Dezenas de milhares de manifestantes saíram às ruas neste domingo (3) para dar apoio ao impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e para pedir a queda do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não pôde participar dos atos porque está cumprindo medidas cautelares impostas por Moraes. Lideranças de oposição comemoraram o grande comparecimento de público aos atos.
O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, comemorou o grande comparecimento da população. “Todos os eventos estão bombando, Brasilia, Bahia, Belo Horizonte. Todos os estados brasileiros. Jamais esperei que hoje tivessemos tanta gente para nos prestigiar”, afirmou em discurso para uma multidão na Avenida Paulista, em São Paulo.
“Eu participo das manifestações desde a primeira. Eu nunca vi a Paulista tão lotada quanto está hoje”, disse em discurso o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do PL na Câmara. “Alexandre de Moraes você vai pagar essa conta aqui na terra e vai pagar lá na eternidade com Deus”, afirmou.
Ele também deixou um recado aos Partidos Progressistas, União Brasil, PSD e Podemos. “Eu sei que nesses partidos tem muitos patriotas. Tá na hora de largar a canoa furada do ‘descondenado’ e vir para a oposição de vez. A esses partidos eu digo: não adianta largar a canoa furada em março do ano que vem. É agora, é em agosto. Abandonem o desgoverno e vamos fazer oposição para mudar o Brasil em 2026″, disse o líder.
O ato em São Paulo do movimento “Reaja Brasil” foi organizado pelo pastor Silas Malafaia. Cartazes e placas criticavam os ministros do STF e o presidente da Câmara Hugo Motta (Republicanos-PB) e os classificavam como “Inimigos da Nação”. As mensagens também pressionavam pela anistia aos presos do 8 de janeiro de 2023.
Em seu discurso, o deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP) se dirigiu ao público perguntando qual a semelhança entre Moraes e o Primeiro Comando da Capital (PCC). “Ambos são sancionados pelos Estados Unidos, pela Lei Magnitsky”, disse. O deputado também pediu por anistia para os condenados pelos atos de 8 de janeiro.
Moraes foi criticado por diversos oradores por ter feito um ato obsceno ao comparecer em um jogo de futebol no estádio do Corinthians nesta semana. A ofensa foi captada por um fotógrao do jornal Estado de S.Paulo e não ficou claro se era direcionada a torcedores. Em São Paulo, a multidão ecoou o brado “Fora Xandão!” e “Lula ladrão, seu lugar é na prisão!”.
Manifestações foram previstas para ao menos 37 cidades. Até o início da tarde de domingo a maiores concentrações de pessoas ocorreram em São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Brasília, Goiânia (GO), Belém (PA) e Salvador (BA). Organizadores confirmaram a realização de 30 atos.
O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) participou brevemente dos atos em São Paulo e em Belo Horizonte (MG) por meio de uma ligação de vídeo e áudio.
O deputado estadual por São Paulo, Lucas Bove (PL) lembrou e lamentou o falecimento do jornalista J.R. Guzzo.
O ato na Avenida Paulista marcou a convocação para novas manifestações. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e o pastor Silas Malafaia anunciaram, sem dar maiores detalhes, que a próxima manifestação será no 7 de setembro. “Avisa lá que aqui não acabou. A próxima vai ser no dia da independência. Um grito à liberdade. Brasil nas ruas e o povo no poder”, disse Nikolas em seu discurso.
VEJA TAMBÉM:
- Instituições ignoram gesto obsceno de Moraes enquanto ex-ministro de Bolsonaro foi investigado
- Placar mostra posição de senadores sobre impeachment de Alexandre de Moraes
“Jair Bolsonaro não pode falar, mas nós podemos falar por ele”, diz Feliciano
O deputado federal Marco Feliciano (PL-SP) destacou a impossibilidade de Jair Bolsonaro fazer parte do ato. “Ele não pode falar, mas nós podemos falar por ele. Estamos representando os dois maiores políticos do Brasil: Jair e Eduardo Bolsonaro”.
Moraes impôs medidas cautelates contra Bolsonaro que incluem o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de sair de casa nos fins de semana e de se manifestar em redes sociais. Por isso, o ex-presidente não pôde participar dos atos.
Feliciano também fez menção ao tarifaço imposto ao Brasil pelo governo dos Estados Unidos. “A culpa do que está vindo dos Estados Unidos não é de Bolsonaro, é do senhor Alexandre de Moraes porque ele insiste num revanchismo que não vai dar em nada. Ele não vai nos calar. Pode prender um, dois, dez, mas não podem prender o Brasil inteiro”, disse.
O deputado também deu ênfase a tentativa de enviar senadores para negociar as tarifas com o governo americano. “Só existe uma moeda de troca. Não adianta enviar senadores para os Estados Unidos. A moeda de troca já foi dada: é anistia já!”, finalizou Feliciano.

