nós [a esquerda] tivemos que nos defender [no período]. Primeiro o impeachment da Dilma [Rousseff, em 2016], depois do Lula livre, depois a pandemia, depois elegeu o Lula presidente, que era quase impossível. Mas, com a aliança com Geraldo Alckmin (PSB) e com uma frente ampla foi possível”, pontuou.
José Dirceu afirmou que a vitória em 2022 não foi necessariamente do PT, mas que, na visão dele, foi contra Bolsonaro. Para ele, o próprio partido se desorganizou com o passar dos anos e que não avançou na forma de se comunicar com a população nas mídias sociais. Este é um trunfo conquistado pela direita e reconhecido pela esquerda, que a fez ficar para trás.
No entanto, o ex-ministro diz que isso ocorreu por conta da “repressão” que o PT sofreu com o desgaste sofrido na década passada.
“As instâncias deixaram de funcionar muitas vezes. Não conseguimos avançar na comunicação nas redes, apesar de que avançamos de certa forma na formação política. Há uma série de questões internas do partido que diz respeito à relação com seus filiados e militantes, com a sociedade, que nós deixamos de fazer em grande parte por causa da própria situação que nós enfrentamos de repressão”, afirmou.
Dirceu afirmou, ainda, que o PT ainda tem em Lula seu principal nome eleitoral para a presidência, negou que Haddad seja o sucessor, e que não trabalha com qualquer outra hipótese para 2026. Já o ministro da Fazenda pode ser colocado para disputar algum cargo por São Paulo.
Para ele, o governo precisa ter “duas ou três candidaturas em São Paulo fortíssimas”, com 20% a 30% dos votos para ajudar a vencer a eleição nacional. Ele coloca na mesa nomes como o próprio Haddad, Alckmin, Marta Suplicy e Márcio França para disputar com quem pode ser o candidato único da direita.
“Vamos ter que construir uma aliança para enfrentar. Tudo indica que os partidos de direita vão se unir ao bolsonarismo e vão buscar um candidato único se Bolsonaro permitir, que seria o Tarcísio de Freitas. Mas o Tarcísio não é invencível”, disparou.
Fonte: Gazeta