Este episódio do Podcast 15 Minutos, discute as recentes sanções dos EUA contra funcionários brasileiros envolvidos no programa Mais Médicos, uma iniciativa criada no governo Dilma Rousseff que permitiu a vinda de médicos cubanos ao Brasil.
O programa é criticado por organizações de direitos humanos por supostamente constituir uma forma de escravidão moderna, já que a maior parte do salário dos médicos cubanos era retida pelo governo de Cuba.
O episódio explora como esse programa se tornou a principal fonte de receita do regime cubano após o colapso da União Soviética, e como o controle do governo cubano sobre a vida pessoal e profissional desses médicos é extenso.
Por fim, o programa indica que essas sanções, motivadas pela forte ligação da atual política externa dos EUA com a questão cubana, podem ser um prelúdio para futuras medidas contra outros regimes ou indivíduos que colaboram com o governo cubano, como o ministro Luís Roberto Barroso.
Medida atinge ex-integrantes do governo Dilma Rousseff; programa é acusado por entidades internacionais de promover “escravidão moderna”
O governo dos Estados Unidos anunciou novas sanções contra dois funcionários brasileiros que participaram da criação e gestão do programa Mais Médicos durante a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A decisão, revelada nesta semana, é parte de uma política externa mais rígida em relação a regimes considerados autoritários, especialmente o cubano.
Criado em 2013, o Mais Médicos buscava suprir a falta de profissionais de saúde em áreas carentes do Brasil, permitindo a atuação de médicos estrangeiros — a maioria proveniente de Cuba — por meio de um convênio firmado com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). No entanto, desde o início, o programa foi alvo de controvérsias.
Segundo denúncias de organizações internacionais de direitos humanos, o modelo aplicado no Brasil replicava práticas adotadas por Havana desde os anos 1960, caracterizadas como uma forma de “exportação de mão de obra médica”. Nesse sistema, a maior parte do salário pago pelos países contratantes era retida pelo governo cubano, que repassava apenas uma fração aos médicos. No caso brasileiro, cerca de 75% da remuneração ficava em Cuba.
As críticas se intensificam pelo controle rígido imposto aos profissionais. Documentos oficiais do próprio governo cubano determinam que os médicos reportem seus relacionamentos pessoais, evitem contatos com críticos do regime e não concedam entrevistas sem autorização. Eles também são proibidos de solicitar refúgio político nos países onde atuam.
O modelo é apontado como a principal fonte de receita do regime cubano, superando inclusive turismo e exportação de charutos. O programa teria se tornado vital para a economia de Cuba após o colapso da União Soviética nos anos 1990, período em que a ilha enfrentou grave crise e ampliou a exportação de médicos para gerar divisas.
Entre 2013 e 2017, o Brasil gastou cerca de R$ 11 bilhões com o Mais Médicos; desse total, aproximadamente R$ 7 bilhões foram destinados ao convênio com Cuba. Para Washington, esse dinheiro serviu diretamente para sustentar um regime acusado de violar direitos humanos.
As novas sanções se inserem em um contexto de maior atenção dos EUA à América Latina. O atual secretário de Estado americano, Marco Rubio, é filho de exilados cubanos e tem histórico de atuação contra o regime de Havana. Analistas políticos avaliam que essa postura pode levar a novas medidas contra autoridades latino-americanas que colaboram com Cuba — incluindo, segundo especulações, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso.
A medida também coincide com o aumento de pedidos de refúgio de cidadãos cubanos no Brasil. Em 2024, pela primeira vez na última década, esses pedidos superaram os de venezuelanos. Curitiba, por exemplo, registrou que 93% das solicitações de refúgio no primeiro trimestre foram de cubanos.
Para Washington, enfraquecer financeiramente a “exportação de médicos” significa pressionar Havana politicamente. Para críticos brasileiros, o episódio reabre o debate sobre a real finalidade e os custos do Mais Médicos — e sobre o papel do Brasil no financiamento de regimes autoritários.
Fonte: Gazeta