O subsecretário de Diplomacia Pública do governo dos Estados Unidos, Darren Beattie, acusou nesta quinta-feira (24) Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), de ser “o coração pulsante do complexo de perseguição e censura contra Jair Bolsonaro” e afirmou que o governo americano está “tomando providências” sobre o assunto.
“O ministro Moraes é o coração pulsante do complexo de perseguição e censura contra Jair Bolsonaro, o qual, por sua vez, restringiu a liberdade de expressão nos Estados Unidos. Graças à liderança do presidente Trump e do secretário Rubio, estamos atentos e estamos tomando providências”, afirmou Beattie em publicação no X.
A publicação foi feita em resposta a um post do secretário de Estado, Marco Rubio, da última sexta-feira (18), quando ele anunciou a suspensão do visto americano de Moraes e de outros ministros do STF.
Minutos depois, a conta no X da Embaixada dos EUA no Brasil publicou a mesma mensagem de Beattie em português.
No dia 14 deste mês, Beattie já havia feito críticas a Alexandre de Moraes e havia dito que os “ataques [feitos pelo STF contra Bolsonaro] são uma vergonha e estão muito abaixo da dignidade das tradições democráticas do Brasil”.
“O presidente Trump enviou uma carta impondo consequências há muito esperadas à Suprema Corte de Moraes e ao governo Lula por seus ataques a Jair Bolsonaro, à liberdade de expressão e ao comércio americano […] As declarações do presidente Trump são claras. Estaremos observando atentamente”, dizia a mensagem publicada por Beattie no X.
A Diplomacia Pública do governo dos Estados Unidos, chefiada por Beattie, é responsável pelas relações diplomáticas do governo americano, além de facilitar negócios com outros países, incluindo o Brasil.
A Gazeta do Povo solicitou ao STF uma declaração de Moraes sobre o comentário de Beattie, mas a assessoria de comunicação da corte ainda não retornou o contato. Esta reportagem será atualizada caso haja resposta.
A publicação feita por Beattie vem horas após o presidente Lula Inácio Lula da Silva (PT) provocar Donald Trump e afirmar que Bolsonaro irá para o “xilindró” se a Justiça o condenar.
“Ele [Trump] acredita em bruxa? Alguém aqui acredita em bruxa para ter caça às bruxas? Ele mandou uma carta pedindo para pararem de perseguir o Bolsonaro. Um desaforo desrespeitoso com o Brasil e a Justiça brasileira”, disse o presidente em um evento do governo no Vale do Jequitinhonha (MG).
“Eu fiquei pensando: o que fazer? Ele não quer conversar, se ele quisesse conversar, ele pegava o telefone e me ligava. […] Se quiserem negociar, nós vamos negociar. Nós temos os melhores negociadores do mundo”, completou Lula, emendando que “o Lulinha estará pronto para negociar”.
As provocações de Lula ocorrem no momento em que a diplomacia brasileira tenta reabrir o diálogo com os Estados Unidos para barrar ou, pelo menos, adiar o tarifaço de 50% aos produtos do país que entra em vigor aqui a oito dias.
No entanto, de acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, as negociações estão difíceis.
Isso porque, segundo ele, toda a discussão do tarifaço está centralizada na Casa Branca, e mesmo as conversas entre secretários e técnicos não estão avançando. Há o receito de que, por causa dessa dificuldade, a taxação entre realmente em vigor no dia 1º de agosto.
Moraes manteve medidas cautelares
Ainda nesta quinta, Moraes emitiu um novo despacho, optando por manter as medidas cautelares contra Bolsonaro, acusando-o de supostamente ter descumprido uma delas, a de não se pronunciar com divulgação nas redes sociais de terceiros.
Na última segunda (21), ele pediu explicações aos advogados do ex-presidente, que negaram descumprimento. Agora, Moraes se pronunciou reafirmando que houve descumprimento, mas que foi um episódio isolado e que, por isso, manterá a decisão sob a condição de converter em prisão preventiva em caso de reincidência.
“Por se tratar de irregularidade isolada, sem notícias de outros descumprimentos até o momento, bem como das alegações da Defesa de Jair Messias Bolsonaro da ‘ausência de intenção de fazê-lo tanto que vem observando rigorosamente as regras de recolhimento impostas’, deixo de converter as medidas cautelares em prisão preventiva, advertindo o réu, entretanto, que, se houver novo descumprimento, a conversão será imediata”, escreveu no despacho, ao qual a Gazeta do Povo teve acesso.
Bolsonaro é alvo de uma série de medidas cautelares por acusações de estar em conluio com o filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), para tentar coagir o Judiciário brasileiro no processo que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado.
Entre as medidas cautelares, Moraes impôs a “proibição de utilização de redes sociais, diretamente ou por intermédio de terceiros”, o que foi interpretado como uma restrição a conceder entrevistas e violando o direito à liberdade de expressão. Isso porque o compartilhamento de trechos por plataformas de terceiros poderia ser encarado como descumprimento da decisão.
Fonte: Gazeta