O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o ditador da Rússia, Vladimir Putin, se reúnem nesta sexta-feira (15), às 11h30 no horário local (16h30 de Brasília), na base militar Elmendorf-Richardson, no Alasca, para discutir a guerra na Ucrânia. A reunião ocorre em meio a um cenário de fortes divergências entre Washington, Moscou, Kiev e países europeus.
A escolha do Alasca não é casual. O estado norte-americano, que já pertenceu ao Império Russo até ser vendido aos EUA em 1867, ocupa uma posição estratégica nas relações bilaterais: é a região americana mais próxima da Rússia, separada por apenas 88 quilômetros de mar, e abriga importantes instalações militares e radares do sistema de defesa aeroespacial dos EUA. Durante a Guerra Fria, era conhecido como “Guardião do Norte” e peça-chave no monitoramento de possíveis incursões soviéticas.
Além do simbolismo histórico, o Alasca tem relevância geopolítica crescente por sua proximidade com o Ártico e pela rota marítima do Estreito de Bering, cada vez mais navegável com o derretimento do gelo, o que interessa ao comércio global. O estado também é rico em petróleo, gás natural e minerais estratégicos, reforçando seu peso na segurança energética dos EUA.
Putin chega ao encontro buscando quebrar seu isolamento internacional. Trump, por sua vez, pretende ouvir pessoalmente as condições do Kremlin para encerrar o conflito que iniciou em 2022. O encontro será uma “sessão de reconhecimento”, segundo a Casa Branca.
De acordo com agências internacionais de notícias, a proposta russa de “paz”, que Putin deve levar até Trump, inclui a anexação formal de quatro regiões atualmente ocupadas de forma ilegal por Moscou – Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia – além da Crimeia, anexada em 2014. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, rejeita a cessão de qualquer território para o fim do conflito, posição apoiada por líderes europeus como Emmanuel Macron (França), Giorgia Meloni (Itália), Keir Starmer (Reino Unido) e Friedrich Merz (Alemanha). Contudo, nos últimos dias, Trump indicou estar disposto a discutir trocas territoriais para pôr fim ao conflito.
“Pode haver coisas boas e ruins para ambos os lados”, disse a Casa Branca.
A ausência de Zelensky neste encontro no Alasca tem preocupado a União Europeia, que também teme ser deixada de fora das negociações iniciais pelo fim da invasão russa.
Nesta terça-feira (12), a chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, afirmou à emissora americana CNBC que Putin está indo ao Alasca apenas para “fingir que quer negociar” e que o encontro com o presidente Trump tem como objetivo principal servir de “vitória pessoal” para o líder russo.
“Ele só quer ter uma foto com o presidente Trump”, disse Kallas, acrescentando que, sem a presença de Kiev e da Europa, “o Kremlin quer apenas adiar as sanções” impostas pelo Ocidente.
Especialistas do think tank Council on Foreign Relations (CFR) apontaram em análise divulgada no site da instituição que o encontro entre Trump e Putin pode resultar neste momento apenas em um roteiro de princípios para negociações futuras – sem resolver imediatamente as divergências sobre segurança e soberania ucraniana.
“O que pode sair desse encontro é um acordo de princípios que estabeleça parâmetros para um acerto final. Isso não muda a posição de Putin, mas avança para o que o Kremlin busca há sete meses do governo Trump”, disse Thomas Graham, especialista em Rússia do CRF.
Durante encontro virtual nesta quarta-feira (13) com aliados europeus, Zelensky e a Otan, Trump indicou que a busca por um cessar-fogo na guerra será sua prioridade no encontro com Putin. O senador democrata Richard Blumenthal afirmou nas redes sociais que, se o presidente republicano “se mantiver firme e insistir em um cessar-fogo com garantias de segurança e participação europeia” neste encontro, poderá alcançar algo que “lhe renderá o Prêmio Nobel da Paz”.
Também após o encontro, o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que Trump havia afirmado aos aliados europeus que “territórios pertencentes à Ucrânia não podem ser negociados e só poderão ser negociados pelo presidente ucraniano”.
Pressão por sanções
A expectativa é de que, com este encontro, a Rússia decida finalmente negociar o fim do conflito. Contudo, caso não haja avanços – mesmo após as conversas desta sexta-feira – o presidente Donald Trump já avisou que Moscou enfrentará “consequências muito severas” se o ditador Putin não aceitar um cessar-fogo.
Questionado se se trataria de novas sanções ou tarifas, Trump desconversou: “Não preciso dizer. [Mas] haverá consequências muito severas.” Antes, a Casa Branca havia cogitado impor tarifa de 100% sobre importações russas e tarifa secundária no mesmo patamar contra países que compram de Moscou, já tendo iniciado medidas contra a Índia devido à importação e revenda de petróleo russo. Brasil e China poderiam ser outros parceiros atingidos. Analistas avaliam que atingir esse setor seria um golpe significativo às receitas de guerra do Kremlin, o que poderia forçar Putin a negociar.
“O petróleo e o gás são o sangue vital da economia russa e financiam seu complexo militar”, lembrou Heidi Crebo-Rediker, do CFR.
A Rússia enfrenta neste momento dificuldades econômicas com queda nas receitas de energia, exportações reduzidas para a Europa e enfraquecimento de empresas estatais como a Gazprom. No entanto, o cálculo do Kremlin ainda aposta no desgaste militar e político da Ucrânia e no enfraquecimento da unidade ocidental antes de sentir os efeitos plenos das sanções.
Fonte: Gazeta