Rosa María Payá, uma ativista de direitos humanos de origem cubana, foi nomeada nova integrante da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão vinculado à Organização dos Estados Americanos (OEA), com respaldo do presidente Donald Trump.
Dada como derrotada na disputa devido a um conchavo envolvendo Brasil e outros aliados regionais, a candidata de 36 anos superou essas barreiras após pressão dos Estados Unidos, garantindo a vaga.
Em pronunciamento após a votação, com placar de 20 votos favoráveis contra 19 de oposição a sua nomeação, Payá afirmou: “Minha prioridade é aproximar a Comissão [CIDH] das vítimas, dos mais vulneráveis, e proteger e defender a democracia na região”.
A ativista de dupla cidadania – cubana e americana – foi indicada à vaga pelo governo Trump em março.
Diante da aparente derrota com o lobby de esquerdistas latino-americanos, como o presidente Lula da Silva, Gustavo Petro e Claudia Sheinbaum, seu apoio ganhou força após comentários do subsecretário do Departamento de Estado americano, Chris Landau, falando sobre o posicionamento do presidente Trump de revisar a participação dos EUA na OEA.
“Como vocês devem saber, o Presidente Trump emitiu uma ordem executiva no início deste governo, instruindo o Secretário de Estado (Marco Rubio) a revisar todas as organizações internacionais das quais os EUA são membros , dentro de seis meses, para determinar se tal filiação atende aos melhores interesses e se essas organizações podem ser reformadas. Ao concluir essa revisão, o Secretário deverá reportar suas conclusões ao Presidente e recomendar se os EUA devem se retirar de alguma dessas organizações. Essa revisão está em andamento e, obviamente, a OEA é uma das organizações que estamos revisando”, disse Landau.
O subsecretário de Estado acrescentou que não há nenhum certeza sobre o que essa revisão do presidente Trump irá significar para a OEA. “Isso é certamente algo que estou disposto a discutir nesta reunião para que ninguém possa dizer que é uma surpresa”, continuou.
Nas horas seguintes antes da votação, Landau realizou inúmeras reuniões com integrantes do órgão para fortalecer a indicação de Payá, o que gerou uma mudança de cenário favorável à candidata.
A cubana se aproximou dos Estados Unidos em 2012, após a morte de seu pai, Oswaldo Payá, opositor da ditadura de Raul Castro e fundador do Movimento de Libertação Cristã. Ele liderou um movimento popular em Cuba para a população ter o direito de decidir seu futuro político.
Ele morreu num acidente de carro que passou a ser investigado como assassinato por razões políticas. Em 2023, a CIDH concluiu essa versão, informando que Oswaldo e o ativista Harold Cepero foram mortos pela ditadura cubana.
Desde então, Rosa María Payá tem se envolvido com campanhas de direitos humanos contra o regime autoritário. Ela fundou a organização Cuba Decide e já atuou em organizações da sociedade civil no Canadá e no Chile.
Após a votação, ela disse que seu trabalho será inspirado em seu pai, que “deu a vida pela liberdade de todos os cubanos e pelo direito de buscar a felicidade”.
O governo de Donald Trump apoiou Payá para a CIDH devido à sua abordagem linha-dura aos regimes de Cuba, Venezuela e Nicarágua.
O órgão autônomo da OEA é responsável pela promoção e proteção dos direitos humanos no continente americano. Atualmente, a CIDH é composta por sete membros independentes.
A ditadura cubana, hoje liderada por Miguel Diáz-Canel, classificou Rosa María Payá como uma “mercenária” nesta sexta-feira (4) após sua eleição. Segundo o regime, ela foi eleita para a CIDH sob “pressão e chantagem” dos Estados Unidos.
“Múltiplas pressões e ameaças, incluindo a alegação de que os Estados Unidos cortariam orçamentos para programas de cooperação no hemisfério, levaram por pouco à eleição da notória mercenária Rosa María Payá Acevedo como Comissária da Comissão Interamericana de Direitos Humanos”, disse o Ministério das Relações Exteriores de Cuba em um comunicado.
Em entrevista à Agência EFE, a cubana afirmou que enxerga quatro crises de direitos humanos particularmente graves na região: Haiti, Cuba, Venezuela e Nicarágua.
Além da aliada de Trump, um candidato da Bahamas, Marion Bethel, foi admitido para CIDH. Uma terceira votação será realizada em 11 de julho, com um candidato do Brasil, Fabio de Sá e Silva, e do México, José Luis Caballero Ochoa, na disputa.
Fonte: Gazeta