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) discursou lembrando as restrições impostas pelo STF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Tentaram calar um homem, levantaram milhões de vozes”.
Repetindo o gesto que fez em Belo Horizonte na parte da manhã, Nikolas mostrou o celular para a multidão. “Jair Bolsonaro não pode falar, mas pode ver”, disse o deputado durante ligação de vídeo para o ex-presidente.

Nikolas também aproveitou o pronunciamento para falar sobre o projeto de lei que prevê anistia para os presos pelos atos de 8 de janeiro de 2023, enviando um recado para o presidente da Câmara dos Deputados. “Presidente Hugo Motta, chegou a hora de dividir os meninos dos homens. Não brinque com a vida das pessoas presas injustamente e com penas proporcionais como um jogo político. E digo mais, eu não estou pedindo nem para você aprovar, porque você não tem esse poder. Nós só estamos pedindo: paute a anistia. O resto nós vamos fazer”, disse o deputado mineiro.
Malafaia pede fim do inquérito contra Bolsonaro, anistia já e que “Lula pare com asneiras”
Um dos discursos mais enfáticos da tarde foi o do pastor Silas Malafaia. Entre os pontos destacados pelo idealizador do movimento “Reaja, Brasil”, houve o pedido pelo fim do inquérito sobre a suposta tentativa de golpe de Estado, que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro. Malafaia também pediu por anistia e disse que o presidente Lula precisa “parar de falar asneiras e atacar o sistema econômico mundial”.
Em entrevista concedida à Gazeta do Povo, Malafaia avaliou positivamente o evento. “Líder movimenta o povo mesmo não estando presente. Quem faz isso no país?”, disse ao se referir a Bolsonaro. O pastor ainda disse que a ato foi uma resposta do povo contra as “atitudes arbitrárias de Alexandre de Moraes, apoiadas por parte do STF por Lula, que quer esconder as mazelas do seu governo”.
Ainda na entrevista, Malafaia disse que “o que está por vir pode abalar o sistema financeiro brasileiro”, se referindo a possibilidade de o STF desobrigar os bancos a cumprir as sanções impostas contra Moraes pela Lei Magnitsky. O caso foi remetido ao STF por meio de uma medida cautelar apresentada pelo líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ) e representa uma tentativa dos petistas de blindar Moraes contra as sanções impostas pelos Estados Unidos. “O novo cenário ainda está por vir. Se eles continuarem dobrando a aposta, ainda não aconteceu nada”, completou Malafaia.
Em seu discurso na Avenida Paulista, Malafaia destacou a articulação de lideranças petistas que, entre 2016 e 2018, recorreram a cortes internacionais e Parlamentos, como o Europeu, para fazer denúncias contra o Brasil. Nesta época, Lula, enfrentava processos por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato e acabou sendo preso em julho de 2017.
Malafaia destacou que o então advogado de Lula e hoje ministro do STF, Cristiano Zanin, foi uma das figuras que esteve na Europa para dizer que a justiça brasileira perseguia Lula. Também destacou que as movimentações ocorriam contra juízes e decisões da primeira instância da Justiça. “Ainda tinha a segunda instância, tinha como recorrer ao STF. Eduardo Bolsonaro foi à América para denunciar o STF, onde ninguém tem direito a recorrer a mais nada”, destacou o pastor após destacar que esses casos derrubam “a falácia de que Eduardo Bolsonaro é um traidor da Pátria e inimigo do Brasil”.
Diante da ausência de presidenciáveis no ato deste domingo, o pastor, responsável pela idealização e organização do evento, indagou a multidão onde estariam as “opções para o lugar de Bolsonaro”. “Fica provado que Bolsonaro é insubstituível. Vão enganar trouxa e eu não sou trouxa. Estão com medo do STF, né? Por isso que não chegaram até aqui? Arrumaram desculpa, né?”, disse Malafaia em tom provocador.
Malafaia ainda disse que os culpados pelo tarifaço imposto pelos Estados Unidos contra o Brasil são o presidente Lula, em especial por ter se aliado a nações como o Irã, a China e a Rússia, e o ministro Moraes, a quem o pastor chamou de “criminoso”. Para justificar o adjetivo usado para Moraes, Malafaia listou dispositivos da Constituição que estariam sendo infringidos pelo ministro, destacando dentre eles, a censura imposta a perfis nas redes sociais.
