A sanção do ministro Alexandre de Moraes, pelos Estados Unidos, no âmbito da Lei Magnitsky Global o colocou ao lado de traficantes e terroristas com atuação no Brasil e que, igualmente, passaram a sofrer severas restrições financeiras.
A lista de sancionados pelo OFAC, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento do Tesouro americano, registra a inclusão de outras 16 pessoas com passagens ou endereços no Brasil. A maioria é apontada como colaboradora do Hezbollah, mas há também sancionados ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico (Islamic State of Iraq and Syria – ISIS).
Outro grupo foi sancionado por ligações com o narcotráfico internacional, especialmente por meio do PCC e do Comando Vermelho, as maiores facções criminosas do Brasil.
Diferentemente deles, Alexandre de Moraes foi sancionado na Lei Magnitsky por graves violações aos direitos humanos, segundo o governo americano, em razão de ordens secretas de censura dirigidas a cidadãos e empresas americanas.
Nesta reportagem, estão os nomes e suspeitas dos outros sancionados pelos EUA na Lei Magnitsky Global, segundo informações publicadas por agências americanas.
16 criminosos do Brasil ou com passagem pelo país sancionados na Lei Magnitsky
Ahmad Al-Khatib
Sancionado na Magnitsky em 2021, o egípcio Ahmad Al-Khatib, que também tem nacionalidade libanesa, é apontado pelo Tesouro americano como membro da rede de apoio da Al Qaeda no Brasil. É identificado como dono de uma loja de móveis em São Paulo, que também foi sancionada por servir de fachada para movimentações financeiras ilícitas associadas ao grupo, segundo os EUA.
Ali Muhammad Kazan
Cidadão libanês e paraguaio, sancionado em 2006, Ali Muhammad Kazan é reconhecido como importante operador e arrecadador de fundos do Hezbollah na região da Tríplice Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina. Apontado pelos EUA como possível sucessor de Assad Ahmad Barakat na região.
Assad Ahmad Barakat
Assad Ahmad Barakat figura desde 2004 na lista de sancionados por ligação com Hezbollah. Segundo o Tesouro americano, liderou uma extensa rede de captação de recursos ilícitos para o grupo, utilizando empresas de fachada, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, extorsão e falsificação de moeda.
As investigações apontam uso de empresas do ramo de importação e eletrônicos para encobrir movimentações. Também é acusado de exigir contribuições financeiras de comerciantes simpáticos, ameaçando familiares de quem se recusasse a colaborar. Foi preso em 2018 em Foz do Iguaçu e extraditado em 2020 para o Paraguai.
Bilal Mohsen Wehbe
Com cidadania brasileira, Bilal Mohsen Wehbe foi sancionado em 2010, e é apontado pelo governo americano como principal representante do Hezbollah na América do Sul, função que teria assumido a pedido de Hassan Nasrallah, que liderou o grupo terrorista até sua morte, em 2024. Além de repassar instruções para membros no continente, coordenava, segundo o Tesouro dos EUA, envio de fundos arrecadados no Brasil, especialmente na região da Tríplice Fronteira, para o Hezbollah no Líbano.
Órgãos do governo americano relatam que Wehbe também supervisionou atividades de contrainteligência e apoio logístico ao Hezbollah na Tríplice Fronteira e teria atuado anteriormente no escritório do Líder Supremo do Irã, Ali Khamenei.
Ciro Daniel Amorim Ferreira
Sancionado na Magnitsky em janeiro deste ano em razão de apoio financeiro ao terrorismo internacional, Ciro Daniel Amorim Ferreira é apontado como administrador e uma das lideranças do “The Terrorgram Collective”.
Trata-se de um grupo de Telegram que, segundo o governo americano, promove a supremacia branca violenta, recrutando jovens brasileiros e estrangeiros, incitando ataques contra minorias, além de oferecer instruções sobre táticas, escolha de alvos e métodos para atentados, inclusive com orientação voltada a infraestruturas críticas e servidores públicos.
