Israel se prepara para realizar o primeiro implante de medula espinhal humana do mundo usando células do próprio paciente — um avanço médico que poderá permitir que pacientes paralisados voltem a ficar de pé e andar, anunciou a Universidade de Tel Aviv na última quarta-feira (20).
A cirurgia está prevista para os próximos meses e representa um marco histórico na medicina regenerativa.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 15 milhões de pessoas no mundo todo vivem com lesões na medula espinhal, sendo a maioria resultante de causas traumáticas, como quedas, acidentes de trânsito e violência.
No Brasil, alguns casos ganharam notoriedade como o da atleta Laís Souza, que ficou tetraplégica após lesão medular causada durante um acidente em uma sessão de esqui, em 2014.
A atleta já falou sobre o sonho da descoberta da cura para, futuramente, voltar a andar. “Seguimos firmes na fisioterapia e na busca da cura da lesão medular. A jornada é árdua mas repleta de avanços significativos”, disse em vídeo nas redes.
Outro caso conhecido é o do cantor Herbert Viana, líder do grupo Paralamas do Sucesso, que após acidente aéreo em 2001, teve a medula comprometida e ficou paraplégico. Até hoje, o artista se apresenta em shows em cadeira de rodas.
Mesmo com os avanços da medicina, atualmente, lesões na medula espinhal não podem ser totalmente curadas, e, portanto, o tratamento se concentra na estabilização do paciente, na prevenção de danos adicionais e na maximização da função.
O atendimento de emergência geralmente envolve a imobilização da coluna, a redução da inflamação e, por vezes, a realização de cirurgia para reparar fraturas ou aliviar demais pressões.
Um dos líderes do projeto que pode inovar a medicina, o professor Tal Dvir, chefe do Centro Sagol de Biotecnologia Regenerativa e do Centro de Nanotecnologia da Universidade de Tel Aviv, explica que é a “medula espinhal transmite sinais elétricos do cérebro para todas as partes do corpo”.
Quando ela é rompida por um trauma — como um acidente de carro, uma queda ou um ferimento em combate — a corrente se rompe. Imagine um cabo elétrico cortado: quando as duas extremidades não se tocam mais, o sinal não consegue passar e o paciente permanece paralisado abaixo da lesão”, disse ao Jerusalem Post.
Diferentemente de outros tecidos, os neurônios da medula espinhal não conseguem se regenerar de maneira natural e, com o tempo, o tecido cicatricial bloqueia os sinais restantes.
O procedimento da Universidade de Tel Aviv visa substituir a parte danificada por uma medula espinhal cultivada em laboratório que se funde com o tecido saudável acima e abaixo da lesão.
Estudos preliminares em ratos demonstraram resultados notáveis, com os animais recuperando a capacidade de andar normalmente.
O projeto inovador, liderado por Tal Dvir, começou há cerca de três anos, quando o laboratório do professor fez a projeção de uma medula espinhal humana tridimensional personalizada em laboratório.
As descobertas, publicadas na revista Advanced Science, apontaram que camundongos com paralisia crônica recuperaram a mobilidade após receber os implantes projetados.
O procedimento começa com células sanguíneas do paciente, que são reprogramadas em células semelhantes a células-tronco — estas, capazes de se transformar em qualquer tipo de célula.
O tecido adiposo também é coletado para criar uma estrutura de hidrogel personalizada, na qual as células-tronco se desenvolvem em uma estrutura da medula espinhal. Esse tecido modificado é então implantado, substituindo as áreas cicatrizadas e reconectando o sistema nervoso.
Ministério da Saúde aprovou o transplante
O ministério da Saúde há alguns meses aprovou o projeto liderado pelo professor Dvir para testes de “uso compassivo” em oito pacientes, tornando Israel o primeiro país a tentar esse procedimento.
“Isso é, sem dúvida, motivo de orgulho nacional. A tecnologia foi desenvolvida aqui em Israel, na Universidade de Tel Aviv e na Matricelf, e desde o início ficou claro para nós que a primeira cirurgia seria realizada em Israel, com um paciente israelense”, afirmou Dvir.
“Se for bem-sucedida, esta terapia poderá definir um novo padrão de tratamento em reparo da medula espinhal, atendendo a um mercado multibilionário sem soluções eficazes atualmente. Temos orgulho de que Israel esteja liderando este esforço global e estamos totalmente comprometidos em levar esta inovação a pacientes em todo o mundo.”
“Nosso objetivo é ajudar pacientes paralisados a se levantarem de suas cadeiras de rodas. Os testes com modelos animais demonstraram um sucesso extraordinário, e esperamos que os resultados em humanos sejam igualmente promissores”, completou Dvir.
Fonte: Gazeta