O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta quarta (4) que as pessoas têm o direito de desconfiar das instituições, inclusive da Justiça Eleitoral, em defesa da liberdade de expressão que “protege toda a sociedade”.
A declaração foi dada durante a leitura do voto na retomada do julgamento de um artigo do Marco Civil da Internet sobre a responsabilidade das redes sociais por determinadas postagens dos usuários.
“A Justiça Eleitoral brasileira é confiável e digna de orgulho. Se, apesar disso, um cidadão brasileiro vier a desconfiar dela, este é um direito. No Brasil, é lícito duvidar da existência de Deus, de que o homem foi à Lua e também das instituições”, disse.
VEJA TAMBÉM:
-
“É a maior aberração jurídica da história”, diz Jeffrey Chiquini sobre julgamento do 8 de janeiro
O julgamento discute se é necessária ordem judicial para que redes sociais sejam obrigadas a remover conteúdos publicados por usuários. A maioria dos ministros já votou contra a exigência de autorização judicial, mas Mendonça sinalizou uma divergência ao defender uma atuação mais contida do Judiciário.
O ministro argumentou que o Congresso Nacional é o foro adequado para regulamentar o ambiente digital e criticou o que considera um excesso de protagonismo do STF. Para ele, o Judiciário “acaba contribuindo, ainda que não intencionalmente” para a sensação de desconfiança por “parcela significativa da sociedade”.
“A partir do momento em que um povo é proibido de até mesmo desconfiar – ou é obrigado a acreditar -, instaura-se o ambiente perfeito para subjugá-lo pela sua impotência”, pontuou.
Ele emendou afirmando que , mais do que um direito individual, a liberdade de expressão “tem uma dimensão coletiva, tendo em vista que sua conservação aproveita não apenas à pessoa individualmente considerada, mas toda a sociedade, que tem pelo canal da livre manifestação de ideias e pensamentos, assegurado o acesso à informação”.
Mendonça reforçou que a crítica não se dirige à opinião pública como critério de julgamento, mas aos efeitos negativos que uma postura ativista do STF pode gerar. Desde 2019, o Supremo tem sido alvo de críticas por decisões relacionadas ao combate à desinformação e à censura nas redes.
O inquérito das fake news, aberto naquele ano, resultou em medidas duras como o bloqueio de perfis de críticos da Corte, corte de remuneração de criadores de conteúdo e até a suspensão de plataformas inteiras – como ocorreu com o X e o Rumble, que encerrou as atividades no Brasil em 2024.
Essas decisões determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, e apoiadas pela maioria do plenário, são justificadas por supostas notícias falsas espalhadas contra o STF nas redes sociais que, na visão do magistrado, representariam ataques às instituições democráticas e à honra deles.
Fonte: Gazeta