Na terça-feira (15), muitos brasileiros foram “apresentados” ao secretário-geral da Otan, Mark Rutte, que fez um alerta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a lideranças da China e Índia para que telefonem ao ditador russo, Vladimir Putin, e tentem convencê-lo a negociar um cessar-fogo na guerra com a Ucrânia.
A fala foi uma referência a um anúncio feito na segunda-feira (14) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que em um encontro com Rutte na Casa Branca disse que aplicará tarifas de 100% sobre produtos importados da Rússia e secundárias no mesmo patamar a nações que compram do país de Putin caso não seja alcançado um acordo para interromper a guerra com a Ucrânia dentro de 50 dias.
“Meu conselho a esses três países, em particular, é que, se você mora em Pequim, ou em Nova Délhi, ou se é o presidente do Brasil, talvez queira olhar para isso, porque isso [tarifas secundárias dos Estados Unidos] pode ser muito prejudicial”, disse Rutte a jornalistas em Washington, durante uma reunião com senadores americanos.
No ano passado, China, Índia e Brasil atingiram recordes no comércio bilateral com a Rússia.
Rutte, de 58 anos, foi primeiro-ministro da Holanda de 2010 a 2024 e é secretário-geral da Otan, a aliança militar do Ocidente, desde outubro do ano passado.
Ele vem ganhando ainda mais proeminência no noticiário internacional pela afinidade que tem demonstrado com Trump, o que já resultou em acordos importantes. Não é pouca coisa, considerando o desprezo do presidente americano por organismos multilaterais e as ameaças que fez no passado de tirar os Estados Unidos da Otan.
O mais recente compromisso foi anunciado na reunião de segunda-feira em Washington, quando Trump disse que enviará armas aos outros países-membros da Otan para que estes, por sua vez, paguem por elas e as enviem para a Ucrânia.
Antes disso, no final de junho, em cúpula realizada em Haia (cidade natal de Rutte), na Holanda, os países da aliança se comprometeram (exceto a Espanha) a elevar de 2% para 5% do PIB os gastos com defesa, uma meta defendida por Trump desde que voltou à Casa Branca.
“Isso não teria acontecido se você não tivesse sido eleito em 2016 e reeleito no ano passado… então, quero agradecer”, disse Rutte a Trump no encontro.
No mesmo evento, o secretário-geral da Otan surpreendeu ao chamar o presidente americano de “papai”.
Quando Trump falou sobre o conflito entre Israel e Irã, comparando os dois rivais a “duas crianças no pátio de uma escola” que “brigam como loucos”, Rutte fez uma brincadeira: “E aí o papai às vezes tem que usar linguagem forte para fazê-los parar”.
Dias antes, os Estados Unidos haviam bombardeado instalações nucleares do Irã e intermediado um cessar-fogo num conflito de 12 dias entre israelenses e iranianos.
Não foi a primeira vez que Rutte manifestou apoio a Trump: ele também rebateu críticas que o presidente americano recebeu pelo bombardeio ao Irã.
“Meu maior medo seria que o Irã possuísse, pudesse usar e implantar uma arma nuclear, o que representaria um estrangulamento de Israel, de toda a região e de outras partes do mundo. E é por isso que a Otan disse que o Irã não deveria — e esta é a posição consistente da Otan — ter uma arma nuclear. E eu não concordo que seja contra o direito internacional o que os EUA fizeram”, afirmou.
Trump parece gostar dessa atenção, tanto que compartilhou na rede Truth Social uma mensagem privada de Rutte, parabenizando-o pela “ação decisiva” no Irã.
A emissora americana CNBC já vem chamando a relação entre o secretário-geral da Otan e o presidente americano de “bromance” – um trocadilho que junta “irmão” e “romance” em inglês e que designa uma amizade tão forte entre dois homens que chega a parecer um namoro.
O mesmo termo já foi usado pela imprensa americana para descrever a proximidade entre Trump e o empresário Elon Musk, com quem o republicano acabou rompendo. Resta saber se a relação Trump/Rutte terá um futuro mais feliz – tanto para os envolvidos, quanto para a segurança mundial.
Fonte: Gazeta