O presidente Donald Trump intensifica esforços para organizar um encontro trilateral com Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky, numa tentativa de encerrar a guerra na Ucrânia que já dura três anos. A estratégia, porém, gera apreensão entre aliados europeus e na própria Ucrânia, que temem ser marginalizados nas negociações sobre seu futuro.
Na próxima sexta-feira, Trump e Putin se encontrarão no Alasca para discutir o conflito ucraniano. A ausência confirmada de Zelensky neste primeiro encontro levanta sérias preocupações em Kiev e nas capitais europeias sobre possíveis acordos feitos sem a participação ucraniana.
A ofensiva diplomática de Trump para um encontro trilateral e acabar guerra na Ucrânia
O vice-presidente dos Estrados Unidos, JD Vance, confirmou no domingo que a administração trabalha para viabilizar uma reunião que inclua os três líderes. Em entrevista à Fox News, Vance defendeu que Trump precisa ser uma “força decisiva” para superar o impasse histórico entre Moscou e Kiev.
“Putin havia declarado que nunca se sentaria com Zelensky. Aparentemente, o presidente Trump conseguiu mudar essa postura”, afirmou Vance, destacando o que considera um avanço diplomático significativo. O desafio agora está no agendamento e na logística para reunir os três líderes.
Reação de Zelensky: “nada sobre a Ucrânia sem a Ucrânia”
A estratégia americana, no entanto, encontra resistência. Zelensky foi enfático em suas redes sociais: “Questões relativas à Ucrânia devem ser decididas com a participação da Ucrânia”. O presidente ucraniano também acusou a Rússia de prolongar deliberadamente as hostilidades e tentar melhorar suas posições no campo de batalha para futuras ofensivas.
Aliados europeus temem marginalização
Sete líderes europeus, incluindo o presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler alemão Friedrich Merz, emitiram declaração conjunta reiterando que “o caminho para a paz na Ucrânia não pode ser decidido sem a Ucrânia”. Merz classificou como “inaceitável” que conversações sobre concessões territoriais ocorram “acima das cabeças dos europeus e dos ucranianos”.
O impasse das concessões territoriais
O cerne das discussões gira em torno de propostas territoriais extremamente sensíveis. A última proposta russa, apresentada por Steve Witkoff, enviado especial americano, em reunião de três horas com Putin em Moscou, chocou líderes ocidentais.
Segundo a proposta, a Rússia concordaria com um cessar-fogo em troca da cessão ucraniana de cerca de um terço da região oriental de Donetsk, ainda sob controle de Kiev. A linha de frente seria congelada em outros locais, incluindo Zaporizhzhia e Kherson, também reivindicadas por Moscou. Putin não reiterou demandas anteriores mais rígidas, como a desmilitarização da Ucrânia ou a substituição de seu governo.
Em resposta, potências europeias e a Ucrânia apresentaram contraproposta no sábado, durante reunião com autoridades americanas na Inglaterra. O plano europeu rejeita categoricamente a troca de partes de Donetsk por cessar-fogo. Exige que qualquer cessar-fogo ocorra antes de outras etapas e que trocas territoriais sejam recíprocas – se a Ucrânia se retirar de algumas regiões, a Rússia deve fazer o mesmo em outras.
Crucialmente, a proposta estipula que concessões territoriais ucranianas devem vir acompanhadas de “garantias de segurança inabaláveis”, incluindo potencial adesão à OTAN.
Zelensky descreveu a proposta russa como “um plano para reduzir tudo a discutir o impossível” e reiterou que a Ucrânia “não dará sua terra a ninguém”. O líder ucraniano afirmou categoricamente que não haverá cessões territoriais que não tenham sido decididas no campo de batalha.
EUA trocam ajuda direta na guerra da Ucrânia por venda de armas
Paralelamente às discussões diplomáticas, Washington sinaliza mudança significativa no financiamento da defesa ucraniana. Vance declarou que os americanos estão “fartos” de financiar diretamente a guerra.
“Estamos cansados de continuar enviando nosso dinheiro, nossos impostos, para este conflito específico”, disse o vice-presidente. Ele esclareceu, porém, que não há objeção à compra de armas americanas pela Ucrânia ou por aliados europeus: “Se os europeus quiserem se esforçar e comprar armas de produtores americanos, estamos de acordo. Mas não vamos mais financiar diretamente”.
A mudança segue acordo de julho entre a administração Trump e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), no qual aliados comprariam sistemas de defesa aérea Patriot, mísseis e munições de fabricantes americanos para ajudar Kiev. A nova política transfere a responsabilidade financeira direta para a Europa, mantendo os EUA como fornecedor de armamentos.
Enquanto a diplomacia avança em ritmo acelerado, a realidade no terreno permanece brutal. No domingo, bombardeios russos atingiram terminal de ônibus em Zaporizhzhia, ferindo 19 pessoas. Zelensky aproveitou o ataque para clamar por mais “sanções e pressão” contra Moscou.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, enfatizou que a reunião de sexta-feira será crucial para “testar Putin – o quão sério ele é em acabar com esta terrível guerra”. Vance previu que nem russos nem ucranianos ficarão satisfeitos com qualquer acordo final.
A diplomacia de Trump enfrenta o desafio de conciliar interesses profundamente conflitantes. A tentativa de forçar um encontro trilateral e a redefinição da ajuda americana testam a coesão ocidental e a real disposição de Moscou para a paz. A semana que se inicia será decisiva para o futuro do conflito, com o Alasca se tornando palco de uma das mais importantes manobras diplomáticas da era Trump.
Fonte: Gazeta