O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou nesta quinta-feira (24) que seu país reconhecerá o Estado palestino na próxima Assembleia Geral da ONU.
Desde o início da atual guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023, outros países reconheceram unilateralmente o Estado palestino, como Espanha, Irlanda e Noruega, mas o reconhecimento da França terá mais impacto, devido ao apoio histórico de Paris a Israel e ao fato de que o território francês abriga comunidades muçulmanas e judaicas que estão entre as maiores da Europa.
“Fiel ao compromisso histórico com uma paz justa e duradoura no Oriente Médio, decidi que a França reconhecerá o Estado da Palestina. Farei este anúncio solene na Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro”, escreveu Macron no X.
“Precisamos de um cessar-fogo imediato, da libertação de todos os reféns e de ajuda humanitária maciça ao povo de Gaza. Devemos também garantir a desmilitarização do [grupo terrorista] Hamas e proteger e reconstruir Gaza”, disse o presidente francês.
“Por fim, devemos construir o Estado da Palestina, assegurar sua viabilidade e garantir que, ao aceitar sua desmilitarização e reconhecer plenamente Israel, ele contribua para a segurança de todos no Oriente Médio. Não há alternativa”, acrescentou Macron.
Segundo informações da Agência EFE, o vice-primeiro-ministro israelense, Yariv Levin, classificou como uma “mancha na história francesa” e “uma ajuda direta ao terrorismo” a decisão de Macron.
“A Terra de Israel pertence ao povo de Israel, e nem mesmo a declaração do presidente Macron será capaz de mudar isso”, disse Levin em uma mensagem nas redes sociais.
A França já vinha aumentando a pressão sobre Israel, ao se juntar nesta semana a outros 27 países numa declaração conjunta que pediu o fim imediato da guerra na Faixa de Gaza e acusou Israel de não permitir a entrada de ajuda humanitária suficiente no enclave.
Macron vinha sinalizando que reconheceria o Estado palestino: no final de maio, o presidente francês disse que o reconhecimento é um “dever moral” e uma “necessidade política”.
Desde o ano passado, França e Israel protagonizam um bate-boca público. No começo de outubro do ano passado, após o início de uma ofensiva israelense contra o grupo terrorista Hezbollah no sul do Líbano, o presidente francês propôs um embargo de armas da comunidade internacional contra Israel. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, respondeu que seu país vencerá a guerra no Oriente Médio “com ou sem o apoio” da França.
Depois, o Ministério das Relações Exteriores da França convocou o embaixador israelense em Paris após ataques sofridos pela Unifil, a missão de paz da ONU no sul do Líbano.
Israel alegou que o Hezbollah estava usando as estruturas e as forças da Unifil como escudos e pediu para que as tropas da ONU se retirassem do sul do Líbano.
Depois, Macron disse no Conselho de Ministros da França que “Netanyahu não deve esquecer que seu país foi criado por uma decisão da ONU”, referindo-se à votação da Assembleia Geral das Nações Unidas em novembro de 1947 que criou um Estado judeu e um árabe na Palestina.
“E, portanto, este não é o momento de romper com as decisões da ONU”, disse o presidente da França.
A fala do presidente francês foi uma referência a decisões do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que em junho de 2024 havia aprovado uma resolução para um plano de trégua em Gaza e em 2006 havia determinado que apenas as tropas da ONU e libanesas podem atuar no sul do Líbano.
Netanyahu rebateu Macron, afirmando que a independência de Israel foi conquistada na guerra árabe-israelense de 1948-49, e alfinetou o presidente francês, lembrando da colaboração da França com o Holocausto por meio do regime de Vichy.
Fonte: Gazeta