Em oito anos, o número de jornalistas britânicos que assumem posição política e se definem como de esquerda saltou de 54% para 77%, segundo uma pesquisa do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, vinculado à Universidade de Oxford. A sondagem, publicada no fim de abril, consistiu em entrevistas com 1.130 jornalistas britânicos, feitas no último quadrimestre de 2023 – a última pesquisa desse tipo havia sido feita em 2015.
Os pesquisadores questionaram os jornalistas sobre como eles se definiriam politicamente, em uma escala de zero a 10, na qual o zero representaria a posição mais à esquerda e 10, mais à direita. Do total de entrevistados, 189 preferiram não responder. Dos restantes, 12% se alinharam com o centro (contra 24% em 2015); 77% deles deram respostas que variavam de zero a 4 (o maior grupo, com 27%, respondeu “3”; houve 2% que responderam “zero” e 8% que disseram “1”); na outra ponta, apenas 11% responderam com números de 6 a 8 – ninguém deu respostas “9” ou “10”.
No entanto, apenas 13% dos entrevistados afirmaram que “valores e crenças pessoais” são fatores que exercem “extrema influência” em seu trabalho jornalístico; outros 25% disseram que suas posições pessoais têm “muita influência”. Na outra ponta, 13% afirmaram que convicções pessoais não têm influência alguma em seu trabalho. A pesquisa não separou essas respostas por preferência política, para saber se jornalistas de esquerda ou de direita seriam mais propensos a deixar as preferências pessoais influenciarem sua atividade.
Maioria dos jornalistas não tem filiação religiosa
A pesquisa ainda identificou uma enorme discrepância entre a classe jornalística e a população britânica em geral em relação à filiação religiosa. Enquanto os “sem religião” eram 38% dos britânicos nos censos de 2021 e 2022, esse grupo constituía 71% dos 994 jornalistas entrevistados pelo Instituto Reuters que forneceram informação sobre sua religião. Por outro lado, os cristãos estão bastante sub-representados: eles são 24% dos jornalistas que participaram da pesquisa e mencionaram sua religião, contra 47% da população. O mesmo ocorreu com os muçulmanos, que são 6% dos britânicos, mas 1% dos jornalistas entrevistados.
A pesquisa ainda identificou igualdade de gênero entre os jornalistas, com as mulheres sendo ampla maioria (em uma proporção de quase 2 para 1) entre os profissionais que estão entrando na carreira, enquanto a proporção se inverte entre os que têm mais de 30 anos de profissão. Os pesquisadores apontam duas hipóteses: uma mudança nas políticas de contratação, que antigamente tendiam a privilegiar homens; ou uma possível discriminação com base em sexo e idade, que estaria afastando as jornalistas mais experientes do mercado. O relatório afirma que as hipóteses não são mutuamente excludentes, mas que não existem dados robustos para comprovar ou refutar nenhuma delas – o que há, segundo os pesquisadores, é evidência anedótica segundo a qual, especialmente na televisão, mulheres com mais idade tendem a perder espaço nas redações.
Outro achado da pesquisa foi o avanço da informalidade. Em 2015, 74% dos jornalistas afirmavam estar em contratos permanentes de trabalho, número que caiu para 65% em 2023. Por outro lado, os freelancers subiram de 17% para 28% em um período de oito anos. Além disso, os veículos de comunicação públicos ou estatais (caso, por exemplo, da BBC) tendem a pagar melhor seus jornalistas, com a mediana dos salários anuais líquidos variando entre 45 mil e 60 mil libras anuais (R$ 333 mil a R$ 444 mil), enquanto a mediana de salários dos veículos privados fica entre 37,5 mil e 45 mil libras (R$ 277 mil a R$ 333 mil).
Fonte: Gazeta