Ferreira é suspeito de colaborar com tiroteio a um bar LGBT na Eslováquia em 2022, um plano de atentado a instalações de energia em Nova Jersey (EUA) e um ataque com faca a uma mesquita na Turquia em 2024.
Diego Macedo Gonçalves do Carmo
Sancionado em 2024 sob acusação de atuar no narcotráfico internacional, Diego Macedo Gonçalves do Carmo, também conhecido como “Brahma” e “Magrelo”, foi classificado pelo Tesouro americano como operador-chave na lavagem de dinheiro para o PCC. Segundo autoridades americanas e brasileiras, foi responsável por movimentar aproximadamente R$ 1,2 bilhão em operações ilícitas de lavagem entre 2018 e 2019.
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo o condenou, em novembro de 2022, a 7 anos e 11 meses de prisão por tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Atualmente, cumpre pena na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO).
Fahd Jamil Georges
O traficante libanês com nacionalidade brasileira Fahd Jamil Georges atuava na fronteira entre Brasil e Paraguai, nas cidades de Ponta Porã (MS) e Pedro Juan Caballero (Paraguai). Ele é sancionado originalmente no âmbito da Kingpin Act, a Lei de Traficantes de Drogas dos EUA.
Também conhecido como “Turco” e “El Padrino”, é ligado a atividades de tráfico internacional, lavagem de dinheiro e corrupção de políticos da região de fronteira. Mesmo após prisões, continuou influente na região, sendo conhecido também como “Rei da Fronteira”. Após anos foragido, ele se entregou às autoridades paraguaias em 2020, dizendo que “o PCC está atrás de mim”.
Farouk Omairi
Sancionado na Magnitsky em razão da ligação com o grupo terrorista Hezbollah, o libanês com nacionalidade brasileira Farouk Omairi atuava na região de Foz do Iguaçu (PR), na tríplice fronteira com o Paraguai e a Argentina. Era considerado um operador no financiamento e comércio de armas na região.
Ele foi preso no Brasil em 2006, numa investigação da PF sobre a ligação entre organizações terroristas e facções criminosas. Segundo o governo americano, ele conseguia documentos falsos e cidadanias ilegais e colaborava com o tráfico de drogas operando rotas que conectavam a América do Sul à Europa e ao Oriente Médio.
Haytham Ahmad Shukri Ahmad Al-Maghrabi
Sancionado em 2021, Haytham Ahmad Shukri Ahmad Al-Maghrabi é investigado pelo governo americano sob acusação de fornecer apoio material, financeiro e tecnológico à Al Qaeda. Segundo o Tesouro norte-americano, Al-Maghrabi chegou ao Brasil em 2015 e era responsável pelo braço financeiro da rede no Brasil, facilitando operações de câmbio, movimentação de recursos e comunicação com núcleos do grupo no exterior.
Todas as suas propriedades, bens e interesses sob jurisdição americana foram bloqueados, o que, segundo o governo americano, comprometeu fluxos financeiros globais do grupo terrorista.
Kassem Mohamad Hijazi
Sancionado em 2021, Kassem Mohamad Hijazi é um cidadão brasileiro de origem libanesa que, segundo o Tesouro dos EUA, comandava uma poderosa organização de lavagem de dinheiro em Ciudad del Este, no Paraguai. O órgão diz que ele utilizava empresas de fachada e conexões com políticos, policiais e funcionários públicos paraguaios para garantir proteção e operar livremente na região da Tríplice Fronteira.
Com relações próximas com agentes públicos, evitava a ação policial, inclusive pagando propinas a autoridades locais. As atividades ilícitas incluíam o uso de empresas de importação e exportação para enviar mercadorias dos Estados Unidos ao Paraguai, revendendo-as no país e movimentando os lucros por meio de câmbios e bancos, inclusive com transferências para os Estados Unidos, China, Hong Kong e outros destinos. Foi extraditado para os EUA em 2022.
