A dificuldade de acessibilidade de cadeirantes é uma realidade vivida por milhares de pessoas. A aquisição de cadeiras de rodas automáticas, que permitem maior autonomia, ainda é altamente restrita devido aos preços elevados. Ao presenciarem as dificuldades de um cadeirante da comunidade, os estudantes da Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental (EMEIF) Nestor Nonato, no conjunto Radional II, no bairro da Condor, tiveram a ideia de desenvolver uma cadeira de rodas automática combinando materiais sustentáveis e conhecimentos de robótica.
O projeto “Cadeira de Rodas Sustentável: uma experiência entre robótica e educação ambiental”, do grupo Technonato, busca utilizar materiais recicláveis e sustentáveis, comumente descartados no lixo, para garantir o direito à mobilidade às pessoas com deficiência. Criado por estudantes do 8º e 9º anos da escola, o projeto venceu diferentes feiras estudantis de conhecimento científico e será uma das cinco instituições da rede pública municipal a receber o título de Escola com Boas Práticas em Educação Ambiental, concedido pelo Conselho Municipal de Educação. A cerimônia ocorre nesta quarta-feira (18/06), no auditório do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), no Campus Guamá da Universidade Federal do Pará (UFPA).
“Essa ideia surgiu através de uma roda de conversa, onde a gente tinha o tópico de sustentabilidade e, após várias análises, percebemos o descarte ilegal do lixo em nossa comunidade. E também tem uma pessoa chamada Sérgio, que tem programação aos sábados com os alunos. Percebemos que o Sérgio tem muita dificuldade para se locomover e por que não mostrar para a nossa comunidade que podemos reutilizar nosso lixo e também ajudar pessoas como o Sérgio, que têm baixa mobilidade?”, indaga a participante do projeto, estudante Ester Gibson dos Santos, de 14 anos, do 9º ano.
A partir dessas duas principais inquietações, surgiu a ideia de criar uma cadeira de rodas sustentável feita de bambu e miriti, controlada pelo movimento da cabeça da pessoa com deficiência. Os estudantes adaptaram o controle da cadeira utilizando um celular preso a um capacete de bicicleta. “Criamos esse protótipo e apresentamos para o Sérgio. Ele disse que iria ajudar muito ele. Pessoas com baixa mobilidade não têm facilidade para se locomover. O Sérgio, quando colocasse o capacete, conseguiria se locomover apenas utilizando o movimento da sua cabeça, sem a ajuda de outras pessoas”, explica Ester.
Junto com Ester, participam do projeto Andrew Magalhães, de 14 anos, do 9º ano, Miguel Victor Maciel, de 15 anos, também do 9º ano, e Evaldo Júnior dos Santos, de 16 anos, hoje no 1º ano do Ensino Médio. O projeto foi desenvolvido com a supervisão da professora Marizete Braga, da área de educação geral, e com a parceria de Thiago Miranda Costa, do Centro Educacional de Inovação Tecnológica e Computacional (Cetec), que auxiliou na parte técnica da robótica e do sistema.
Para a coordenadora do projeto, Marizete Braga, um dos maiores ganhos é a possibilidade de os jovens transformarem a realidade em que vivem. “O sentimento é de gratidão e saber que uma sementinha foi plantada. E essa sementinha nós já estamos conseguindo colher frutos”, assegura. O grupo chegou a receber credenciais para participar de duas feiras estudantis em outros estados, mas, por falta de recursos, não pôde comparecer. O projeto estimulou os estudantes a combaterem o descarte irregular de lixo na comunidade, ao promoverem discussões sobre o tema.
A próxima etapa do projeto é criar um modelo em tamanho real. “Queremos alguém com um olhar carinhoso que possa financiar esse projeto para a gente, porque o intuito não é fazer só o protótipo, mas criar uma cadeira em tamanho real para o nosso garoto que inspirou o projeto”, complementa a professora.
O presidente do Conselho Municipal de Educação, Alberto Damasceno, tenta viabilizar a participação dos estudantes da Nestor Nonato e das outras quatro escolas que receberão o título por “Boas Práticas em Educação Ambiental” na programação da Zona Azul da Conferência Mundial sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em novembro, na capital paraense. “A gente constata que há muitas coisas boas sendo feitas nas escolas de Belém. E ainda com a capital sendo escolhida como sede da COP, nós decidimos lançar uma proposta para dar visibilidade a tudo isso que as escolas vêm fazendo”, contou.
Um dos resultados intangíveis do projeto “Cadeira de Rodas Sustentável” é a confiança adquirida pelos estudantes ao perceberem os efeitos positivos que suas ações podem ter na sociedade. Ester, que já começa a pensar no futuro, cogita cursar engenharia, inspirada pelos conhecimentos adquiridos no projeto. “A gente fica muito feliz, né? Porque finalmente alunos de escola municipal estão tendo esse conhecimento. Estamos mostrando para o mundo que a gente pode, sim, ter alunos que ainda se interessam pelo meio ambiente e em revolucionar o mundo e o dia a dia das pessoas”, aponta.
Fonte: O Liberal