A Câmara dos Deputados do Uruguai começou a debater nesta terça-feira (12) o projeto de lei “Morte digna”, que visa legalizar a eutanásia no país.
Na sessão extraordinária, Luis Gallo, deputado do partido do presidente Yamandú Orsi, de esquerda, foi o primeiro a tomar a palavra e apontou que de acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria Cifra, 62% da população concorda com a legalização da eutanásia.
Gallo indicou que o número de uruguaios que concordam com o procedimento cresceu 7% nos últimos cinco anos, e que apenas 24% discordam.
O parlamentar disse ainda que seus colegas devem se perguntar se estão dispostos a incorporar à legislação do Uruguai o direito de toda pessoa decidir sobre o fim da própria vida.
“Entendo as diferentes perspectivas ideológicas, religiosas, filosóficas, morais e éticas que coexistem neste recinto e que tanto o enriquecem. Peço que, em seu íntimo, cada um possa analisar em profundidade e com sensibilidade e responsabilidade qual resposta daremos a cidadãos como Pablo, Beatriz e tantos outros”, afirmou Gallo.
O deputado se referia a duas pessoas que sofrem de doenças terminais e que buscam a legalização da eutanásia.
Em conversa com a imprensa, o deputado do Partido Nacional, de direita, Rodrigo Goñi, declarou que votará contra, argumentando que “a grande maioria das pessoas que sofrem quer continuar vivendo sem sofrer”.
“É isso que hoje deveríamos priorizar neste Parlamento, e não a triste possibilidade de oferecer a morte aos pacientes. É um antes e um depois não só da legislação, mas também da moral de um povo”, disse.
Cinco anos após o primeiro impulso para a legalização da eutanásia no Uruguai, o novo projeto de lei apoiado pelo governo e parte da oposição será submetido à votação nesta terça na Câmara dos Deputados.
Esta proposta é diferente de um projeto aprovado pela Câmara em 2022 que não chegou ao Senado por não ter obtido os votos necessários na Comissão de Saúde, que buscava garantir o “direito de passar dignamente pelo processo de morrer”, por meio da descriminalização da eutanásia, para maiores de idade psicologicamente aptos na fase terminal de doenças incuráveis e irreversíveis ou que enfrentassem “sofrimentos insuportáveis”.
Caso receba o sim de mais da metade dos 99 deputados, o projeto voltará à Comissão de Saúde, hoje, reformulada em comparação à 2022.
Igreja Católica se posiciona contra
Na última segunda-feira, a Igreja Católica no Uruguai se manifestou contra a legalização da eutanásia no país, por considerar “eticamente inaceitável”.
O posicionamento veio através de um vídeo, no qual nove bispos em conjunto expressaram a posição da Igreja.
“A dignidade de cada pessoa é um dom absoluto, inalienável, que nunca se perde. Para Deus, cada vida é infinitamente amada e digna de todo o nosso cuidado. Nossa sociedade deve acolher, proteger e acompanhar cada pessoa até o fim de sua vida terrena. Dizemos um sonoro sim aos cuidados paliativos. Cuidar, aliviar e consolar com amor e profissionalismo”, afirma a mensagem, segundo informações da Agência EFE.

“Todos temos direito a ser cuidados e atendidos. Jesus nos ensinou a não deixar ninguém à margem. Dizemos um sonoro não à eutanásia. Causar a morte de um paciente é eticamente inaceitável.”
“A vida humana é um direito fundamental, intransferível e inalienável. Não pode ser manipulada”, completa a mensagem dos representantes da Igreja no Uruguai.
Fonte: Gazeta