O governo de El Salvador, liderado pelo presidente Nayib Bukele, nomeou, no último dia 14, a militar Karla Trigueros para o ministério da Educação, Ciência e Tecnologia do país. Em poucos dias a nova chefe da pasta já implementou medidas para fortalecer a disciplina e os valores cívicos nas escolas, mudando o rumo da educação pública do país.
Quem é Karla Trigueros
“Se quisermos construir o país que merecemos, precisamos quebrar paradigmas”, foi com essa mensagem que Bukele definiu a nomeação de Karla Trigueros, de 35 anos, mãe, médica e capitã das Forças Armadas.
Em entrevista à Unicef, em março de 2021, a nova ministra contou um pouco de sua trajetória militar e seus sentimentos em relação a ser uma mulher nas Forças Armadas de El Salvador.
Karla conta que seu sonho de infância era ser médica. “Meu pai era médico e faleceu antes de eu nascer, e a medicina sempre me inspirou. Com o tempo, meus planos e aspirações mudaram, mas meu sonho de infância era ser médica como meu pai.”
Ela diz que mesmo com o sonho de infância, durante a juventude, seus objetivos mudaram. “Decidi que queria ser piloto. Minha mãe, viúva e mãe de duas filhas, disse que não tinha condições financeiras para pagar meu diploma de piloto porque era caro”, lembra.
Então, em 2007, ingressou como cadete na Escola Militar Capitán General Gerardo Barrios e, no fim de seu primeiro ano de serviço militar, recebeu uma bolsa de estudos com base em seu desempenho acadêmico para cursar medicina.
“Éramos 100 estudantes e só havia três bolsas de estudo. Aceitei isso como uma recompensa pelos meus esforços, e foi assim que acabei me tornando médica e soldada”, diz.
Ela diz que sua maior inspiração é sua mãe. “Ela foi meu maior apoio. Eu a reconheço como uma mulher profissional, trabalhadora e incansável, que sempre nos disse que absolutamente todos os objetivos são sempre alcançáveis. Que não há objetivo que não possa ser alcançado; simplesmente precisamos saber o caminho que devemos percorrer para chegar lá. Pode ser longo, pode ser curto, pode ser sinuoso ou fácil, mas o objetivo é alcançar a meta.”
Questionada sobre como é ser uma mulher no meio militar, ela responde que “ser mulher não é, de forma alguma, um impedimento para cumprir todos os requisitos e alcançar todos os objetivos”. “Se um homem consegue, obviamente eu consigo, e posso fazer ainda mais”.
“Não existe carreira para homens; não existe lugar onde só homens possam trabalhar. Eu sou definitivamente um exemplo disso. Nós, mulheres, podemos atuar em todas as áreas da sociedade. Podemos seguir todas as carreiras com a mesma capacidade, as mesmas qualidades e o mesmo profissionalismo que os homens”, diz às meninas que têm o sonho de entrar para as forças militares de El Salvador.
Após se graduar Karla foi designada para o Hospital Militar Central, onde atuou como vice-chefe do Departamento Ambulatorial. Em 2019, foi transferida para o Comando de Saúde Militar como consultora médica em Epidemiologia.
Dois anos depois, integrou o Comitê Conjunto do Mecanismo de Coordenação de El Salvador na luta contra o HIV, a tuberculose e a malária, e, durante a pandemia, foi a responsável pela logística de distribuição das vacinas contra a Covid-19 no país.
Em 2022, integrou o Comando de Saúde Militar para o Plano de Resposta de Saúde para Emergências e Desastres com uma abordagem multiameaça.
E, neste mês assumiu como ministra da a Educação, Ciência e Tecnologia de El Salvador.
Poucos dias, muitas mudanças
Logo após ser nomeada, Karla passou a visitar escolas por todo o território nacional, vestindo seu tradicional uniforme camuflado militar.
Em uma de suas primeiras ações como ministra, transmitiu uma mensagem à comunidade de educação através de um memorando direcionado aos diretores de escolas públicas.
O documento, publicado por Karla nas redes, estabelece que os diretores deverão receber pessoalmente os alunos nos portões de entrada, supervisionando o uso de uniforme limpo e a manutenção de um corte de cabelo definido como adequado. Assim como, uma apresentação pessoal correta e uma entrada ordenada acompanhada de uma saudação respeitosa .
“No marco do fortalecimento da disciplina, da ordem e da apresentação pessoal da comunidade estudantil”, deverá haver “estrito cumprimento” das normas disciplinares, afirmou a nova ministra aos diretores de escolas em um memorando publicado na rede social X.
Além disso, a ministra esclareceu que o descumprimento das novas diretrizes será considerado uma grave violação de responsabilidade administrativa, e que medidas serão tomadas. As diretrizes já estão em vigor.
Além disso, a pasta determinou a implementação obrigatória das “Segundas-feiras Cívicas” em todas as escolas públicas do país a partir de 1º de setembro — o dia inclui uma série de atividades: a formação em ordem e disciplina, a entrada da bandeira nacional, o canto do hino nacional e uma oração à bandeira salvadorenha.
Além disso, após a execução do hino, seguido da retirada da bandeira, a segunda cívica contará com uma apresentação ou palestra de um aluno sobre uma figura ilustre do país ou um evento histórico relevante.
O ministério informou que esses são os requisitos mínimos obrigatórios para todas as escolas, mas que podem haver iniciativas adicionais.
“Esta atividade será realizada todas as segundas-feiras do ano letivo, sem exceção, com o objetivo de fortalecer a identidade nacional, os valores cívicos e a disciplina dentro de nossa comunidade estudantil”, diz o documento que institui a Segunda-feira Cívica.
“Instruí que cada escola receba um fundo de US$ 300 (R$1.626,78) para a compra de bandeiras, luvas brancas para o porta-bandeira ou outras necessidades relacionadas a esta atividade “, disse a chefe da pasta. O texto é concluído com o slogan “Deus, União e Liberdade”.
Fonte: Gazeta