A ofensiva dos Estados Unidos contra Nicolás Maduro ganhou contornos bélicos nos últimos dias. A revelação da agência Reuters de que Washington enviou navios de guerra equipados com mísseis para águas próximas à Venezuela – em tese com o objetivo de combater o tráfico de drogas no Caribe – deixou o chavismo em alerta e ampliou o risco de uma intervenção militar americana no país latino-americano.
Segundo a Reuters, três destróieres dos EUA — USS Gravely, USS Jason Dunham e USS Sampson — lideram a operação em curso nos arredores do território venezuelano. Além disso, o Pentágono enviou cerca de 4 mil fuzileiros navais, aeronaves de patrulha e pelo menos um submarino nuclear para a região. Embora os americanos falem em missão contra o narcotráfico, autoridades da Casa Branca admitiram, segundo a Reuters, que os navios podem servir como plataforma para ataques seletivos, caso o governo do presidente Donald Trump autorize.
Os EUA também deslocaram, junto aos navios, o grupo anfíbio Iwo Jima, que dá aos militares americanos capacidade de realizar operações aéreas, marítimas e até desembarques em território hostil.
As investidas dos EUA
O endurecimento da postura americana contra o regime de Maduro começou no final de julho, quando o Departamento de Estado classificou o chamado Cartel de los Soles – grupo criminoso que opera no tráfico de drogas, apontado como liderado por Maduro e altos funcionários chavistas – como organização terrorista internacional. Na ocasião, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, reforçou que o Maduro comanda neste momento “uma organização narcoterrorista que tomou posse” da Venezuela.
Poucos dias depois, no início deste mês, o governo Trump dobrou a recompensa por informações que levem à prisão do ditador: de US$ 25 milhões para US$ 50 milhões, um valor histórico. A procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, explicou que a decisão se apoiava em provas concretas de ligação do regime chavista com os cartéis internacionais.
“Maduro usa organizações terroristas estrangeiras como Tren de Aragua, Sinaloa e Cartel de los Soles para trazer drogas letais e violência para o nosso país. Ele é um dos maiores traficantes de drogas do mundo e uma ameaça à nossa segurança nacional”, disse Bondi.
Segundo a procuradora, a DEA – agência de combate às drogas dos EUA – já apreendeu somente neste mês 30 toneladas de cocaína ligadas ao regime de Maduro e bloqueou US$ 700 milhões em bens do ditador chavista, incluindo aviões, veículos de luxo e contas bancárias.
Nesta terça-feira (19), a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, reforçou que a linha do governo Trump neste momento é usar todos os instrumentos de poder da Casa Branca contra Maduro.
“Maduro não é um presidente legítimo”, disse Leavitt, acrescentando que o líder chavista “é um fugitivo e chefe de um cartel narcoterrorista acusado nos EUA de tráfico de drogas”.
“Trump está preparado para usar toda a força americana para deter o tráfico de drogas”, enfatizou.
Na semana passada, o Departamento de Estado dos EUA apontou em seu relatório anual de direitos humanos que a situação na Venezuela se agravou após a fraude eleitoral liderada por Maduro no ano passado. O documento descreve um cenário de repressão sistemática contra opositores no país, com prisões arbitrárias e perseguição política, que já forçaram mais de sete milhões de venezuelanos a deixar seu terra natal na última década, aprofundando a crise migratória em todo o continente americano.
O vice-secretário de Estado dos EUA, Christopher Landau, pediu em entrevista ao podcast de Donald Trump Jr., na semana passada, que os venezuelanos reivindiquem sua liberdade. Ele lembrou que os opositores liderados por María Corina Machado e Edmundo González Urrutia venceram “massivamente” as eleições de 2024, mas foram impedidos de assumir o poder pelo chavismo.
A pressão dos EUA contra Maduro, inclusive no campo militar, tem sido respaldada por congressistas republicanos de origem latino-americana. A deputada republicana María Elvira Salazar, da Flórida, afirmou em suas redes sociais que Maduro é o líder de um cartel que envenena os jovens americanos com fentanil e exporta grupos criminosos, como o venezuelano Tren de Aragua, “para semear terror” nas comunidades dos EUA.
“Seus dias estão contados”, disparou ela, em referência à queda do ditador.
Por sua vez, o senador republicano Bernie Moreno, de Ohio, provocou diretamente Maduro ao comentar sobre a recompensa por sua captura.
“Maduro deveria dormir com os dois olhos abertos. Alguém na Venezuela ficará US$ 50 milhões mais rico em breve”, disse.
O aumento das tensões entre EUA e Venezuela já repercute em países vizinhos, como a Colômbia. Nesta quarta-feira (20), o presidente Gustavo Petro advertiu que uma eventual invasão dos Estados Unidos à Venezuela transformaria a região em “uma nova Síria” e arrastaria seu país para o conflito. Segundo ele, traficantes que atuam na fronteira de 2.219 quilômetros entre os dois países poderiam se aproveitar da instabilidade para ampliar o controle sobre recursos minerais.
Maduro mobiliza forças internas
O aumento da pressão americana já provocou uma reação imediata em Caracas. Em transmissão nacional na segunda-feira (18), o ditador Maduro declarou que havia ordenado a mobilização de 4,5 milhões de milicianos chavistas por todo o país.
“Seguiremos avançando no plano de ativação das milícias camponesas e operárias, em todas as fábricas e centros de trabalho. Nenhum império vai tocar a terra sagrada da Venezuela”, disse o ditador.
O Maduro também acusou Washington de estar liderando neste momento uma “narrativa falsa” e chamou a DEA de “o único cartel de drogas que opera à luz do dia em todo o mundo”.
Fim do regime?
Analistas ouvidos pela revista política mexicana Proceso avaliam que o envio dos destróieres americanos ao Caribe marca um ponto crítico da pressão dos EUA. Para Ronald F. Rodríguez, pesquisador do Observatório da Venezuela da Universidade del Rosario, na Colômbia, o dilema agora é saber se Trump quer apenas demonstrar força ou está se preparando de fato para uma ação mais direta:
“Não sabemos qual é a verdadeira implicação que isso [o deslocamento militar] possa ter, se é somente para demonstrar força ou se [Trump] decidirá atuar”, disse.
Por sua vez, a professora colombiana María Fernanda Zuluaga, especialista em estudos latino-americanos pela Universidade de Salamanca, avaliou à revista que a estratégia de Washington neste momento não aponta para uma invasão militar clássica, mas para um cerco multidimensional – ou seja, uma combinação de várias pressões simultâneas: sanções econômicas, isolamento diplomático, demonstração de força militar e ações psicológicas para abalar o núcleo do chavismo. Zuluaga explicou ainda ao site que o objetivo de Trump neste momento seria provocar uma “implosão induzida” do regime venezuelano, ou seja, criar pressões internas e externas para que a ditadura colapse sem necessidade de uma invasão terrestre.
Segundo a professora, a recompensa de US$ 50 milhões pela captura de Maduro é uma forma de fazer com que algum integrante do regime entregue o ditador.
“A recompensa busca incentivar uma traição no círculo interno de Maduro”, afirmou.
Fonte: Gazeta
