Batalha de São Brás
Batalha de São Brás
Microfone na mão, versos afiados na ponta da língua e o Norte no peito. Toda a efervescência da cultura hip hop da Amazônia urbana será celebrada em um momento histórico: no sábado (23), a cidade de Belém será palco da Grande Final da Copa Paraense de Rimas, o primeiro campeonato estadual de freestyle da região Norte, que percorreu 16 cidades em busca dos melhores MCs do estado, que agora se enfrentam em busca do título de campeão no Memorial dos Povos, a partir das 19h. A entrada é franca.
No line-up do evento, nomes que dão o tom e a alma da cena: Bruna BG, força feminina do rap paraense; Moraes MV, um dos fundadores da Batalha de São Brás, berço do projeto; DJ Black, guardião da musicalidade das batalhas; e o convidado especial Big Bllakk, rapper carioca que traz o peso do drill nacional para dialogar com o Norte.
O Norte também rima
De praças urbanas a margens de rio, a Copa construiu uma verdadeira travessia cultural pela Amazônia paraense, reunindo juventudes de diferentes realidades sob uma mesma bandeira: a da rima como território de pertencimento e transformação.
Idealizado por Daniel ADR, rapper e produtor cultural criado na Batalha de São Brás, o projeto nasceu das ruas de Belém e hoje se desdobra como uma iniciativa estadual de forte impacto social e simbólico.
“O Pará é distante do Sudeste, mas fazemos cultura de igual pra igual. Nosso rap carrega rios, florestas e favelas. É discurso ambiental, social e de sobrevivência”, diz.
A Copa nasce como resposta direta a um cenário nacional desigual, onde o eixo Rio-SP ainda concentra a maioria dos holofotes. Mas o freestyle paraense mostra que, por aqui, também se produz arte com intensidade, técnica e identidade. “Fazer um circuito dessa dimensão no Norte é um ato de resistência. É mostrar que a gente existe e tem o que dizer”, completa Daniel.
Daniel ADR é cria da Batalha de São Brás
Divulgação
Rima como voz coletiva
Em meio às disputas de improviso, o que ecoa é um coral de vozes diversas, carregadas de sotaques, gírias e urgências locais. Cada seletiva — realizada em cidades como Marabá, Castanhal, Parauapebas, Breves e Santarém — revelou não apenas talentos, mas formas plurais de fazer rap na Amazônia, com estilos que atravessam gêneros e reivindicam escuta.
A rapper Bruna BG, que também é produtora da Copa, destaca a função pedagógica e afetiva do projeto.
“Mais que uma competição, é um movimento de escuta e valorização. O Norte sempre rimou, mas quase nunca foi ouvido. Invisibilizar a Amazônia é calar um Brasil que o centro ainda não entendeu”.
Ela também reforça a importância da presença feminina nas batalhas. “Quando uma mulher rima, ela abre caminho pra outras. O microfone é espaço de disputa, mas também de cura, de denúncia e de futuro”.
Seletiva passou por todas as regiões do Pará em busca de talentos da rima
Divulgação
O rap como manifesto amazônico
Para Big Bllakk, convidado especial da noite, participar da final da Copa Paraense de Rimas é mais do que uma viagem — é um gesto de conexão. “É olhar no olho de quem faz arte sem holofote e sem desculpa. Tô indo com o coração aberto pra trocar e deixar o drill ecoar em outro território”, afirma o artista, que mistura rap, MPB e vivências periféricas em suas composições.
A Copa também será registrada em um média-metragem documental, previsto para estrear ainda este ano, dialogando com a COP30, conferência climática da ONU que acontece em 2025 na própria Belém. É a rima como ferramenta de escuta do território — uma linguagem que conecta juventude, meio ambiente e denúncia social em uma só batida.
Serviço:
Grande Final da Copa Paraense de Rimas, sábado, 23, a partir de 19h, no Memorial dos Povos – Av. Gov. José Malcher, 257 – Nazaré. Entrada gratuita. Mais informações nas redes da @batalhadesaobras
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Fonte: O Liberal