No programa Última Análise desta segunda-feira (09), os convidados analisaram o depoimento de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, perante Alexandre de Moraes. A audiência, que teve momentos tensos e até cômicos, durou mais de quatro horas e foi marcada por um testemunho vago e impreciso por parte de Cid. “O que mais se ouviu foi ‘acho que’, ‘se não me engano’, ‘não me lembro’ ou ‘não participei'”, destaca o ex-procurador Deltan Dallagnol.
Dallagnol lembra que Cid já apresentou diversas versões em juízo, o que depõe contra a veracidade de suas alegações: “Mauro Cid já deu doze depoimentos. Mudou de versão cinco vezes. Aditou novas informações, pelo menos três vezes. E, em pelo menos duas, se contradisse. O depoimento dele não vale mais nada”, avaliou. Ele lembra ainda que o delator ficou 129 dias na prisão, o que o coagiu a falar “qualquer coisa”.
“Depoimento horrível”, define o advogado André Marsiglia. Ele diz ter se surpreendido com a quantidade de evasivas de Cid e com as versões do depoente. “Não há nada ali que possa ser punível. O Cid está fazendo algo que, espero, não seja porque o Estado esteja coagindo.”
Já o vereador Guilherme Kilter lembra que Moraes sequer deveria ser juiz da investigação: “É ridículo quando um juiz é o acusador, o julgador e a vítima. Então já começou tudo errado e já não devia valer”. Moraes, por diversas vezes, pergunta ao depoente se ele próprio havia sido mencionado em conversas entre militares e governo.
Constrangimentos de Moraes
Em vários momentos, Moraes tentava forçar uma narrativa que não se alinhava ao depoimento de Cid. Kilter aponta para uma tática do magistrado neste sentido: “Ele precisa ficar colhendo provas e diferentes ângulos de falas para pescar uma frase solta. E faz disso um embasamento para sua narrativa”, observou.
Muito do depoimento se concentrou em “conversas de Whatsapp”, que supostamente comprovariam a “trama golpista”. Kilter diz que o valor probatório deste material é quase nulo: “Em WhatsApp de político, você recebe de tudo. Pedido de emprego, pedido de asfalto, de ‘fake news’ e até de golpe”. Assim, ele conclui que, se fossem pegar mensagens de todos os políticos, todos seriam presos, pois todos receberam mensagens “que implicariam em alguma coisa”.
Dallagnol afirma também que, após o depoimento, ficou comprovado que não há ligação entre o 8 de Janeiro e a trama golpista “Quero ver a elasticidade e o contorcionismo que o STF vai ter que fazer para condenar Bolsonaro”, diz o ex-procurador.
O programa Última Análise faz parte do conteúdo jornalístico ao vivo da Gazeta do Povo, no YouTube. O horário de exibição é das 19h às 20h30, de segunda a quinta-feira. A proposta é discutir de forma racional, aprofundada e respeitosa alguns dos temas desafiadores para os rumos do país.
Fonte: Gazeta