Os jornalistas franceses Pascal Clérotte e Thomas Fazi divulgaram nesta quarta-feira (3) uma edição francesa do Twitter Files, série de reportagens que analisam comunicações internas da rede social antes da compra pelo empresário americano Elon Musk (que mudou o nome da plataforma para X), em 2022.
A reportagem sobre a França foi publicada no site da Civilization Works, organização criada e presidida por Michael Shellenberger, autor das primeiras matérias do Twitter Files, que trataram sobre os Estados Unidos e o Brasil.
A reportagem de Clérotte e Fazi acusou o presidente da França, Emmanuel Macron, de ter utilizado ONGs financiadas pelo governo para pressionar o então Twitter com processos judiciais.
Tais ações foram ingressadas em 2020 pela União de Estudantes Judeus da França (UEJF), SOS Racismo, J’accuse! e SOS Homofobia, alegando a presença de tweets considerados de ódio na rede social.
Os dois jornalistas publicaram na reportagem uma mensagem de outubro de 2020, de um diretor associado de contencioso, regulatório e concorrência do Twitter, que alegou que o objetivo era manchar a imagem da rede social e não combater crimes na plataforma.
“Fomos processados na primavera por quatro ONGs, alegando que não estamos fazendo o suficiente para combater o discurso de ódio na França (e nos comparando desfavoravelmente com o Facebook e outros). Eles buscam a nomeação de um especialista para examinar nossos sistemas de denúncia e fiscalização. Este caso trata, em grande parte, de retratar o Twitter como um agente perigoso na imprensa”, afirmou o diretor.
O Twitter Files afirma que essas ONGs francesas afiliadas ao governo exigiram acesso especial aos dados internos do Twitter e ao processo de moderação de conteúdo.
A reportagem também destacou a insistência de Macron de entrar em contato com o então CEO do Twitter, Jack Dorsey, embora aponte que não se sabe se essa comunicação chegou a acontecer.
“Para parabenizar o Twitter por seu esforço de integridade eleitoral [alegação do governo Macron para a tentativa de contato] – um pretexto para obter uma linha de comunicação direta com Jack Dorsey –, uma simples carta oficial, entregue pessoalmente na sede da empresa pelo Cônsul Geral da França em São Francisco, teria sido suficiente. Pode-se ver isso como uma tentativa do presidente francês de influenciar pessoalmente as políticas das plataformas americanas na França”, escreveram Clérotte e Fazi, que afirmaram que acreditam que se o número de telefone de Dorsey tivesse sido informado, “teria sido repassado à inteligência francesa para monitoramento”.
A reportagem também aborda fatos ocorridos após a compra do Twitter por Musk e acusa Macron de buscar interferir em outros países por meio da agência Viginum, criada pelo presidente francês em julho de 2021 com a missão de “proteger os interesses nacionais franceses da manipulação de informações conduzida por estrangeiros”.
Clérotte e Fazi citaram como exemplo o cancelamento do primeiro turno das eleições presidenciais da Romênia de dezembro de 2024, na qual o candidato mais votado foi Calin Georgescu, de perfil pró-Rússia.
Um relatório da Viginum apontou uma suposta interferência no algoritmo do TikTok para aumentar artificialmente a visibilidade de Georgescu, e por fim o primeiro turno foi cancelado pelo Tribunal Constitucional da Romênia. A decisão foi criticada por Musk.
“Longe da entidade transparente e inócua que pretende ser, a liderança da Viginum sugere uma atuação mais complexa e potencialmente preocupante. A Viginum não é uma agência puramente defensiva, mas é também uma ferramenta ofensiva para a política externa agressiva de Emmanuel Macron na Europa, dirigida principalmente contra a Rússia — e, cada vez mais, contra o povo francês”, escreveram Clérotte e Fazi.
Fonte: Gazeta