Manifestantes classificam ações de Moraes como “injustas” e pede anistia
O empresário José Veloso Meneses, 63, chegou cedo, junto com sua esposa, Carmem Meneses, para pedir liberdade de expressão. Meneses classificou as ações do ministro Alexandre de Moraes como “injustas” e disse acreditar que as sanções do presidente dos Estados Unidos Donald Trump contra o magistrado podem motivar o Congresso a reagir. “Quero que o STF siga a Constituição”, afirmou Meneses. “As sanções podem trazer um despertar para o Senado, para Câmara e para o próprio Judiciário”, disse.
A professora aposentada Paula Marsocchi, 71, também compareceu ao ato para defender a anistia dos presos pelo 8 de janeiro. A docente criticou Moraes por fazer um gesto obsceno durante o jogo do Corinthians. O magistrado foi vaiado por torcedores na última quinta-feira (31) enquanto acompanhava a partida contra o Palmeiras no Neo Química Arena, na noite da última quarta-feira (30).
“Um juiz que mostra o dedo do meio não merece esse lugar no Supremo. Mas acredito que as sanções podem mudar o comportamento dos ministros. Se não mudar, o Brasil vai virar uma Venezuela. Se as injustiças continuarem, as sanções vão aumentar e eles vão recuar com mais sanções, temos esperança, por isso que nós viemos aqui”, disse a aposentada.
Norma Oliveira de Almeida Ferreira, 38, compareceu ao ato para pressionar a votação do impeachment de Moraes. Além de manicure, Norma é mãe e disse temer que o Brasil vire uma ditadura diante das ações do Supremo. “Vim lutar pelo futuro da minha filha, pela liberdade de ir e vir e de se expressar como quiser, expressar as nossas convicções. Já vimos nossos vizinhos virarem ditaduras e, se não fizermos agora, não vai ter mais o que fazer, precisamos arrebentar as algemas”, disse a manicure.
Além de Moraes, Norma também defendeu a saída de Lula da Presidência e a anistia pelos presos do 8 de janeiro. Ao comentar as sanções de Trump, a manicure disse que, embora Moraes tenha dito que seguirá os trabalhos normalmente, o magistrado já sentiu a pressão e deve mudar as ações, mas a longo prazo.
“As sanções já estão mudando, só de ver a fisionomia de Moraes, está abatida. É tudo no seu tempo, ele já está sentindo e esse movimento hoje vai pressionar ainda mais ele. Imagino que o cenário vai piorar, ele não vai levantar a bandeira agora, vai lutar e mostrar que ele é o cara, mas vai chegar o momento que ele vai ver que não tem mais jeito. Vai chegar no grande dia e ele vai reverter todo esse poder. Ele não é um rei, não é o dono do Brasil nem do mundo, Moraes vai se colocar no lugar dele conforme as decisões de Deus, que vai usar os seus filhos”, completou Norma.
Multidão tomou Avenida Atlântica em Copacabana

Na Avenida Atlântica, na orla de Copacabana, entre os milhares de manifestantes que se reuniram neste domingo, duas presenças de destaque: o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro. O parlamentar carioca afirmou, em entrevista ao site Metrópoles durante o evento, que a sanção imposta pelo governo americano a Alexandre de Moraes é uma “vergonha brasileira”.
“A gente é muito grato pelas pessoas que, mais uma vez, estão nas ruas para lutar pelo país. O que tem acontecido no Brasil é fruto de toda perseguição de Alexandre de Moraes, que, para a vergonha brasileira, é uma autoridade sancionada pela maior democracia do mundo”, afirmou o filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Michelle lidera ato em Belém

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, líder do PL Mulher, liderou o ato em Belém, dizendo que neste domingo se comemora o “fim da censura no Brasil”. “Que as manifestações de hoje reacendam o vigor brasileiro para recuperarmos nossa liberdade e acabar com o avanço da censura no Brasil”, disse do carro de som.
“Aqui em Belém, pude sentir toda a emoção e vibração positiva do povo do Norte. Belém tem o mesmo nome da cidade em que Jesus, a nossa Esperança e Salvação, nasceu! Aqui, e em todas as cidades brasileiras, nasce, hoje, a reação a todas as injustiças praticadas pelo atual governo – o governo do sistema. Reaja, Brasil!”, completou.
“Estaremos aqui falando por Bolsonaro”, diz Gayer em ato em Goiânia
Em Goiânia, o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) lembrou que há anos não via a Praça Tamandaré tão cheia e atribuiu a pouca participação em outros atos ao “medo da ditadura do Judiciário”. “Moraes, o povo de Goiânia tem um recado pra você: o tempo do medo acabou. O tempo de submissão não existe mais. O Brasil voltou pra rua”, disse Gayer se referindo ao ministro do STF. O deputado também falou que Bolsonaro estaria acompanhando as manifestações. “Capitão, podem ter tirado a sua voz, mas nós estamos aqui falando por você”, completou.
Fonte: Gazeta