O doleiro Alberto Youssef, um dos principais delatores da Operação Lava Jato, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para anular suas condenações pelo que seria uma suposta suspeição do ex-juiz Sergio Moro, que conduzia os processos na 13ª Vara Federal de Curitiba. O pedido foi protocolado na última terça (24) e está sob relatoria do ministro Dias Toffoli.
No documento encaminhado ao STF, a defesa de Youssef afirma que ele foi um “colaborador instrumentalizado” por Moro e por membros do Ministério Público Federal (MPF) para “atingir nomes cada vez mais próximos à cúpula do Partido dos Trabalhadores”, sustentando que a operação teria servido de plataforma para projetos pessoais de poder.
“A Operação Lava Jato se utilizou uma vez mais da mídia nacional em prol de seu projeto político, desta feita, em gravíssima tentativa de influenciar nos resultados do pleito Presidencial. […] O Partido dos Trabalhadores (PT) e seus apoiadores, portanto, foram os inimigos eleitos pelo conluio da ‘República de Curitiba’; o alegado establishment nefasto a ser expurgado por estes [autoconsiderados] homens públicos probos, honestos, os quais diziam ter um projeto de Brasil alternativo, livre da corrupção”, escreveu a defesa de Youssef.
Moro foi procurado pela Gazeta do Povo para se pronunciar sobre as alegações da defesa de Youssef, mas informou que não se manifestará.
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A defesa do doleiro ainda aponta que o próprio Moro havia se declarado suspeito em 2010, por foro íntimo, em outro caso envolvendo Youssef relacionado ao escândalo do Banestado. No entanto, ao assumir os casos da Lava Jato em 2014, o ex-juiz teria, segundo os advogados, voltado atrás para “alavancar seu projeto de promoção pessoal”.
“Com a deflagração da Operação Lava Jato em 2014, a qual se mostrava como uma plataforma promissora para alavancar seu projeto de promoção pessoal, o magistrado percebeu que não poderia ficar afastado do caso. Logo, como num toque de mágica, deliberadamente deixou de ser suspeito; reconsiderou seu posicionamento e passou a presidir as investigações e ações penais da Lava Jato, até seu afastamento definitivo para ser Ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL)”, seguiu a defesa.
Outro ponto citado no pedido é o grampo ilegal instalado na cela de Youssef, na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde ele ficou detido antes de fechar o acordo de colaboração. As gravações registraram 260 horas de conversas.
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Embora a Polícia Federal tenha aberto procedimentos para apurar a instalação da escuta, a defesa sustenta que o grampo nunca foi devidamente esclarecido e que havia um conluio entre Moro, a Polícia Federal e o MPF.
“Foi enganado por uma pseudoinvestigação, ordenada pelo ex-juiz Sergio Moro e conduzida pelos mesmos órgãos envolvidos na instalação da escuta – PF e MPF – evidenciando conluio entre as autoridades”, diz a petição.
Os advogados também mencionam as mensagens reveladas pela Operação Spoofing como evidência de proximidade indevida entre o juiz e procuradores do Ministério Público Federal. A alegação é de que o aparelho de escuta “estava em pleno funcionamento” e que os áudios “foram ilegalmente captados, fatos que foram dolosamente omitidos dos réus, suas respectivas defesas e da imprensa nacional”.
Sergio Moro foi o juiz responsável pela Lava Jato até o fim de 2018, quando deixou a magistratura para assumir o Ministério da Justiça no governo Bolsonaro. Atualmente, ele é senador pelo União Brasil no Paraná.
Até a manhã desta quinta (26), o ministro Dias Toffoli ainda não havia analisado o pedido da defesa de Youssef. Mesmo em caso de anulação das condenações, o acordo de colaboração firmado pelo doleiro não deverá ser afetado.
O pedido de Youssef ocorre após decisões do ministro Toffoli que anularam condenações de outros nomes centrais da Lava Jato, como o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que passou 580 dias preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, os empresários Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro, além de ex-executivos da construtora OAS.
Em todas essas decisões, Toffoli apontou atuação supostamente parcial de Moro e irregularidades processuais durante a operação.
Fonte: Gazeta