O advogado de defesa do general Walter Souza Braga Netto, José Luis Oliveira Lima, afirmou que o delator no processo do suposto golpe de Estado, Mauro Cid, entrou em contradição ao passar por acareação com seu cliente na manhã desta terça-feira (24) no Supremo Tribunal Federal. Lima disse que Braga Netto chamou Cid de “mentiroso” ao menos duas vezes e o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro teria se calado e baixado a cabeça.
De acordo com o advogado Lima, Cid teria entrado em contradição ao tentar explicar como teria recebido um pacote com R$ 100 mil em dinheiro de Braga Netto. O advogado afirmou que vai fazer novo pedido de anulação da delação de Cid. A sessão de acareação foi realizada a portas fechadas e não foi transmitida ao público.
A Polícia Federal afirma que a quantia seria usada para prender ou matar o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Braga Netto nega que tal plano tenha existido e afirma que não entregou uma sacola com dinheiro a Cid.
A acareação entre o general Walter Braga Netto e o delator do processo do suposto golpe de Estado, Mauro Cid, durou cerca de duas horas. Segundo Lima, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro teria alterado pela terceira vez nesta manhã a versão sobre o local onde supostamente teria ocorrido a entrega do dinheiro. Cid teria mencionado agora uma terceira garagem, além das duas anteriormente indicadas e da sala de ajudância, que ficam no Palácio da Alvorada, residência oficial de presidentes.
Cid também teria voltado a apresentar inconsistências ao relatar detalhes físicos do material supostamente transportado, segundo Lima. No interrogatório anterior, ele alegou ter identificado visualmente pacotes de dinheiro dentro de uma sacola de vinhos. Hoje, no entanto, teria admitido que a referida sacola estaria lacrada, o que tornaria impossível a constatação visual anteriormente relatada. “Essa contradição comprova, mais uma vez, a inconsistência de suas declarações”, afirmou Lima.
Braga Netto está sendo mantido preso no Rio de Janeiro, mas teve autorização para ir a Brasília e participar da acareação pessoalmente. Segundo seu advogado, Braga Netto chamou Cid de mentiroso e o ex-ajudante de ordens teria ficado com a cabeça baixa e em silêncio, sem responder mesmo tendo tido oportunidade para falar. Lima não explicou sobre quais fatos específicos Braga Netto acusou Cid de ter mentido.
O procedimento de acareação foi solicitado pela defesa do general e visava esclarecer divergências nos depoimentos dos réus no caso que investiga a suposta tentativa de golpe de Estado.
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Torres e Freire Gomes mantiveram versões
O STF também promoveu, nesta manhã, a acareação entre o ex-ministro Anderson Torres e o general Freire Gomes. De acordo com os advogados de defesa de réus, em especial do almirante e ex-comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, a acareação entre eles apenas serviu para reforçar as versões já apresentadas por ambos.
A acareação entre Torres e Freire Gomes tinha o objetivo de sanar inconsistências em seus depoimentos. Em seu depoimento, Freire Gomes afirmou que Anderson Torres tinha um papel de assessoramento jurídico ao ex-presidente Bolsonaro em diversos assuntos, e que esteve presente em uma ou duas ocasiões para explicar juridicamente alguns pontos, mas sem interferir ou opinar. Freire Gomes também afirmou que Torres falava da possibilidade de utilização de instrumentos como Garantia da Lei e da Ordem (GLO), estado de defesa e estado de sítio.
As afirmações do general, no entanto, são contestadas por Torres, que nega ter assessorado Bolsonaro sobre esses assuntos. A defesa aponta ainda que relatórios de “entrada e saída” do Palácio do Alvorada indicam que Freire Gomes e Anderson Torres jamais estiveram juntos no mesmo horário e local em reuniões relevantes.
Fonte: Gazeta