No Pará, 577.272 pessoas residem em Unidades de Conservação (UCs). Em todo o Brasil, são 11.809.398 moradores nessas áreas, o que corresponde a 5,82% da população nacional. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (11) e fazem parte do “Censo Demográfico 2022: Unidades de Conservação”.
Em nível nacional, 98,73% da população residente em Unidades de Conservação (UCs) está localizada em áreas de uso sustentável, somando 11.658.936 pessoas. A pesquisa também identificou 1.138 UCs (48,11%) com moradores e outras 1.227 (51,88%) sem habitantes. Criadas por lei, as UCs são áreas com características naturais relevantes para a conservação da biodiversidade brasileira, podendo ser classificadas como de uso sustentável, como reservas extrativistas e áreas de proteção ambiental, ou de proteção integral, como reservas e estações biológicas.
Cerca de 40,34% dos moradores de UCs vivem em domicílios com ao menos uma forma de precariedade no saneamento básico, envolvendo abastecimento de água, esgotamento sanitário ou destinação do lixo — representando 4 em cada 10 brasileiros. Essa proporção é superior à observada na população geral do país, que é de 27,28%.
Em termos absolutos, 4.725.613 pessoas vivem nessas condições nas UCs. Entre os domicílios com presença de pelo menos um morador indígena, 59,94% (29.482) apresentavam algum tipo de precariedade, afetando 94.051 indígenas. Nos domicílios com ao menos um morador quilombola, essa taxa chega a 85,94% (82.457), abrangendo 248.064 quilombolas.
Além disso, 856.495 pessoas, representando 7,31% da população residente em UCs, convivem com a precariedade simultânea de abastecimento de água, esgotamento sanitário e destinação do lixo. Esse percentual é mais que o dobro da média nacional (3,00%).
Ainda com base nos dados do Censo Demográfico 2022, a estimativa é que cerca de 208 mil pessoas que vivem em Unidades de Conservação no Pará estejam sem acesso a esgotamento sanitário adequado. No entanto, esse dado não é um recorte oficial do IBGE. Esse cálculo, realizado pela reportagem do Grupo Liberal, considera a proporção nacional de moradores dessas áreas que enfrentam esse tipo de precariedade e foi aplicada à população paraense residente em UCs.
“O acesso ao saneamento básico adequado é um elemento fundamental da qualidade de vida e da qualidade ambiental. Constatamos percentuais mais elevados de inadequação do saneamento em domicílios dentro de UCs, o que pode implicar em maiores riscos de contaminação e degradação ambiental, justamente em áreas criadas com objetivo de garantia do direito ao meio ambiente equilibrado”, explica Fernando Damasco, gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE.
Nas UCs, 46.239 domicílios (1,16%) não possuíam banheiro ou sanitário, abrigando 158.594 pessoas (1,35%). Nas Unidades de Proteção Integral, 1.985 domicílios (4,87%) estavam nessa condição, com 8.968 moradores (7,20%). No total nacional, apenas 0,59% dos domicílios estão sem banheiro.
Residentes nas unidades
Distrito Federal (39,16%) e Maranhão (22,96%) têm os maiores percentuais de residentes em UCs. As UCs mais populosas estão nesses estados: Área de Proteção Ambiental do Planalto Central (DF) com 601.773 pessoas, da Baixada Maranhense (MA) com 583.882 e de Upaon-Açu / Miritiba / Alto Preguiças (MA) com 509.977.
São Paulo lidera em números absolutos com 2.483.199 pessoas em UCs (5,59% da população estadual), representando 21,03% da população em UCs no país. Maranhão (1.555.668), Bahia (1.354.144) e Rio de Janeiro (1.118.507) vêm em seguida. Juntos, esses quatro estados concentram 55,14% da população residente em UCs.
Taxa de analfabetismo
Já a taxa de analfabetismo nas UCs é de 8,84%, acima dos 7,00% da média nacional. Das 9.245.172 pessoas com 15 anos ou mais que vivem em UCs, 817.383 são analfabetas. Não há diferenças significativas entre os índices de alfabetização de indígenas e quilombolas que vivem em UCs ou fora delas.
“É preciso salientar que taxas de alfabetização dos povos tradicionais são mais baixas”, afirma Marta Antunes, gerente de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE.
A análise da população por sexo e idade aponta que há predominância de homens nas faixas etárias abaixo de 30 anos e de mulheres a partir dessa idade. A população das UCs é, em geral, mais jovem que a média nacional. O Norte tem a estrutura etária mais jovem, enquanto Sul e Sudeste apresentam perfis mais envelhecidos.
Em reservas extrativistas, reservas de desenvolvimento sustentável e florestas, a pirâmide etária apresenta formato triangular, semelhante ao da população indígena, indicando que essas áreas concentram um percentual maior de jovens.
Áreas de proteção ambiental
E as áreas de proteção ambiental reúnem 11.466.934 moradores, o equivalente a 97,10% do total. Em seguida, vêm as reservas extrativistas com 122.239 pessoas (1,04%). Somadas, as categorias de reservas extrativistas, reservas de desenvolvimento sustentável e florestas nacionais, estaduais ou municipais concentram 198.508 moradores (1,68%). Áreas de interesse ecológico têm 52.079 habitantes (0,44%).
Entre as UCs de proteção integral, os parques (nacionais, estaduais ou municipais) têm a maior população: 117.325 pessoas (0,99%). Refúgios de vida silvestre abrigam 16.978 (0,14%), monumentos naturais 8.474 (0,07%), reservas biológicas 6.123 (0,05%) e estações ecológicas 3.136 (0,03%). As reservas particulares do patrimônio natural têm 3.573 moradores (0,03%).
Cor de pele
Pessoas pardas somam 6.037.270 (51,12%) dos residentes em UCs, seguidas por brancos (4.229.681 ou 35,82%) e pretos (1.407.255 ou 11,92%). Quilombolas representam 2,39% da população em UCs (282.258 pessoas) e indígenas, 1,12% (132.804 pessoas).
“É interessante verificar que nas UCs temos percentuais mais elevados de pessoas pretas, pardas, indígenas ou quilombolas quando comparados aos percentuais desses grupos na população do país. São grupos que historicamente exercem um papel relevante na conservação ambiental e apareceram com maior destaque nos resultados do estudo”, diz Marta.
No Norte, 71,68% da população residente em UCs se declara parda, com maiores proporções em Roraima (74,74%), Pará (73,80%) e Acre (72,58%). Já o Nordeste lidera em proporção de pessoas pretas (16,03%), com destaque para Bahia (26,06%), Amapá (21,15%) e Sergipe (16,76%).
Fonte: O Liberal