Entre os atendidos, milhares de ribeirinhos passaram pela iniciativa da Força área Brasileira que levou ao menos 300 profissionais de diferentes especialidades a três cidades no interior do Pará. Hospital de campanha flutuante da FAB atende moradores em Breves
Milhares de ribeirinhos do interior do Pará recebem atendimentos médicos especializados em um hospital de campanha da Força Área Brasileira (FAB).
A estrutura de saúde flutuante foi montada sobre quatro balsas e percorreu quase 1,8 mil quilômetros nas principais “ruas” no Pará: os rios. Mais de 37 mil pessoas de comunidades urbanas e ribeirinhas em Breves, Monte Alegre e Santarém foram atendidas entre 12 de junho e esta sexta-feira (27). O último dia será neste sábado (28) e a expectativa é totalizar 50 mil atendimentos.
Segundo a FAB, ”esta é a maior ação humanitária na Amazônia” realizada pela instituição. A iniciativa tem apoio da Fiocruz e da organização não governamental Voluntários do Sertão.
Hospital de Campanha da FAB percorreu quase 1,8 mil quilômetros por rios no Pará
FAB/Divulgação
Primeiro exame na vida
Alguns dos pacientes fizeram, inclusive, exames esperados e pela primeira vez na vida, como Vanderleia Andrade, de 58 anos, e o pequeno Yan Samuel de quase 2 anos.
“Eu vim para me cuidar, ouvi que era importante, mas também tinha medo porque tem gente que diz que dói. Aí, minha cuida veio antes e disse, ‘mas quando! a gente não sente nada’ e por isso eu vim”, afirmou ao g1a dona de casa Valderleia que nunca tinha feito uma mamografia.
Já Yan aguardava por oftalmologista desde que nasceu. “Ele tem manchinha branca nos dois olhos e estava esperando pela consulta desde o ano passado. Fiquei feliz quando avisaram que ia ser hoje”, relata a mãe Ana Lúcia Silva, de 27 anos e que tem quatro filhos.
Mulheres aguardam para fazer mamografia no hospital de campanha da FAB em Breves. (De azul, dona Vanderleia fez o exame pela primeira vez aos 58 anos)
Valéria Martins/g1
Ana Lúcia e o cacúla Yan Samuel em hospital de campánha da FAB
Valéria Martins/g1
A saúde da mulher estev eme foco. Muitas das pacientes, inclusive, nunca tinham ido ao ginecologista, coletado preventivo ou recebido resultados de exame no mesmo dia. Entre eles a dona de casa Aldenize Rodrigues, que enfrentou mais de três horas de barco para a primeira vez no ginecologista, mesmo com seus 12 filhos, que não tiveram pré-natal.
“A médica fez uns quantos exames. Nunca tive condição de fazer e hoje Deus me abriu uma porta, consegui o que queria”, afirmou.
Saúde que vem pelas águas
Com grandes distâncias entre cidades e também entre os centros urbanos e rurais, muitos amazônidas não têm acesso fácil à saúde e enfrentam horas de barco para ir a uma unidade de saúde mais próxima, ou até dias para chegar à capital Belém, onde há hospitais de referência.
É também na Amazônia que ficam as cidades com pior índice de qualidade de vida, incluindo municípios paraenses. Entre os fatores para isso está a falta de água potável e saneamento básico, difuldade de acesso à informação, conhecimento, ensino superior, o que está diretamente ligado à saúde da população.
“É muito difícil conseguir consulta. Para nós que somos do interior, a gente vem, as vezes até morre e depois de dois meses de morto que vem recado para gente fazer exame, já está até enterrado”, relata ainda a dona de casa Aldenize Rodrigues.
Hospital de campanha em Breves
FAB
Em Breves distante cerca de 200 quilômetros de Belém em linha reta e a cerca de oito horas de barco, há unidades de saúde municipais e um hospital regional estadual, mas nem sempre os 106.968 moradores conseguem agilidade do atendimento ou a especialidade necessária no local, que também recebe pacientes de outras cidades.
Heloísa Oliveira chegou na quinta (26) ao hospital recebeu atendimento oftalmológico, um óculos novo e também atendimento odontológico. Segundo ela, há anos precisava extrair o ciso, mas não conseguia na rede pública e nem tinha condições de pagar.
“Porque todo mundo está aqui? Não é por que quer, é por necessidade. Não vou tirar do meu bolso para o tratamento que é caro, pois tira do salário a alimentação, as contas, o que sobra?”, diz a moradora de Breves
Heloísa agiardava anos por atendimento odontológico no interior do Pará
Valéria Martins/g1
O hospital de campanha nas estruturas flutuantes da Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (Comara). Pequenos consultórios foram montados entre as oito tendas com 14 especialidades.
“A expectativa era fazer mil atendimentos por dia, 10 mil no total. Mas a demanda foi muito maior, tanto de agendados quanto de atendimentos espontâneos e até quinta foram 37 mil”, detalhu o major brigadeiro José Avellar, Comandante do Primeiro Comando Aéreo Regional (I COMAR) e Comandante do Excércio.
Hospital de campanha da FAB leva atendimento a milhares de ribeirinhos no Pará
Valéria Martins/g1
Entre as consultas especializadas estão: clínica médica, ginecologia, urologia, oftalmologia, pediatria, ortopedia, cardiologia, dermatologia, neurologia, fisioterapia, odontologia, psicologia, além de exames como ultrassonografia, Raio X, eletrocardiograma e análises laboratoriais, assistência social e confecção de óculos de grau.
Consultórios são montados no hospital de campanha que percorre rios do Pará
Sargento Marcos / CECOMSAER
Alguns dos atendimentos são por telemedicina, como o de otorrinolaringologista. A equipe de pediatria, por exemplo, atendeu uma menina de quatro anos com dor no ouvido há dias. No hospital de campanha foram captados sons e imagens em alta resolução do ouvido dela e o material foi enviado a uma especialista no Hospital de Força Aérea do Galeão (HFAG), no Rio de Janeiro, onde análises foram feitas e assim, repassado diagnóstico e orientações à família no Pará.
O Exercício de Campanha de Emprego de Logística, Saúde e Intendência Operacional (Excelsior) tem justamente objetivo de levar atendimento a comunidades em áreas de difícil acesso e já teve outra edição em 2023 no Amazonas.
Hospital de campanha flutuante leva atendimentos a comunidades na Amazônia
Força Aéra Brasileira/Divulgação
Profissão Repórter mostra a rotina de agentes comunitários de saúde (ACS) em comunidades ribeirinhas no Pará
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Fonte: O Liberal