O advogado Eduardo Kuntz, que representa o ex-assessor presidencial Marcelo Câmara, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que anule a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid após confirmar que conversou com ele por uma rede social. Parte do diálogo foi vazada à revista Veja na semana passada e indica que o militar pode ter mentido no depoimento que prestou à Corte.
Na troca de mensagens, que teria ocorrido em janeiro de 2024, Cid fez críticas à condução do acordo, afirmando que a Polícia Federal tentava manipular os depoimentos como delator do caso, e que o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, estava decidido pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados.
A mesma alegação foi dada por Bolsonaro nesta segunda (16) para pedir a anulação de Cid. O militar, no entanto, negou ter conversado sobre a delação com outras pessoas pelas redes sociais.
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No pedido enviado ao STF, o advogado Eduardo Kuntz afirma que o diálogo demonstrou que “o princípio da voluntariedade foi absolutamente arranhado”, apresentando trechos da conversa com Cid através do perfil “GabrielaR702”, que seria da esposa do militar.
Kuntz diz que o contato partiu do próprio tenente-coronel, que se identificou durante uma chamada de vídeo, enviou uma fotografia e confirmou a identidade. O advogado afirma que já conhecia o militar e imaginou que o motivo do contato seria uma possível contratação para atuar na sua defesa.
“As informações foram passadas voluntariamente por parte do colaborador comigo, eu não procurei ele. Ele que me procurou, eu aceitei e passei a conversar com ele”, afirmou em entrevista à CNN Brasil nesta terça (17).
Ainda segundo Eduardo Kuntz, houve uma suspeita inicial de que Cid poderia estar fazendo uma “ação controlada” para levantar informações a favor dele na investigação, direcionando perguntas e respostas específicas. Por conta disso, ele passou a realizar a conversa de forma escrita para evitar interpretações dúbias sobre o diálogo.
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Ele ainda afirmou que estava de posse destas conversas desde o ano passado, mas que apenas agora, após Câmara ser intimado, é que juntou ao processo como prova. “Foi uma estratégia da defesa”, completou.
No interrogatório realizado dado ao STF na semana passada, o advogado Celso Vilardi, que defende Bolsonaro, questionou Cid sobre a existência de conversas por uma rede social relacionadas à delação. O militar negou e ainda disse desconhecer a existência do perfil “GabrielaR702” da esposa.
Kuntz diz que confirmou a Vilardi que sabia da existência desta conta que poderia ter sido usada por Cid, negada pelo militar. Isso levou o advogado a juntar no processo as reproduções das conversas.
“Ao negar a conversa comigo, talvez a estratégia seja para não correr o risco de quebrar a delação por parte de ter me procurado. Acho que um ajuste de visão que precisa ser feito”, pontuou Eduardo Kuntz.
Na última sexta (13), Cid foi convocado novamente para prestar depoimento à Polícia Federal sobre as conversas vazadas pela revista Veja, mas negou a autoria. No mesmo dia, o ministro Alexandre de Moraes deu um prazo de 24 horas para a Meta fornecer informações sobre quem cadastrou o perfil na rede social e quem o controlava.
Marcelo Câmara é acusado de integrar o chamado “núcleo dois” do suposto plano de tentativa de golpe de Estado, enquanto Mauro Cid atuaria no grupo classificado como “núcleo crucial”, que inclui também o ex-presidente.
Fonte: Gazeta