A Organização dos Estados Americanos (OEA) para o Monitoramento e Combate ao Antissemitismo, através de seu comissário, Fernando Lottenberg, afirmou nesta sexta-feira (25) que a retirada do Brasil por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), na qual atuava como membro observador desde 2021, “é um equívoco em meio à tensão diplomática com Israel”.
“A definição de antissemitismo da IHRA representa um importante instrumento que, apesar de não ter valor jurídico vinculante, é adotado por mais de 45 países e 2.000 instituições em todo o mundo para informar, identificar e combater o antissemitismo”, afirma Lottenberg.
Para o comissário, é legítimo o governo brasileiro criticar atitudes do governo israelense na Faixa de Gaza, “assim como pode haver discordâncias diplomáticas”. Entretanto, “esses fatos nada têm a ver com o trabalho de extrema relevância da IHRA”.
A instituição se descreve como “única organização intergovernamental com um mandato focado em abordar os desafios contemporâneos relacionados ao Holocausto e ao genocídio dos ciganos. Promovemos a educação, a memória e a pesquisa sobre o que aconteceu no passado, para construir um mundo sem genocídio no futuro”. Atualmente contam com mais de 30 países-membros, incluindo os Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França e Itália.
“O Brasil tem a segunda maior comunidade judaica da América Latina e estar integrado à IHRA é uma forma de mostrar comprometimento com a cultura de paz e com a promoção da educação, por meio da pesquisa e lembrança do Holocausto em todo o mundo, motivos que fundamentam a criação da organização intergovernamental desde 1998”, afirma.
Para Lottenberg, um dos pilares da IHRA é a “definição de antissemitismo”.
A decisão do governo de Lula veio um dia após o Itamaraty anunciar a entrada formal do Brasil na ação movida pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça das Nações Unidas (ONU), na qual, o país africano acusa autoridades israelenses de cometerem um “genocídio” contra o povo palestino.
Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou que “a decisão do Brasil de se juntar à ofensiva jurídica contra Israel na CIJ [Corte Internacional de Justiça], ao mesmo tempo em que se retira da IHRA [Aliança Internacional para a Memória do Holocausto], é uma demonstração de uma profunda falha moral”.
“É o governo mais antissemita desde a Era Vargas”, afirma especialista
Em entrevista à Gazeta do Povo, Daphne Klajman, especialista em antissemitismo e coordenadora acadêmica do Hillel Rio, afirmou que concorda com o posicionamento da OEA e destaca que “o presidente, ao remover o Brasil da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto, revela finalmente e sem ressalvas que este é o governo mais antissemita do Brasil desde a Era Vargas”.
“Ao tomar essa decisão, ele fere a memória de 6 milhões de judeus que morreram no Holocausto e também o respeito e a herança dos 120 mil judeus que moram no Brasil, uma das maiores comunidades judaicas do mundo hoje em dia”, afirma Klajman.
“Muitas pessoas são antissemitas não acreditam que são, como por exemplo o presidente atual do Brasil”.
A especialista explica que a “Aliança em Memória do Holocausto não existe para diminuir o direito de expressão de ninguém, muito pelo contrário. O objetivo dela é definir o antissemitismo, para que a gente entenda exatamente como esse ódio é utilizado no mundo pós-holocausto para criminalizar a vida judaica, que foi exatamente isso que foi feito durante o nazismo”.
Para ela, atualmente, “muitas das críticas a Israel não são feitas para melhorar o governo ou reivindicar direitos humanos e sim para criminalizar a existência do estado de Israel e por consequência a existência do judeu, tanto judeu lá quanto judeu no Brasil e no resto da diáspora”.
“AIHRA existe justamente para delinear o que é crítica e o que é criminalização da vida judaica, ou seja, antissemitismo. Quando a gente retira a definição Aira, a gente retira a definição desse termo, então tudo pode ser ou não ser antissemitismo, depende do critério de cada um”.
Para Klajman, Lula tira o Brasil da IHRA “para poder seguir fazendo todas as proclamações que ele tem feito nos últimos anos, utilizando a memória do Holocausto para espalhar mais antissemitismo no Brasil e causar mais ainda essa inflamação do ódio refletido em um aumento de mais de 200% de acordo com as pesquisas da Conib”.
“É o que o Itamaraty tem feito, acusando Israel de todos os crimes de guerra, sejam eles reais ou não, baseados na memória do que o povo judeu mais sofreu, o holocausto. É um ato claro e explícito de antissemitismo do presidente”, conclui.
Fonte: Gazeta