O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve se reunir nesta segunda-feira (18) com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para discutir o futuro da guerra contra a Rússia, após o encontro do republicano com Vladimir Putin na sexta-feira (15), no Alasca. No centro da conversa devem estar dois territórios estratégicos: a península da Crimeia e a região do Donbass, áreas que Moscou exige como condição para um acordo de paz, mas que Kiev considera parte inalienável de sua soberania.
Crimeia: península estratégica no Mar Negro
A Crimeia é uma península localizada no sul da Ucrânia, com 27 mil km² de extensão — quase o tamanho da Bélgica. Banhada pelo Mar Negro e conectada ao território ucraniano apenas por uma estreita faixa de terra ao norte, a região tem importância estratégica desde a Antiguidade.
Durante o século XIX, a Crimeia foi palco da Guerra da Crimeia (1853-1856), quando russos enfrentaram britânicos, franceses e otomanos, conflito que evidenciou a relevância geopolítica do território.
A capital da Crimeia é Simferopol, mas o coração militar da península é Sebastopol, porto que abriga a principal base naval da Frota russa do Mar Negro. Esse acesso ao Mediterrâneo explica a insistência de Moscou em manter o controle do território.
Sob domínio soviético, a península foi transferida para a Ucrânia em 1954, por decisão do então ditador Nikita Khruschov, que queria facilitar a recuperação econômica do país. No referendo de 1991, após o colapso da URSS, a maioria dos habitantes votou por permanecer como parte da Ucrânia independente.
Antes da anexação ilegal após a guerra de 2014, quando a península foi invadida pela Rússia, a Crimeia era conhecida também por sua relevância turística e agrícola para a Ucrânia. Com cerca de 2 milhões de habitantes antes dos conflitos, a região possuía uma composição étnica variada: 58% russos, 24% ucranianos e 12% tártaros – povo nativo da região que chegou a ser deportado em massa pelo ditador soviético Joseph Stálin —, segundo o último censo oficial (2001).
Donbass: o coração industrial da Ucrânia
O Donbass, abreviação de “Bacia do Rio Donets”, está localizado no leste da Ucrânia e inclui as províncias de Donetsk e Luhansk. A região cobre cerca de 60 mil km² – quase o dobro da Crimeia – e sempre foi considerada o pulmão industrial e energético do país.
O Dobass concentra grandes reservas de carvão mineral e foi, desde o século XIX, o centro da indústria pesada da Ucrânia, com usinas siderúrgicas, químicas e metalúrgicas. Essa riqueza atraiu trabalhadores de diversas origens, incluindo russos, o que fortaleceu o uso do idioma russo, mas não rompeu os laços históricos com Kiev.
Ainda no século XVII, o território era habitado por cossacos ucranianos, que formaram a base da identidade nacional do país. Em 1991, mesmo com forte presença de russófonos, a maioria da população votou no referendo pela independência da Ucrânia, consolidando o Dobass dentro do novo Estado.
Hoje, a região é palco dos combates mais intensos da guerra. Estima-se que a Rússia e seus aliados separatistas controlem 87% do Donbass, mas Kiev resiste a qualquer cessão definitiva. “Nós não vamos deixar o Donbass. Não podemos fazer isso”, declarou Zelensky recentemente.
Peso geopolítico
De acordo com a mídia americana, a Crimeia e o Donbass são alvos de Putin não apenas por vínculos históricos, mas por razões geográficas, militares e econômicas. A Crimeia garante à Rússia um porto de águas profundas e um trampolim para controlar o Mar Negro e projetar poder no Mediterrâneo.
“A Crimeia é a chave para o acesso e as operações da Rússia no Mar Negro. A Crimeia permite a projeção de poder sobre o restante do Mar Negro”, lembrou Maria Snegovaya, pesquisadora do think tank Center for Strategic and International Studies (CSIS)
O Donbass, por sua vez, representa energia, indústria e simbolismo: sem ele, a Ucrânia perde parte vital de sua economia.
“O controle do Donbass dá à Rússia uma enorme vantagem econômica e militar. Não se trata apenas de recursos — é uma linha de fortificações que a Ucrânia construiu por anos. Se ela cair, a Rússia pode avançar mais profundamente para o oeste sem impedimentos”, disse Elina Beketova, pesquisadora do think tank Centre for European Policy Analysis (CEPA)
Fonte: Gazeta