Nesta segunda-feira (23), dia seguinte aos bombardeios dos Estados Unidos a instalações nucleares do Irã, o presidente americano, Donald Trump, anunciou um cessar-fogo entre o regime iraniano e Israel, após trocas de ataques que haviam começado no último dia 13, na maior escalada de hostilidades entre os dois inimigos desde a Revolução Islâmica no país persa, em 1979.
“Muitas pessoas estavam morrendo, e a situação só iria piorar. Teria destruído todo o Oriente Médio”, disse Trump à NBC News logo após fazer o anúncio na rede Truth Social.
Ao ser perguntado sobre quanto tempo espera que o cessar-fogo dure, o presidente republicano foi otimista: “Acho que o cessar-fogo é ilimitado. Vai durar para sempre”.
Não há dúvidas de que Israel e Estados Unidos obtiveram de um ano para cá vitórias gigantescas sobre o Irã, uma ameaça existencial ao maior aliado americano no Oriente Médio.
As forças israelenses primeiro varreram as lideranças dos grupos terroristas Hamas e Hezbollah, por meio dos quais Teerã promovia agressões contra o país, e nos últimos dez dias impuseram (com a ajuda dos EUA no domingo) perdas à cúpula e às infraestruturas nucleares e militares iranianas muito superiores às que já haviam infligido nas trocas de ataques diretos de abril e outubro de 2024.
É tentador enxergar uma derrota do Eixo da Resistência, como é chamada a aliança entre o Irã e os grupos terroristas que apoia, mas a questão é que essa ameaça ainda não foi totalmente erradicada. Para começar, obviamente é necessário esperar para ver se o cessar-fogo será implementado como anunciado por Trump e se ele se sustentará.
O segundo ponto é que ainda não se sabe exatamente quanto do programa nuclear iraniano foi realmente destruído. Nas primeiras horas após os bombardeios americanos no domingo (22), Teerã alegou que havia retirado os estoques de urânio enriquecido das usinas atingidas.
Porém, em entrevista à Fox News nesta segunda-feira, o vice de Trump, J. D. Vance, garantiu que os ataques americanos conseguiram cumprir o objetivo de impedir que o urânio seja enriquecido a ponto de ser usado na construção de armas nucleares.
“Nosso objetivo era enterrar o urânio, e eu acho que o urânio está enterrado, mas nosso objetivo era eliminar o programa de enriquecimento e eliminar a capacidade deles de converter esse combustível enriquecido em uma arma nuclear”, disse Vance.
“Se eles têm urânio enriquecido a 60%, mas não têm a capacidade de enriquecê-lo a 90% ou mais, então não têm a capacidade de convertê-lo em uma arma nuclear. Isso é uma missão de sucesso”, argumentou.
Em entrevista também à Fox News, o brigadeiro-general da reserva Yossi Kuperwasser, chefe do Instituto de Estratégia e Segurança de Jerusalém e ex-chefe de inteligência das Forças de Defesa de Israel (FDI), disse que as ofensivas israelenses e americanas dos últimos dias enfraqueceram “significativamente a ameaça iraniana”, mas que “a jornada está longe de terminar”.
“Não acho que o programa esteja [totalmente] destruído”, argumentou. “Eles ainda têm urânio enriquecido, a capacidade de produzir centrífugas e cientistas [do programa nuclear]. Matamos muitos, mas não todos. E mesmo as instalações bombardeadas — não sabemos ao certo se nada restou”, afirmou.
Nesse sentido, Kuperwasser destacou que, embora ainda não se possa descartar a possibilidade de o Irã tentar continuar ou retomar seu programa nuclear, a diferença agora é que “um limiar estratégico fundamental foi ultrapassado”.
“Até agora, tudo era secreto: sabotagem, diplomacia, sanções. Mas agora, a ação militar se mostrou muito mais eficaz. Se o Irã tentar retomar seu programa, eles sabem que nós — e os americanos — estamos preparados para atacar novamente”, comparou.
Em artigo, Matthew Chance, correspondente-chefe de assuntos globais da CNN, disse que, mesmo que os danos às instalações nucleares do Irã tenham sido tão significativos quanto o relatado pelos Estados Unidos e por Israel, isso não significa que a ameaça nuclear iraniana tenha chegado ao fim – principalmente porque nomes mais radicais dentro do regime do líder supremo Ali Khamenei podem se tornar ainda mais influentes a partir de agora.
“Há anos, vozes linha-dura dentro da República Islâmica vêm clamando por uma arma nuclear como forma de dissuasão contra exatamente esse tipo de ataque avassalador”, disse Chance.
“Mesmo que o Irã continue a insistir que seu programa nuclear tem fins estritamente pacíficos, esses apelos agora inevitavelmente terão sido reforçados e os defensores da linha-dura nuclear podem finalmente conseguir o que querem”, alertou.
Fonte: Gazeta