Além de avanços no debate sobre garantias de segurança futuras para a Ucrânia, o principal resultado da reunião de segunda-feira (18) na Casa Branca entre o presidente americano, Donald Trump, seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, e líderes europeus e da Otan foi o anúncio de que o mandatário republicano está tentando organizar um encontro do chefe de Estado de Kiev com o ditador russo, Vladimir Putin.
“Ao final das reuniões, liguei para o presidente Putin e comecei a organizar uma reunião, em local a ser definido, entre o presidente Putin e o presidente Zelensky. Após essa reunião, teremos uma reunião trilateral, que incluirá os dois presidentes, além de mim. Novamente, este foi um passo inicial muito positivo para uma guerra que já dura quase quatro anos”, escreveu Trump na rede Truth Social.
A Rússia, como de costume, já começou a colocar obstáculos ao encontro. “Qualquer contato que envolva os chefes de Estado deve ser minuciosamente preparado”, disse o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, à televisão pública.
Na única vez em que Putin e Zelensky conversaram pessoalmente, o assunto também foi guerra.
Eles se encontraram em Paris em 9 de dezembro de 2019 para a cúpula do Formato Normandia, um fórum informal que visava dar fim à guerra na região do Donbass, no leste ucraniano, iniciada em 2014, quando separatistas apoiados pela Rússia iniciaram o conflito.
Além de Putin e Zelensky, que havia chegado à presidência da Ucrânia em maio daquele ano, participaram do encontro o presidente da França, Emmanuel Macron, e a então chanceler alemã, Angela Merkel.
“Quero voltar com resultados concretos”, disse Zelensky antes do encontro, de acordo com informações do jornal Kyiv Post. “Quero ver a pessoa [Putin] e quero trazer do [Formato] Normandia a compreensão e o sentimento de que todos realmente querem pôr fim gradualmente a esta guerra trágica. Só conseguirei sentir isso com certeza à mesa de negociações.”
Segundo relato da emissora britânica Sky News, entre os compromissos fechados na reunião, estiveram a implementação de “todas as medidas necessárias de apoio ao cessar-fogo” antes do final de 2019, libertação de todos os prisioneiros de guerra, retirada de tropas de três áreas do Donbass até o final de março de 2020 e a disposição de implementar os chamados Acordos de Minsk.
Tais compromissos, assinados em 2014 e 2015, previam novas eleições nos oblasts de Lugansk e Donetsk e um plano para reintegrar o Donbass (onde as duas regiões estão localizadas) à Ucrânia.
Segundo a BBC, Putin saiu do encontro falando que o processo de paz estava “se desenvolvendo na direção certa”, enquanto Zelensky afirmou que “digamos que, por enquanto, houve um empate”.
Porém, posteriormente, as conversas sobre a guerra no Donbass desandaram e por fim Putin iniciou, em fevereiro de 2022, a invasão de grande escala à Ucrânia que Trump tenta agora resolver.
Em artigo para o site The Conversation, Anna Batta, professora associada de estudos de segurança internacional da Air University (rede de universidades da Força Aérea dos Estados Unidos), disse que muitos dos desafios da reunião de 2019 permanecem, mas há diferenças.
“As negociações ainda giram em torno de questões de segurança, o status de Donetsk e Lugansk e as trocas de prisioneiros – sendo este último o único ponto em que parece haver consenso, tanto em 2019 quanto agora”, escreveu.
“Mas há grandes diferenças – não menos importante, três anos e meio de guerra direta. A Rússia não pode mais negar que é parte do conflito, mesmo que Moscou descreva a guerra como uma operação militar especial para ‘desnazificar’ e desmilitarizar a Ucrânia”, afirmou Batta.
A especialista apontou outra diferença fundamental. “Nas negociações do [Formato] Normandia, não se falou em reconhecer o controle russo sobre qualquer território ucraniano”, escreveu, em referência à pressão que a Rússia e Trump fazem agora para que a Ucrânia aceite ceder áreas para que haja paz.
Fonte: Gazeta