Nesta segunda-feira (18), três dias após se encontrar com o ditador russo, Vladimir Putin, no Alasca, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se reuniu na Casa Branca com seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, e líderes europeus e da Otan, para discutir formas de encerrar a guerra entre Kiev e Moscou.
Trump escreveu na rede Truth Social que hoje foram discutidas garantias de segurança para a Ucrânia e que ele telefonou para Putin para negociar duas reuniões, a primeira entre o ditador russo e Zelensky, e a segunda, com o presidente americano se juntando aos outros dois líderes.
Após os importantes encontros de sexta e segunda-feira, que sinalizam um caminho para encerrar um conflito que está próximo de completar três anos e meio, algumas questões permanecem em aberto. Confira as principais:
Quando e onde será o encontro Putin-Zelensky?
Na mensagem na Truth Social, Trump não deu datas, e se limitou a dizer que o local ainda será definido.
Em entrevista a jornalistas logo após o encontro desta segunda-feira, Zelensky disse que não vai impor condições para a reunião com o ditador russo, para que Putin não responda com exigências que poderiam inviabilizar a cúpula.
“Acredito que devemos nos reunir incondicionalmente e pensar sobre o desenvolvimento futuro deste caminho até o fim da guerra”, afirmou o presidente ucraniano.
Zelensky e Putin só se encontraram uma vez, em dezembro de 2019, em Paris, num encontro que abordou o conflito entre a Ucrânia e separatistas apoiados por Moscou no leste do país – guerra que, junto da anexação da Crimeia, antecipou a invasão russa de grande escala em 2022.
A Ucrânia cederá territórios para a Rússia?
Na sexta-feira, após a reunião no Alasca com Putin, Trump disse em entrevista à Fox News que concordou com o mandatário do Kremlin a respeito da possibilidade de Kiev ceder territórios para que a guerra na Ucrânia acabe.
Nesta segunda-feira, antes dos encontros na Casa Branca, Trump voltou a mencionar o assunto, ao dizer na Truth Social que o caminho para a paz seria a Ucrânia desistir de recuperar a Crimeia (invadida pela Rússia em 2014) e de entrar na Otan.
Contando a Crimeia, os territórios em quatro províncias ucranianas anexadas por meio de referendos fraudulentos desde a invasão iniciada em 2022 (toda a região de Lugansk e a maior parte de Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia estão sob controle russo) e pequenos bolsões nas regiões de Sumy e Kharkiv, Moscou hoje ocupa cerca de 19% do território ucraniano.
No fim de semana, Zelensky admitiu que pode concordar com o congelamento da linha de frente atual para que haja um cessar-fogo. “Precisamos de negociações reais, o que significa que podemos começar onde a linha de frente está agora”, afirmou.
O problema é que uma cessão permanente da Crimeia ou de outros territórios ucranianos, como defendido por Trump, não poderia ser declarada por Zelensky sem consultar a população do país europeu, já que a Constituição ucraniana determina que questões de alteração do território da Ucrânia têm que ser resolvidas “exclusivamente” por meio de referendo a ser realizado em todo o país.
Quais serão as garantias de segurança à Ucrânia?
Ao se encontrar com Zelensky no Salão Oval da Casa Branca, antes da reunião com os outros líderes no Salão Leste, o presidente americano havia dito que “haverá muita ajuda” para dar garantias de segurança para a Ucrânia caso a guerra seja interrompida.
“O que os EUA disseram agora é que os Estados Unidos querem estar envolvidos nisso. O que exatamente significará a participação dos Estados Unidos? Será discutido nos próximos dias”, disse o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, em entrevista à Fox News após as reuniões.
O ex-premiê holandês disse que “não foi discutido em absoluto” o envio de tropas para a Ucrânia para garantir a manutenção de um cessar-fogo.
“Então, isso fará parte das discussões que agora vão começar. Vamos tentar levá-las a uma nova fase de entendimento nos próximos dias e semanas”, afirmou Rutte.
A Rússia se opõe radicalmente à ideia e nesta segunda-feira o Kremlin voltou a se manifestar contra o envio de tropas da Otan para a Ucrânia como forças de paz.
Uma possibilidade que parece mais concreta é proteger a Ucrânia de invasões futuras por meio de um mecanismo semelhante ao Artigo 5 da Otan – ou seja, um ataque ao país seria considerado uma agressão também contra os aliados ucranianos, que seriam obrigados a intervir. Essa ideia foi discutida nesta segunda-feira na Casa Branca.
No fim de semana, o enviado especial de Trump para questões sobre o conflito, Steve Witkoff, já havia dito à CNN que Trump concordou na cúpula do Alasca com Putin na sexta-feira que os Estados Unidos e a Europa poderiam “efetivamente oferecer uma linguagem semelhante à do Artigo 5 para cobrir uma garantia de segurança” contra invasões futuras.
Quais serão as punições se Putin não fizer um acordo?
Em julho, frustrado com o descumprimento por parte de Putin de um cessar-fogo de 30 dias nos ataques a infraestruturas de energia que havia acordado com o ditador russo em março e com a intensificação da ofensiva russa, Trump reduziu de 50 para dez dias um prazo para que Moscou chegasse a um acordo de cessar-fogo com a Ucrânia.
Caso contrário, uma tarifa de 100% na importação de produtos russos e uma secundária no mesmo patamar a países que compram da Rússia seriam aplicadas.
No dia em que o prazo dado por Trump acabaria, o presidente americano anunciou que se encontraria com Putin no Alasca.
Horas antes da reunião com o ditador russo, o presidente americano afirmou que haveria “sérias consequências” se um cessar-fogo não fosse alcançado na sexta-feira. Por fim, não houve acordo para uma trégua, e na entrevista à Fox News após a reunião, Trump não quis falar sobre sanções.
“Por causa do que aconteceu hoje, acho que não preciso pensar nisso agora”, disse Trump ao jornalista Sean Hannity. “Talvez eu tenha que pensar nisso daqui a duas ou três semanas, mais ou menos, mas não precisamos pensar nisso agora.”
Fonte: Gazeta