O Ministério das Relações Exteriores da China comunicou nesta quarta-feira (2) que a reencarnação do Dalai Lama “deve respeitar o procedimento do sorteio da urna dourada [sob posse do regime chinês, contendo nomes para o sorteio]” e as leis do país, enquanto assegurou que a sinização da religião “não supõe uma restrição à liberdade religiosa”.
“A reencarnação do Dalai Lama deve respeitar o procedimento do sorteio da urna dourada, com a aprovação do governo central, e ser realizada de acordo com os rituais religiosos, os costumes históricos e as leis nacionais existentes”, disse Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, em entrevista coletiva.
O líder budista tibetano iniciou nesta quarta-feira uma conferência de três dias para discutir o futuro de sua sucessão na véspera de seu 90º aniversário e afirmou que seu círculo íntimo, representado por uma fundação que criou, teria a autoridade para escolher seu sucessor.
“Ninguém mais tem autoridade para interferir nesse assunto”, acrescentou o 14º Dalai Lama em uma clara referência à China, que o considera um separatista desde sua fuga do Tibete em 1959.
Pequim alega que o sucessor será escolhido pela China, e o Dalai Lama respondeu que sua reencarnação nascerá fora da China, pedindo a seus seguidores que rejeitem qualquer candidato escolhido pela ditadura chinesa.
Sorteio pelo regime
“A reencarnação de lamas vivos é uma tradição exclusiva do budismo tibetano, com mais de 700 anos de história. Com o tempo, ela deu origem a um rigoroso sistema de rituais religiosos e normas históricas. A reencarnação de altos lamas, como o Dalai Lama ou o Panchen Lama, deve ser feita por meio do sorteio da urna dourada, de acordo com esses protocolos”, reiterou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
Ela também enfatizou que o atual Dalai Lama “foi reconhecido seguindo estritamente esses rituais após o falecimento do 13º Dalai Lama, embora, no caso dele, o governo nacionalista da época tenha emitido uma ordem especial dispensando o sorteio da urna dourada”.
As regras promulgadas pelo governo chinês “buscam proteger legalmente essa forma tradicional de sucessão espiritual”, justificou Mao, argumentando que a sinização da religião “não supõe uma restrição à liberdade religiosa”.
“A sobrevivência e o desenvolvimento de qualquer religião devem ser adaptados ao ambiente social e às tradições culturais do país. O budismo tibetano, que se originou na China e tem características chinesas, é, por si só, um exemplo representativo da sinização religiosa”, acrescentou.
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Fonte: Gazeta