Com a campanha presidencial para 2026 despontando no horizonte, líderes de direita, centro e esquerda traçam os seus alvos antes mesmo de os candidatos serem confirmados. Com pouco mais de um ano para as convenções partidárias, o cenário da disputa pelo Palácio do Planalto já é de pré-campanha, com movimentações recentes que revelam alianças visadas, pré-condições impostas e disputas internas que vão muito além das sondagens iniciais de intenção de voto.
Pelo campo conservador, Jair Bolsonaro segue como o principal líder, apesar de continuar inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e de enfrentar um processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por liderar suposta trama golpista. A sua figura, ainda central, impõe condições claras para dar o seu apoio a outro nome fora da família Bolsonaro, sendo a principal a concessão de indulto presidencial, após a posse do aliado eleito.
A corrida para 2026 se desenha como disputa dividida pelo protagonismo de Bolsonaro – mesmo sem candidatura própria -, um centro buscando confirmar sua relevância atestada nas eleições municipais de 2024, e uma esquerda que ainda dependente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Já o campo da esquerda vive dilema existencial nas eleições de 2026. Sem nomes proporcionados pela renovação, Lula se apresenta como candidato natural à reeleição, apesar da queda acentuada de popularidade e do fato de que terá 80 anos na campanha, aspecto que evoca receios de seu próprio eleitorado fiel.
A ausência de sucessores viáveis reforça a aposta no próprio Lula como o único capaz de manter o projeto petista no poder. Em recente entrevista à GloboNews, o ex-ministro José Dirceu, figura influente na esquerda, alertou que o PT precisa recuperar pontes com o público evangélico e repensar sua estratégia de governabilidade, hoje muito dependente do Centrão.
O cientista político João Henrique Hummel Vieira, da consultoria Action, avalia que a fragilidade de Lula e de seu governo vem sendo evidenciada pelo comportamento dos parlamentares no Congresso.
Para ele, o clima é de progressivo abandono da base aliada. Nesse contexto, considera a semana passada “histórica para as eleições de 2026”, marcada pela derrubada de vetos presidenciais, instalação de CPIs com potencial de enfraquecer o Palácio do Planalto e resistência frontal às iniciativas do governo para elevar a carga tributária. “Isso abre caminho para futuras composições”, diz.
Nesta quarta-feira (25), o governo já praticamente reconhece a derrota na derrubada do decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O presidente da Câmara, Hugo Motta, colocou o projeto em votação sem negociação prévia e pegou o governo de surpresa.
Nova pesquisa aponta polarização entre Bolsonaro e Lula
O levantamento do Instituto Paraná Pesquisas divulgado na terça-feira (24) apontou polarização entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ex-presidente liderou cenários de primeiro turno, entre 37% e 38%, e Lula vinha em segundo, com 32% a 34%, conforme o adversário.
Já a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, testada no lugar do marido no levantamento, marcou 30%, tecnicamente empatada com Lula, que chegou a 33,5%. Em terceiro, apareceram os governadores de centro-direita Ratinho Jr. (PSD-PR) e Ronaldo Caiado (União-GO), além do “independente” ex-ministro Ciro Gomes (PDT).
Quando a opção conservadora foi o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o petista registrava 34% contra 24,3% do rival.
No segundo turno, Bolsonaro apareceu com vantagem mais clara: 46,5% contra 39,7% de Lula — 6,8 pontos percentuais a mais. Já nos confrontos entre Lula e outros nomes da direita, como Michelle, Tarcísio e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), os resultados indicaram empates técnicos.
A pesquisa foi realizada entre os dias 18 e 22 de junho, ouvindo 2.020 eleitores em todos os estados e no Distrito Federal. A margem de erro era de 2,2 pontos percentuais, com um nível de confiança de 95%.
Segundo analistas, as opções de centro-direita ainda não mostram força capaz de quebrar a polarização, mas são peças importantes nas composições regionais e no segundo turno.
Para o cientista político Leonardo Barreto, da consultoria Think Policy, a sondagem do Paraná Pesquisas não altera as tendências registradas nos levantamentos de junho, feitos por outros institutos. E a principal constatação do conjunto de indicadores para 2026 está nos severos danos à aprovação do governo.
“A situação de perda de popularidade de Lula está muito consolidada. E isso se deve a três fatores: impostos, inclusive contra os mais pobres, como no caso da taxa das blusinhas; a sensação de que o governo é leniente com o crime; e a promessa não cumprida de baratear os preços de alimentos”, afirma Barreto.
Família Bolsonaro define pré-condição para apoiar um candidato alternativo
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) deixou ainda mais clara e posição de que qualquer sucessor do pai na corrida presidencial precisa assegurar o perdão ao ex-presidente. Em entrevista à Folha de S. Paulo na semana passada, ele firmou que, se o STF barrar a iniciativa, “será preciso brigar até à força”.
A exigência tem sido acolhida pelos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), de São Paulo; Ronaldo Caiado (União-GO), de Goiás; Romeu Zema (Novo-MG), de Minas Gerais; e Ratinho Jr. (PSD-PR), do Paraná. Em entrevistas, esses presidenciáveis de direita e centro-direita apoiaram o gesto como fator de pacificação do país.
Favorito do mercado e do Centrão, Tarcísio já se colocou de forma engajada na defesa da anistia dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, o que reforça a sua identificação com o eleitorado mais fiel a Bolsonaro. Michelle, por sua vez, surge como opção do PL até como vice em eventual chapa com Tarcísio, numa costura que contemplaria a família Bolsonaro e setores moderados.
Kassab sinaliza chance de o PSD integrar um acordo amplo com Bolsonaro
No centro político, o destaque das articulações continua sendo Gilberto Kassab, presidente do PSD, que se movimenta entre os dois polos extremos de Lula e Bolsonaro. O partido controla três ministérios no governo, mas tem ampla participação na gestão estadual de Tarcísio de Freitas.
Nos últimos meses, Kassab tem se aproximado de Bolsonaro, com quem apareceu em eventos e postagens recentes. O gesto, interpretado como um movimento tático, pode abrir espaço para uma candidatura com espectro mais amplo, encabeçado pela direita, mas sem rigidez ideológica.
Ratinho Jr., governador do Paraná, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, são nomes do PSD já postos como possíveis candidatos à Presidência, formalmente identificados como centro-direita, embora o gaúcho seja mais identificado pelo público como figura do campo da centro-esquerda.
Ainda no campo da centro-direita, todas as movimentações são acompanhadas pelos dirigentes partidários da federação entre União Brasil e PP. O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), é, inclusive, uma das figuras mais envolvidas na busca pela construção de uma chapa de direita consistente para vencer Lula.
Fonte: Gazeta