O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o ditador da Rússia, Vladimir Putin, vão se reunir nesta sexta-feira (15) no estado americano do Alasca para discutir formas de encerrar a guerra na Ucrânia. O encontro, marcado para ocorrer unidade militar Elmendorf-Richardson, localizada na cidade de Anchorage, acontece em um território que já pertenceu à Rússia e foi vendido aos EUA em 1867, em uma negociação que mudou o mapa geopolítico do Pacífico Norte.
O Alasca, separado da Rússia por apenas 88 quilômetros no ponto mais estreito do Estreito de Bering, foi explorado por navegadores russos a partir do século XVIII, quando o czar Pedro, o Grande, enviou o dinamarquês Vitus Bering para mapear a costa. A região era rica em recursos naturais, especialmente peles de lontra-marinha – um dos materiais mais valiosos no comércio internacional naquele momento -, e passou a ser administrada, em 1799, pela chamada Companhia Russo-Americana, que estabeleceu grandes colônias como Sitka, tomada após confronto com o povo nativo Tlingit.
No entanto, a distância de São Petersburgo – então capital russa, o clima hostil, a dificuldade de abastecimento e a concorrência de caçadores e comerciantes britânicos e americanos tornaram a posse do território cada vez mais cara. A situação se agravou após a Guerra da Crimeia (1853-1856), na qual a Rússia foi derrotada por uma aliança entre Reino Unido, França e Império Otomano, gastando o equivalente a 160 milhões de libras esterlinas.
Com o comércio de peles em declínio e temendo que o Reino Unido pudesse se apoderar do Alasca a partir do Canadá em um eventual conflito, o então czar Alexandre II decidiu vender a região. Os Estados Unidos, em plena expansão e interessados em ampliar sua presença no Pacífico, aceitaram a proposta. Em 30 de março de 1867, o secretário de Estado William Seward, durante o governo de Andrew Johnson – democrata que sucedeu a Abraham Lincoln como 17º presidente dos EUA, fechou o acordo com o diplomata russo Eduard Stoeckl pelo valor de US$ 7,2 milhões.
Na época, parte da imprensa americana criticou a compra, chamando-a de “loucura de Seward” e descrevendo o Alasca como “desertos intransitáveis de neve” e “território inútil”. No entanto, a descoberta de ouro no local em 1896, e, mais tarde, as reservas de petróleo transformaram o estado em um ativo estratégico e econômico vital para os EUA.
Hoje, o Alasca é uma base militar importante, um centro de extração de petróleo e gás, e um destino turístico que atrai diversos cidadãos e pesquisadores do mundo. Para especialistas, o fato de Trump e Putin se reunirem ali carrega um peso histórico. O historiador Pierce Bateman, da Universidade do Alasca em Anchorage, destacou ao New York Times que o estado americano volta a ocupar um papel central no cenário geopolítico. Ele lembrou que a venda do Alasca foi motivada por um conflito na Crimeia – região que justamente voltou ao centro das disputas internacionais após ser anexada pela Rússia em 2014, que foi seguida pela invasão em larga escala de Putin contra a Ucrânia em 2022.
Após a invasão da Ucrânia, outdoors com a frase “O Alasca é nosso” chegaram a ser espalhados na Rússia, sinalizando que o território ainda faz parte do imaginário de parte da elite política mais nacionalista de Moscou.
Agora, mais de 150 anos depois da transação, o estado que já foi colônia russa servirá de palco para o início de tratativas que podem mudar tanto o futuro da Rússia sob Putin quanto o de toda Europa.
Fonte: Gazeta