No final de semana, os Estados Unidos lançaram um ataque militar direcionado a alvos do programa nuclear do Irã, após as tentativas frustradas de negociações com o país persa.
O presidente americano, Donald Trump, classificou a operação como “bem-sucedida” no sábado (21) e destacou no dia seguinte que os danos às instalações nucleares iranianas foram “monumentais”.
Washington atacou as centrais nucleares de Isfahan, Natanz e Fordow, numa operação batizada de ‘Midnight Hammer’ (Martelo da Meia-Noite, em tradução livre) e que o Pentágono descreveu como o maior bombardeio com aviões B-2 da história.
As declarações de Trump sobre os estragos causados ao programa nuclear do Irã foram endossadas pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU, que ainda não teve acesso às instalações, mas fez uma análise preliminar dos danos considerados “significativos”, principalmente em Fordow, uma das usinas de enriquecimento de urânio mais importantes do país persa.
Apesar dos pronunciamentos, até o momento não foi possível confirmar todos os danos reais causados a Teerã e seu programa nuclear, iniciado em 1974, sob a liderança do Xá Mohammed Reza Pahlavi.
Estima-se que o Irã tenha mais de 400 kg de urânio enriquecido com 60% de pureza em seu estoque, caminhando para alcançar os 90% necessários para o uso militar. Segundo a AIEA, isso seria suficiente, se enriquecido ainda mais, para produzir pelo menos nove armas nucleares.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, explicou que os EUA não planejam novas operações militares em solo iraniano e convidou o regime dos aiatolás, liderado pelo líder supremo Ali Khamenei, a sentar-se para negociar um acordo que ponha fim ao seu enriquecimento de urânio.
No domingo (22), a Organização de Energia Atômica do Irã (AEOI) declarou que os ataques dos EUA não irão interromper as atividades nucleares no país. “A organização garante à grande nação do Irã que, apesar das conspirações malignas de seus inimigos, não deixaremos que o caminho do desenvolvimento desta indústria nacional, resultado do sangue de mártires nucleares, seja interrompido”, diz a nota.
Teerã confirmou as operações militares de Washington, mas disse que conseguiu retirar equipamentos essenciais de seu programa nuclear das instalações antes dos bombardeios.
Segundo analistas entrevistados pelo The New York Times, as décadas de investimento e a construção de uma veneração pelo programa nuclear na cultura iraniana sinalizam que nenhum líder iraniano estaria disposto a desistir dele tão cedo.
De acordo com os especialistas, o projeto nuclear de Teerã, vendido como um programa para fins civis, contribui pouquíssimo para as necessidades energéticas nacionais, mas serve muito bem como um meio de dissuasão estratégica por meio do enriquecimento de urânio, gerando forte tensão com Israel e os Estados Unidos, vistos como países inimigos pelo regime dos aiatolás.
Ray Takeyh, especialista em Irã do Conselho de Relações Exteriores, disse ao Times que a defesa do programa nuclear iraniano é também uma forma de poder político. “De certa forma, os cálculos da República Islâmica eram os mesmos do xá: uma expressão de poder e prestígio”. Portanto, apesar dos bombardeios americanos e israelenses, o líder supremo Ali Khamenei ou qualquer outro que possa substituí-lo não deve abrir mão de sua mais poderosa arma de dissuasão.
AIEA alerta que conflito no Oriente Médio ameaça quebrar acordo global de não proliferação nuclear
O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, alertou nesta segunda-feira (23) que o acordo global de não proliferação nuclear pode estar por um fio devido ao conflito militar no Oriente Médio para frear o programa nuclear iraniano.
“O peso deste conflito ameaça fazer colapsar o regime global de não proliferação nuclear, mas ainda há um caminho para a diplomacia”, apelou o diplomata argentino no início de uma reunião de emergência da Junta de Governadores da AIEA, em Viena.
O Irã aproveitou os recentes ataques dos Estados Unidos no país, no final de semana, para informar que o Parlamento está preparando um projeto de lei para suspender a colaboração do país com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), por considerar que ela “não cumpre suas obrigações” e se tornou uma “ferramenta política”.
“O Parlamento está elaborando uma lei para interromper a cooperação com a agência nuclear” das Nações Unidas, disse em discurso o presidente do Parlamento, Mohamad Baqer Qalibaf, nesta segunda-feira.
Em 12 de junho, o conselho da AIEA adotou uma resolução contra o Irã pelo não cumprimento de suas obrigações nucleares. A resolução, apresentada por Alemanha, França, Reino Unido e Estados Unidos, e apoiada por 19 países, considerou que a falta de cooperação do Irã constituía um descumprimento de suas obrigações com o órgão.
Fonte: Gazeta