Faltando apenas 100 dias para o início da COP-30 de Belém, 25 países negociadores, incluindo nações desenvolvidas como Canadá, Suécia e Holanda, assinaram um documento oficial pedindo a transferência total ou parcial da conferência climática da ONU para outra cidade devido aos preços exorbitantes de hospedagem na capital paraense. Cotações mostram valores até 15 vezes maior do que o cobrado normalmente.
O evento, que deve receber cerca de 50 mil participantes em novembro, enfrenta sua maior crise logística com a disparada de preços, além de dúvidas sobre a segurança das delegações. De acordo com o a carta, que teve trechos divulgados pela Folha de S. Paulo nesta sexta (1º), os países negociadores pedem garantias reais ao Brasil para participarem da conferência.
“[Ter condições de participar] significa ser possível viajar para Belém, ficar em acomodações adequadas e acessíveis, e ir ao pavilhão e voltar de forma segura e eficiente em termos de tempo, inclusive tarde da noite”, diz trecho do documento.
VEJA TAMBÉM:
-
EUA podem impor 8 tipos de sanções ao Brasil se o governo Lula decidir retaliar
A carta é endereçada tanto à organização brasileira quanto à UNFCCC, braço climático da ONU, assinada por coletivos como o Grupo de Negociadores Africanos e o Países Menos Desenvolvidos (LDC, na sigla em inglês), até países ricos europeus como Áustria, Bélgica, Finlândia, Noruega e Suíça.
Em resposta aos grupos, a secretaria-extraordinária da COP-30 confirmou o recebimento da carta e afirmou que “não há possibilidade” da conferência ou parte dela “acontecer fora de Belém”.
A realização da COP-30 em Belém é uma das principais bandeiras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em parceria com o aliado Helder Barbalho (MDB-PA), governador paraense. O objetivo deles é – segundo disseram reiteradas vezes – levar os líderes mundiais para discutirem a floresta amazônica nela própria, e não mais em locais distantes, como as grandes capitais que costumam receber eventos estrangeiros.
Uma reunião de emergência foi convocada pela UNFCC na última terça (29) e deu um prazo até o dia 11 de agosto para o Brasil apresentar soluções concretas.
“O Brasil tem muitas opções para termos uma COP melhor, uma boa COP. Por isso estamos pressionando para que o Brasil forneça respostas melhores, em vez de nos dizer para limitar nossa delegação”, declarou Richard Muyungi, presidente do Grupo de Negociadores Africanos, à agência Reuters.
Já o presidente da COP-30, André Corrêa do Lago, admitiu na quinta (31) que alguns países solicitaram formalmente a não realização da conferência em Belém. “Acredito que talvez os hotéis não estejam se dando conta da crise que eles estão provocando”, declarou.
“De fato, os preços de Belém estão completamente abusivos, mais de dez vezes e até 15 vezes, em vários casos, o valor que os hotéis normalmente cobram [na cidade”, emendou.
Desde o anúncio de Belém como sede, os preços hoteleiros explodiram na cidade. Diplomatas participantes da reunião apresentaram orçamentos para tarifas de cerca de US$ 700 por pessoa por noite.
A organização brasileira busca alternativas emergenciais, incluindo apurações sobre práticas abusivas do setor hoteleiro, mobilização de Airbnb, escolas, habitações do programa Minha Casa Minha Vida e até navios de cruzeiro para resolver o déficit de leitos.
Com atraso, o governo lançou plataforma oficial de hospedagem restrita aos países participantes, oferecendo quartos por até US$ 220 dólares (R$ 1.225) para nações em desenvolvimento. Cada delegação de países menos desenvolvidos terá direito a 15 quartos por até US$ 200, enquanto outras delegações podem reservar 10 quartos por até US$ 600, totalizando 2,5 mil acomodações.
Os países signatários consideram insuficiente e pedem diárias de até US$ 164 (R$ 918) próximas ao Parque da Cidade, onde funcionará o pavilhão principal das negociações. A carta critica ainda a sugestão de divisão de quartos para reduzir custos e alerta que a sociedade civil precisa ter participação garantida no evento.
“Se essas condições não forem atendidas para todos que precisam estar em nossas negociações multilaterais, não teremos chance de chegar a um resultado de sucesso”, adverte o documento.
Fonte: Gazeta