Leonardo Dias Mendonça
O traficante goiano Leonardo Dias Mendonça ficou conhecido nacionalmente por intermediar a venda de cocaína das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) para o também traficante Fernandinho Beira-Mar. Entre 2000 e 2018, mesmo preso, ele conseguiu comandar operações do tráfico de dentro da cadeia, segundo investigações da Polícia Federal.
Ele foi preso, pela última vez, em 2019, em operação que investigou o tráfico internacional de cocaína que saía da Bolívia, passava por Goiás e embarcava nos portos de Santos (SP) e Itajaí (SC) rumo à Europa. Na época, a PF apreendeu 15 carros de luxo avaliados em R$ 2,5 milhões, R$ 200 mil em espécie, em real e moedas estrangeiras, e uma aeronave usada no transporte da droga.
Mohamad Tarabain Chamas
Sancionado em 2006 na Magnitsky por ligação com o terrorismo, Mohamad Tarabain Chamas é apontado como operador do Hezbollah no entorno da Tríplice Fronteira. Nascido em Assunção, no Paraguai, também tem cidadania brasileira e libanesa.
O Tesouro dos EUA diz que ele administra um shopping em Ciudad del Este (Paraguai), que teria servido como centro de apoio logístico e financeiro ao grupo terrorista, por meio de remessas de dinheiro para o exterior. Chamas também teria atuado em operações de inteligência e segurança para o Hezbollah na região.
Mohamed Ahmed Elsayed Ahmed Ibrahim
Cidadão egípcio, Mohamed Ahmed Elsayed Ahmed Ibrahim chegou ao Brasil em 2018, onde obteve autorização de residência e situação migratória regular. De acordo com o Tesouro dos EUA, deu à Al Qaeda apoio financeiro, material e logístico. Em depoimentos à Polícia Federal, negou envolvimento com atividades terroristas, afirmando que as acusações teriam origem em sua posição política no Egito.
Há suspeitas de lavagem de dinheiro para o Comando Vermelho, por meio de empresas que ele possui em São Paulo.
Mohamed Sherif Mohamed Mohamed Awadd
Sancionado em 2021, Mohamed Sherif Mohamed Mohamed Awadd é um cidadão egípcio e nacionalidade síria, acusado de apoiar a Al Qaeda no Brasil. Segundo o Tesouro dos EUA, recebia transferências financeiras de outros associados do grupo e exercia papel relevante no gerenciamento de recursos ilícitos do grupo na América do Sul, além de atuar na falsificação de moeda.
Foi identificado como sócio de uma empresa de móveis em São Paulo que também foi sancionada por servir como fachada para suas operações.
Muhammad Yusif Abdallah
Sancionado desde 2006, Muhammad Yusif Abdallah é identificado pelo governo americano como líder sênior e importante financiador do Hezbollah na região da Tríplice Fronteira. Segundo o Tesouro, manteve laços próximos com a cúpula do grupo, viajou diversas vezes ao Líbano para reuniões com a liderança e era peça-chave no contato entre a rede na América Latina e o aparato central do Hezbollah.
Era dono e gestor de shopping em Ciudad del Este (Paraguai), considerado um polo de apoio logístico, operacional e financeiro ao Hezbollah no continente sul-americano. É investigado por suposto envolvimento em contrabando de eletrônicos, falsificação de passaportes, fraude com cartões de crédito e tráfico de dólares falsos.
Osama Abdelmongy Abdalla Bakr
Egípcio com cidadania brasileira, Osama Abdelmongy Abdalla Bakr foi sancionado na Lei Magnitsky em 2021 por fornecer apoio material, financeiro e tecnológico ao Estado Islâmico (ISIS). Segundo as investigações, em 2016, recebeu ordens de líderes do grupo para comprar armas leves e tecnologia antidrone no exterior.
Para isso, foi instruído a contatar representantes da Coreia do Norte em Brasília. Segundo o Tesouro americano, recebeu cerca de US$ 30 mil do ISIS para tentar comprar equipamentos militares, mas não conseguiu concluir as compras.
Fonte: Gazeta